sábado, 8 de agosto de 2009

O Reino do Apocalipse

Capítulo II – Uma nova Esperança

A escuridão permanecia, mas ele ainda podia ouvir alguma coisa.

Sons dispersos, a voz de uma criança. O som de algo sendo arrastado.

E a escuridão.

Cheiro de velas.

E a escuridão.

E de flores.

Pensou “Acho que eu morri mesmo”.

Palavras desconexas.

E a escuridão.

---§---

A escuridão começou a se desvanecer.

A dor não existia mais.

O som agora era o de alguns pássaros cantando ao longe.

Pensou “Ahn... É o paraíso, mesmo...”.

Abriu os olhos, e se decepcionou ao ver a mesma construção de madeira, aonde tinha caído, e sangrado.

Olhou de um lado, e viu a mancha já ressecada de sangue.

Procurou pelo ferimento, e encontrou uma grande cicatriz que seguia por todo seu lado esquerdo. Sinal de que esteve desacordado por muito tempo. Mas quanto?

Olhou para a sua direita, e havia um prato com frutas, e uma garrafa de barro, que continha água.

“Hora de assustar o fígado”, pensou.

Enquanto comia, começou a se indagar sobre quem o havia tratado, costurado, e alimentado. Certamente, nenhum dos assassinos ou criaturas que havia encontrado no caminho até ali. Se bem que... Onde era ali?

Tentou se levantar, mas viu que seria um pouco mais complicado. O corte havia cicatrizado, mas ele ainda não podia se mexer.

Fechou os olhos, tentando novamente se lembrar de como chegara ali. Foi interrompido pelo som da porta se abrindo.

Uma criança negra, de cabelos bem curtos, e roupas coloridas apareceu, e disse:

- Bom dia, mister. Consegue se levantar?

- Ainda não – respondeu – Mas acho que antes de qualquer coisa, eu deveria lhe agradecer por ter cuidado de mim. Quanto tempo fiquei apagado?

- Cerca de alguns meses, mister.

- MESES!?!

Ela riu.

- Não mister, estou apenas brincando. Você ficou cerca de 3 semanas dormindo.

- Mas... Como já posso ter cicatriz? Com um corte desse tamanho ainda?

- Digamos que você tenha uma boa saúde, e que eu dei uma pequena contribuição também. – Disse ela, piscando com o olho direito e apontando para uma mesa aonde havia um kit médico e algumas ervas.

- Você me costurou?!?!

- Sim, mister.

- Aonde aprendeu?

- Bem, são perguntas demais para quem acabou de acordar. Descanse, e mais tarde conversaremos.

Christian concordou, mas ainda não entendia muita coisa.

Deitou-se e dormiu.

---§---

Acordou ao anoitecer.

Começou a se lembrar de como havia conseguido aquele ferimento.

Ele tinha passado por uma pequena vila, no sul da França.

Não havia ninguém lá.

Encontrou apenas um homem, que tirava um pedaço de pão de uma criança e batia nela.

Ele matou aquele homem.

O pedaço de pão estava agora no chão.

A criança sorriu pra ele, e parecia agradecer.

Uma daquelas criaturas surgiu do nada. Pegou o pão, esfarelou-o.

Christian apontou sua arma para a criatura.

Outra criatura surgiu. Torceu de uma única vez o pescoço do garoto.

Christian atirou no primeiro, mas quando foi se virar para atirar no segundo, recebeu o que parecia uma punhalada no seu lado esquerdo.

Atirou e acertou o segundo.

Outros começaram a surgir.

Christian continuou atirando.

Mas as balas acabaram.

Saiu correndo, sem olhar para trás.

---§---

Sentiu um pequeno calafrio, e notou que a porta havia sido aberta novamente.

A menina negra surgiu, trazendo mais frutas e água.

- Sente-se melhor, mister?

- Um pouco. Mas gostaria de entender algumas coisas. Podemos conversar agora?

- Claro, mister. Mas antes, coma.

Junto com as frutas, desta vez, ela havia trazido um pequeno pedaço de pão. Novamente, Christian lembrou-se do garoto que havia morrido.

Acabou de comer, e já se enchia de perguntas, quando a menina disse:

- Não tão rápido, mister. Deite-se e descanse.

- Eu vou descansar. Mas quero que você me responda algumas coisas.

- Pois bem. O que quer saber?

- Primeiro, como uma menina da sua idade conseguiu me costurar desse jeito?

- Campanhas da Cruz Vermelha, mister. Como deve saber, na África, muita gente é mutilada, esfaqueada, e etc. Uma das primeiras coisas que se aprende a fazer é isso.

- Hmmm... Mas mesmo assim, você é muito nova.

Ela sorriu, mas não respondeu.

Ele assumiu que ela não era exatamente uma criança, apenas uma mulher... Digamos... BEM pequena.

- Outra coisa, não me chame de mister. Eu tenho um nome.

Ela sorriu novamente, e disse:

- Por acaso seria Christian?

Ele arregalou os olhos:

- COMO SABE?

- Está escrito na sua identidade – ela sorriu novamente.

Ele se sentiu um idiota.

- Ok. Esqueça. E você, tem um nome?

- Tenho sim, mis... Quer dizer, Christian. – Disse ela, sem tirar o sorriso do rosto.

- Bem... E qual é?

Ela silenciou por alguns momentos. Como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa. Christian não entendeu. “Será que ela não lembra o próprio nome?”

Ela voltou a abrir seu sorriso.

- Meu nome, Christian... É Hope.




"Meu nome é Hope..."

3 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Ja. Ele pensou que escaparia assim, tão facilmente, de seu karma?

Adriane Schroeder disse...

Cada vez mais envolvida por teus contos!

Nanael Soubaim disse...

Bicho, cadê a patota? Já estou com grilo na cuca, amizade.