Pois é, minha gente, o sol que aquecia nossos pais não é o mesmo. Não dá mais para sair incólume de um topless em plena luz do dia, como as rebeldes dos anos 1960 faziam. Alegria de uns, tristeza de outros.
Os meios de comunicação estão cheios de informações ás quais quase ninguém dá o devido valor, câncer de pele e outras bodeguitas dermatológicas se incluem. Aqui um site interessante a respeito. É muito desconfortável admitir que nosso estilo de vida pode ser perigoso, mas se convencer de que não existe não imuniza ninguém. É como dizer que dst só pega em homossexual. Os cromossomos são os mesmos, as doenças que afetam um grupo rondam os outros sem pedir licença. Não é por atacar primeiro a superfície que o câncer de pele seria inofensivo, é câncer como qualquer outro e com esse negócio não se brinca.
Hoje se toma banho de sol até as 10h e após as 16h sem grandes preocupações, aproveitem que depois pode piorar. Não adianta ir à praia e só ficar debaixo do guarda-sol, os raios ultravioletas são refletidos pela areia e vão te assar de baixo para cima. Onde não há praia os vidros dos carros e das lojas fazem o serviço. Não pensem que o ventinho refrescante resolve o problema, ele o mascara, tu se queima sem perceber. Os bandidos não são mais o maior perigo de se andar displicente pelas ruas. A polícia pode correr atrás de um meliante, mas o sol está fora da jurisdição.
Não são só as pessoas, as coisas também sofrem, especialmente as de madeira e plástico. São materiais orgânicos, como nossos corpos, com a desvantagem de não se regenerarem. Por isto é melhor pagar um pouco por uma garagem coberta do que ter que morrer na grana de uma raspagem com repintura do carro. Isto sem falar no painel, que por motivos de custos e segurança é de plástico. Infelizmente a maioria é de plástico bem ordinário. Também as lanternas, que se fossem de vidro tornariam qualquer esbarrão potencialmente letal, os pneus que contém muito látex, pára-choques, enfim. Nem adianta raspar a lataria, que vira pó de ferrugem em três tempos, a radiação ultravioleta aquece e acelera as reações químicas, principalmente de oxidação.
Mas nem tudo está perdido, ainda. Aquelas películas escurecidas que chegaram a ser perseguidas pelas autoridades, além de aumentarem a segurança do vidro também filtram boa parte da radiação. Dependendo da qualidade, dá para tomar banho de sol dentro do carro sem medo. São quase todas feitas de pvc, que é composto 57% de cloro, o que o torna um plástico semi-orgânico. Muito resistente à radiação, mas não imune, então não abusemos.
Também existem tintas bem resistentes, um tanto mais caras, mas também mais duráveis, demoram mais a descascar ou perder a tonalidade. Já é bem mais comum do que há trinta anos ver casas e carros com um lado mais vivo do que o outro. Vernizes com filtros solares já são populares, vale à pena não precisar refazer o revestimento.
Pois o que o ultravioleta faz com a tinta, faz também com a nossa pele, só que em nós dói. Para os que já torraram uma baba comprando tevê digital, para depois descobrir que precisa da antena digital e gastar mais dinheiro com esta, devem ter percebido que muitos artistas são uma tragédia sem a maquiagem. Lembremos que a maioria dos mais famosos mora no litoral ou proximidades. Gente que ganha a vida vendendo sua imagem se parecendo com uma toalha de mesa onde respingaram óleo quente, enquanto aquela moça do balcão, com bem pouco tempo para sair durante o dia, tem uma pele de pêssego, sem gastar os tubos com tratamentos. Esses artistas abusaram do sol. Não adianta tomar banho de protetor solar fator 150 e acreditar que o perigo não existe, é como vestir um colete à prova de balas e se considerar imortal.
Não que se deva abrir mão da praia ou piscina, para os que gostam, mas os dermatologistas já estão carecas de avisar que há horários mais próprios, que sol demais não causa só câncer de pele, também estraga e envelhece mais cedo; rugas, manchas, erupções, espinhas, cravos e outras cousas de nomes complicados que só médico para falar a respeito. Já estão tão cansados de falar, que em breve apelarão para a claque, olhando o paciente com a cara mais blazé do mundo enquanto a gravação roda. Tomar sol na medida certa só faz bem, inclusive para a aparência, mas a medida certa varia muito entre pessoas e cor natural de pele. Não precisa dizer que aquela amiga branquela pode tirar o cavalinho da chuva. Aqui um boletim diário dos índices de radiação ultravioleta na sua região, caso more no Brasil, se não, sorry, consulte o serviço meteorológico do teu país.
A pigmentação não é um recurso estético, é uma resposta da pele à agressão solar. Ficar bronzeado em pouco tempo, portanto, não é prova de saúde, pode ser doença séria. Ganhar cor em uma temporada em uma região ensolarada é muito diferente de se tostar ao sol para entrar na moda. Parecer um tijolo, desculpem, nunca foi bonito. Ficar acanelado pode ser bonito.
Ficar com a cor da canela não é para qualquer um nem combina com qualquer rosto. Primeiro porque é preciso ter uma predisposição genética à boa produção de melanina, ela precisa aparecer rapidamente antes que a pele queime e pareça velha; Segundo porque não é uma cor duradoura em quem não nasceu com ela, um dia de volta à rotina e a tonalidade vai esmaecendo; Terceiro porque é uma cor visualmente agressiva e pesada, é preciso um rosto de traços joviais e suaves para não ficar esteticamente ruim. Um rosto tipicamente europeu com esta cor é geralmente um desastre.
Ao contrário do que muitos pensam, negros não são imunes. Dão um baile de liberdade ao sol, mas também estão sujeitos ao câncer de pele e ao envelhecimento precoce. A sorte deles é terem peles espessas, bem estruturadas, que resistem muito mais antes de perderem o viço. Mas um dia perdem. Então, patota, bloqueador solar para vocês também. Entendeu, Vincié?
O maior equívoco, especialmente no alto verão, é botar as pernas de fora e o busto ao sol em plena luz vespertina. Fiotes, roupa curta refresca à sombra ou se o sol for suave. No caldeirão tropical em que vivemos é quase um suicídio. A evaporação facilitada dá a falsa sensação de frescor, que na verdade é desidratação acelerada. Não só o calor, mas mais uma vez a radiação ultravioleta resseca o corpo, começando pela pele, a tendência é te transformar em um croquete. Não ria, não estou brincando. É muito sério. Na Europa existem relatos de óbitos por causa de desidratação, não pensem que aqui seria diferente, aqui é daí para pior.
Roupa curta tem os mesmos horários que o banho de sol, entre as dez e as dezesseis se usa roupa longa e confortável, preferencialmente de cor clara, recido macio e de mangas. Se tiver manga longa, melhor. O ideal seria voltar à moda dos anos 1940, mas se eu for propor isto, enfiam a mão pelo monitor e me estrangulam, feito desenho animado. Mesmo com roupagem adequada, não se pode dispensar o uso de um bom bloqueador solar. Embora bem menos, a ultravioleta é muito potente e atravessa a maioria dos tecidos, fora que os reflexos de uma cidade a mandam directo para o teu rosto, cabelos, orelhas, enfim, te assam apenas com menos intensidade. A roupa confortável, clara e longa reduz a temperatura, reduzindo os riscos de ressecamento e da antecipação das rugas.
Olhando por este ângulo, a burca até que teria razão de ser, não fossem questões culturais tão explosivamente misturadas às religiosas, ainda mais em alphabetos desprovidos de vogais. Mas aquelas roupas tachadas de caretas, antiquadas, pratrazax, são as melhores para enfrentar o sol, quando de cores claras e fios naturais na composição do tecido. Se for tudo sintético e escuro o tiro sai pela culatra, vai te cozinhar no vapor.
Ah, vamos lá, levantem essas cabeças. Não é o fim do mundo, ainda. Enfrentar a vida nestes tempos bicudos não é impossível. Vamos lá...
- Principalmente no verão, esqueça os fios totalmente sintéticos, a não ser que queira gastar uma fortuna em tramas especiais aeroespaciais, mas sempre de tecidos bem fechados. Prefira sempre os tons claros, mais para pastél;
- Com o sol a pino o chapéu deveria voltar à voga, de modo perene, porque os cabelos também são um tipo de plástico biológico, sofrem muito, especialmente os ruivos. Cubra a cabeça o quanto for possível, de quebra a testa também será preservada;
- Filtro e bloqueador solares devem ser tão comuns e utilizados quanto as maquiagens, dê preferência às que já vêm com algum factor de proteção solar, te custam menos do que um tratamento dermatológico. Se tua pele é oleosa, como a minha, use os em forma de cremes, ou a acne fará a festa e vais se parecer com um ralador de queijo;
- Não precisa abandonar as roupas curtas. A radiação ultravioleta não é instantânea. Sair ao sol por alguns segundos, apenas atravessar a rua ou descansar na varanda não transforma ninguém em um pimentão. Bom senso, sempre;
- Vento refresca, mas não bloqueia a luz do sol. Não se iluda com o conforto de uma brisa em pleno verão, é como o morcego que abana enquanto suga;
- Acordar cedo aumenta o aproveitamento do dia, prolongando o usufruto dos horários salutares. Nem todos podem, por trabalhares e estudarem até mais tarde, mas a maioria pode. Há quando tempo vocês não vêem o sol nascer?
Dá para se levar a vida até consertarmos o estrago que nós fizemos à atmosphera, o que não levará menos de cinqüenta anos se começarmos agora. Só devemos lembrar que os prazeres litorâneos que nossos pais e avós tiveram não se aplicam totalmente a nós, talvez aos nossos netos. Aos que se dispuserem a enfrentar o mundo debaixo de muito pano, eis aqui uma página que encontrei no decorrer deste texto, com modelos de várias décadas.
Não pensem que a natureza é uma inimiga, ela tem seu ciclo e nós, que dependemos e fazemos parte dela, devemos nos adaptar. Adapte-se aos novos tempos.
4 comentários:
Dicas de moda e beleza num só texto!
Muito bom, Nanael!
Bom texto, muito importante o alerta sobre horários, proteção e mais ainda sobre os estragos que o sol consegue causar em madeiras, por exemplo. Faz com que o alerta sobre nossa pele atinja de uma forma mais forte os leitores!
"Moda e beleza"... A intenção era mais um alerta sanitário para os leigos, mas se fizer o efeito desejado, está valendo.
É o que eu pretendia, Nina. Deixe um pedaço de ripa de caixote exposto ao sol durante todo o verão e verá o que eu disse.
Sim, sim!
Você conseguiu trabalhar o tema com muita leveza, o que não é nada fácil.
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