Eles estão voltando! |
Em um país onde poucos se lembram em quem votaram nas últimas eleições, é difícil conceber um programa de televisão que dure trinta e cinco anos consecutivos, ainda mais sem ter negligenciado suas origens e fazendo sucesso com um público sem idade certa. Desde os bebês, que gostam das cores e do jeito de brinquedo tosco, até os mais velhos que se lembram de como eram bons os programas, antes que politicamente correctos e incorrectos começassem a se engalfinhar.
Nascido em Leland, Mississipi, em 24 de Setembro de 1936, Jim Henson (here) mudou-se com a família ainda criança para Maryland, onde conheceu e se apaixonou perdidamente pela televisão. Em 1954, universitário, conseguiu emprego na tevê, como manipulador de bonecos, que também criou e logo foi chamado para a rede ABC. Em 1969 foi convidado a participar do projecto Vila Sésamo, onde a paixão só fez aumentar.
Foi para a Inglaterra, onde realizou o sonho, que tinha desde vinte anos antes, de fazer um programa só com seus bonecos em 1976: The Muppets Show. Eis a página deles aqui. Jim faleceu em 16 de Maio de 1990.
Seus personagens (aqui, no maravilhoso Mofolândia) atravessam gerações e fazem um tremendo sucesso até hoje, mantendo uma das poucas ilhas de politicamente equilibrado que restam na cultura mundial, especialmente a pop. Apesar de todos os erros e falta de recursos, que hoje abundam para quem não sabe se valer deles, as gerações que viram esse programa cresceram sem acreditar que um índio dormindo no ponto de ônibus é lenha de fogueira.
Nós aprendemos a ter humor, não forçar achar graça de humorista que pisa no cimento como se fossem ovos, nem em idiotas que são deliberadamente ofensivos; humor é tragédia mais tempo, não pisar na dignidade alheia. Quem não conhece este equilíbrio não deveria sequer pisar em um palco.
Talvez este equilíbrio em fio de navalha seja um dos maiores motes dos Muppets. Dá para confiar as crianças á televisão, quando eles estão na tela; dá para ligar quando há adolescentes em casa, sem medo de eles chiarem; dá para reunir os amigos adultos e ver o programa, para rachar de rir. A linguagem é universal, simples e eficazmente universal.
Claro que o tempo passou, novos temas precisaram ser abordados e a tecnologia não poderia (como não o foi) ignorada. Novas técnicas de manipulação, edição de imagens e computação graphica são utilizadas. Mas não para preencher lacunas, são utilizadas para fazer tudo parecer ainda mais engraçado e nonsense. A intenção original do programa é mantida, educar as crianças como elas gostariam de ser educadas. Dar-lhes noção de civilidade sem fazer a vida adulta parecer chata, ao contrário do que os incompetentes descartáveis vivem pregando. Mostrar que ser um bom cidadão não significa amarrar os próprios sentimentos numa camisa de força e jogar seus sonhos em um baú empoeirado, em um canto esquecido do sótão.
Ainda me lembro de quando era exibido no Brasil. Com a ajuda do Mofolândia, vou citar os personagens principais:
- Caco: Kermit no original. É um sapo esperto e carismático, que comanda o hospí... digo, a turma de bonecos. É um líder nato, que vive um eterno romance com Miss Piggy;
- Miss Piggy é claramente inspirada em Merilyn Monroe. Linda, sexy (sim, as crianças não ficaram deformadas por isso) e inteligente, morre de amores e ciúmes pelo Caco. É especialmente perigosa por ser forte e praticante de artes marciais;
- Urso Fozzie: Ele conhece milhares de piadas de cór, só que nenhuma tem graça. Há trinta e cinco anos ele tenta ser engraçado, mas só consegue quando ele é a piada;
- Gonzo: O showman, o pau pra toda obra, quando há um buraco no espetáculo ele vira de bala humana(?) a faquir. Que bicho é o Gonzo? Boa pergunta... Jim, que bicho é esse?
- Animal. Inspirado no baterista da banda The Animals, tudo o que todo mundo diz a seu respeito é que ele é um animal;
- Shatler e Walford; dois velhotes que vivem no camarote, dando uma de críticos e tirando sarro dos outros muppets. Os únicos críticos "profissinais" que vale à pena ouvir, asseguro;
- Rowf; O pianista. Só isso? Não, ele entra na bagunça e despeja seu carisma na tela, em meio às risadas do público;
Há muitos outros, há novos, mas estes são os principais, praticamente os pilares do show.
Eles também estão na telona. Acharam que não, ó, vocês que perderam por terem nascido tarde? Depois de onze anos, eles voltam à sala de projecção em seu novo filme: The Muppets (aqui a ficha completa e aqui dublado) a estrear em 23 de Novembro, nos Estados Unidos, estrelado por Amy Adams e Jason Segel. Trata-se de uma comédia humorística, que é diferente de comédia romântica. Comédia humorística é para fazer rir, o romance vem de carona.
O filme tem um ingrediente interessante, mistura os anos cinqüenta (aparentemente época em que seu lugarejo vive) com o mundo horroroso e cheio de recursos de hoje, quando chegam a Los Angeles. A mistura fica homogênea quando o mocinho tenta salvar um teatro de bonecos de ser transformado em poço de petróleo... Mais actual só se o filme pudesse ser exibido ao vivo. O trailer mostra essa linda mistura, com correria e cenas de musicais típicos dos anos de ouro de Hollywood, para dar as pitadas exactas de romance e comédia. Quando vem ao Brasil eu não sei, sei que será um estouro.
Alguém aí tem tevê a cabo? Então tenta sintonizar no Muppets Show para já ir aquecendo e não ser pêgo de surpresa, porque vocês, crianças, não sabem o que é algo surgir do nada quando não se espera, nem quando se espera, mas do jeito que não se espera. Isto faz parte desses bonecos.
2 comentários:
O gonzo é a criatura mais amável e desengonçada do mundo. ele tenta explicar um pouco isso em "Os Muppets vão ao espaço".
Eu amo demais!
Ou seria "Gonzo volta ao espaço"?
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