As crianças sãs são trazidas pela cegonha, via aérea, com todo o conforto e segurança do vôo de baixa altitude. Avery, pelo contrário, veio por terra, em solavancos, no bico de uma ave dodó. Não em uma trouxa pendurada no bico, mas montado no bico do dodó.
Em 26 de Fevereiro de 1908, Em Taylor, no Texas, o dodó arrombou a porta e disse "Essa tranqueira é de vocês", indo embora logo em seguida, em um Oldsmobile Curved Dash lilás e verde. Mary Augusta Bean, a Jessy, e George Walton Avery olharam para aquele garotinho, se olharam, se perguntaram se não teria sido melhor ter transado, como qualquer casal, mas aceitaram o rebento. Criaram-no com amor, embora muitas vezes a vontade de torcer seu pescoço curto tenha aflorado. Pobres, tiveram que ensilhar-lhe a se virar ainda cedo.
Frederick Bean Avery não falava muito de sua vida, preferia curtir com a alheia. Mas só conseguiu viver de desenhos, de que sempre gostou, já adulto... digo, maduro... digo... Ah, vocês entenderam! Era dono de uma criatividade fora do comum, capaz de imaginar situações que mandariam qualquer um para o hospício.
Concluiu os estudos em 1926, no North Dallas Hight School. A frase infame e irritante do Perna-Longa, "What's up, doc?" é uma frase dele. Trabalhou duro, em serviços rudes, para conseguir estudar no Instituto de Artes de Chicago, quando tentou em vão, emplacar suas tirinhas nos jornais. Se ainda existem, são relíquias guardadas a sete chaves. Muitos dos editores que o rejeitaram, ainda estavam na activa, quando ele estourou.
Trabalhou para Walter Lantz no início dos anos trinta, onde aprendeu as técnicas de animação e começou a romper com o romantismo realístico ditado pela Disney, que era copiada por praticamente todos na época. Sim, se é o que está se perguntando, o Pica-Pau tem forte influência de Avery. Seu talento para animação era imenso, ele era capaz de desenhar uma seqüência de vários segundos em qualquer ângulo, na hora, para qualquer incrédulo ver, e depois folheava os desenhos para mostrar como a animação ficou. Por causa do respeito à inteligência e da velocidade das cenas, os pais se sentiam à vontade para assistir ao filme com os filhos.
De meados dos anos trinta até os cinqüenta, ele reensinou o mundo a fazer animação, de modo que agradasse a todos os públicos, desde os petizes mais tenros, até os adultos, que sabiam ler nas entrelinhas e também choravam de rir. O que ele fez, basicamente, foi seguir à risca seu próprio ditado "No desenho, você pode fazer qualquer coisa". Com ele, a Warner Bros saiu da sombra da Disney, fazendo desenhos absolutamente rompidos com a realidade, capazes de fazer um quadro de Dali parecer plausível. Os intelectuais adoraram, porque ele rompeu com padrões normativos sem descambar para o mau gosto, falando directo aos pais sem precisar tirar os filhos da sala de cinema... Sim, por algum tempo, os desenhos animados foram exibidos exclusivamente no cinema.
Os melhores personagens da Warner têm a genética de Avery que, no melhor estilo "Perco os dentes, mas não perco a piada", deu personalidade ao Perna-Longa, criou Patolino e praticamente todo o elenco de Looney Tunes, ainda hoje o carro-chefe de animação dos estúdios. Desentendeu-se com Leon Schlesinger e saiu de lá, ficando bem pouco tempo desempregado. A Metro-Goldwyn-Mayer deu a maior cota de liberdade, e Tex soube retribuir. Tom e Jerry foram muito enriquecidos com seu legado. Criou Droop e sua turma, como o lobo e a mocinha, esta que encarnou muitas personagens de contos-de-fadas em versão adulta. Inclusive satirizando personagens de contos de fadas que ainda não
tinham ganho seus longa... E alguns que tinham passado pela lente de
cristal da Disney, como a Cinderela. Chapelzinho vermelho ganhou versões
sexies como artista noturna, mas ainda apresentáveis às crianças. Nada do que elas não viam nas praias, mas explicado de modo que pudessem entender.
Licenciou-se em 1950, por causa do excesso de trabalho. Não que gostasse, o trabalho era o seu vício, mas sinais de overdose já apareciam e alguns personagens ficavam mais maldosos.
Voltou para a Lantz em 54 e saiu em 55, por disputas salariais, e encerrou sua carreira no cinema animado, passando a assinar animações publicitárias. Orgulhoso, preferiu enfrentar a depressão que isso causou a dar o braço a torcer e renegociar. Mas a depressão só cresceu com o tempo, ele foi se tornando mais reservado e quieto na vida pessoal.
Seu último empregador foi o estúdio Hanna-Barbera. Willian Hanna e Joseph Barbera, vejam que cousa, eram dois de seus pupilos, com quem trabalhou e a quem ensinou muito. Lá, era responsável por escrever os desenhos de sábado, quando as crianças podiam acordar com tranqüilidade, sem se preocupar com o horário da escola. Embora mais manso, continuava a cassoar das leis da física.
Vocês sabem que a depressão tem seu preço, não sabem? Avery pagou. Desencarnou em Burbank, califórnia, 26 de Agosto de 1980, em decorrência de um câncer no fígado... Sinal de que ainda tinha muito ressentimento guardado. Dizem as más línguas, que o câncer não agüentou as gozações de seu hospedeiro e decidiu matá-lo de uma vez.
Muita gente pergunta porque o Perna-Longa simplesmente não mata Hortelino. É a influência de Avery, que preferia desprezar e humilhar os inimigos, deixando-os vivos e loucos, como faz o coelho, que zonba e come cenouras, enquanto o caçador bate com a cabeça em uma pedra. Aqui vocês também podem identificar a richa da Warner com a MGM, que é freqüentemente insinuada em episódios do Tiny Toon. O longa "Uma Cilada Para Roger Rabbit" resgatou, além de personagens quase esquecidos, como Betty Boop, o estilo Avery de fazer animação. Jessica Rabbit é a heroina averiana por excelência.
Baixo, rechonchudo e meio careca, Avery satirizava a si mesmo em personagens avulsos, que encarnavam o cidadão pacato, tímido e sempre envolvidos em encrencas... na verdade era um desabafo. A sátira de Avery, era o próprio Avery na vida real. No Brasil, ironicamente, um dos personagens mais icônicos de Avery fez pouco (quase nenhum) sucesso, o Screwball Squirrel.
Baixo, rechonchudo e meio careca, Avery satirizava a si mesmo em personagens avulsos, que encarnavam o cidadão pacato, tímido e sempre envolvidos em encrencas... na verdade era um desabafo. A sátira de Avery, era o próprio Avery na vida real. No Brasil, ironicamente, um dos personagens mais icônicos de Avery fez pouco (quase nenhum) sucesso, o Screwball Squirrel.
Ah, sim, alguém aí quer saber porque ele ganhou o apelido de "Tex"... é porque ele tinha uma 'texta' muito proeminente. Entendeu, ou quer que eu desenhe?
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