sábado, 12 de maio de 2012

Ritchie! Saúde!


O Brasil dos anos oitenta pode ser resumido em um só cantor: Richard David Court, o Ritchie (saúde!). Como muita gente já desconfiava na época, pelo sotaque, ele não é brasileiro, mas ao contrário do que muita gente pensa até hoje, ele não é alienígena.

Veio ao mundo por Beckenham, Condado de Kent, sul da Inglaterra, em 06 de Março de 1952. Morreu na imaginação de gente desinformada assim que a fase áurea(?) do rock nacional passou. Não, ele não foi vassalo do Super Homem. Filho de militar, viveu como cigano, morando temporadas em vários países, inclusive Alemanha e Itália, o que certamente acimentou sua boa receptividade à cultura alheia, inclusive às culturas do Brasil. Foi em um coral na Alemanha, aliás, que ele foi apresentado e se apaixonou pela música. Interno de Tomore School e Sherborne School, para depois cursar literatura em Oxford. Abandonou o curso aos vinte anos, para tocar flauta na banda Everyone Involved... Os pais dele ficaram extremamente felizes, afinal a universidade em questão é bem popular e o curso era grátis. Bem, os garotos gravaram um disco em protesto contra a construção de um viaduto  sobre o Picadilly Circus, ganhando uma fortuna com a distribuição gratuita. A mãe dele ficou tão feliz! Durante as gravações, conheceu mpusicos brasileiros, como Rita Lee e Liminha, quando eles ainda se suportavam, e foi convidado para conhecer o Brasil.

No fim de 1972 ele despencou em São Paulo, onde formou a banda Scaladácia. Não ter o visto de permanência foi o que impediu Ritchie (saúde!) de assinar um contracto, porque eles estavam fazendo sucesso e foram rondados pela Continental. O grupo acabou em 1973... Pois é.

Casado com a arquiteta e estilista Leda Zuccareli, mudou-se com ela para o Rio de Janeiro. Sim, casado, então a mãe dele estava um pouco mais feliz. Continuou ligado à música, principalmente dando aulas de inglês para músicos brasileiros, que queriam parar de só repetir o que ouviam e saber de vez o que estavam cantando. A Arca do Sol foi um trauma, ele era flautista da banda e foi sumariamente demitido, quando 'sugeriu' que queria passar para o vocal.

Na Vimana, com Lobão, Luiz Simas e Lulu Santos, finalmente soltou a voz... em inglês. Chamo a atenção para este facto ter ocorrido em 1975, ou seja, toda a muvuca aconteceu em menos de três anos. Lançaram um compacto pela Som Livre em 1977, que desagradou Lulu e o fez deixar a banda.

Voltou para Londres em 1980, a convite, para arranjar e ser vocal do álbum Let The Thunder Cry, de Jim Capaldi, voltando em 1982 para o Brasil.

Bernardo Vilhena compôs seu primeiro trabalho todo em português e gravou o compacto Menina Veneno, com ajuda de Liminha, pela CBS. Foram mais de quinhentas mil cópias. Em 1983 o disco Vôos de Coração, quando ainda não se tinha preguiça de fazer um circunflexo, vendeu um milhão e duzentos mil exemplares, fora os milhões de fitas pirateadas. "A Vida Tem Dessas Coisas", um quase-manual de como se cantar uma garota, foi o hit. Ganhou o Troféu Imprensa em 1984, no ano seguinte "Só Pra o Vento" foi tema da novela 'A Gata Comeu'.

Desentendimentos com Leleco Barbosa, filho do Chacrinha, lhe fecharam muitas portas. Vocês sabem, quem some é logo esquecido, e a popularidade de Ritchie (saúde!) declinou. Daí a aparecerem boatos de que ele morreu, foi um pulo da gata que comeu a fama dele. Shows e aparições em programas de televisão quase que desapareceram. Não que o britânico seja santo, longe disso, mas está longe de ser um mau sujeito. Ele cutucou a vaidade da mídia brasileira, que é sensibilíssima, e foi punido.

Passou a trabalhar ajudando na criação de websites, especialmente as páginas musicais. A do Lulu Santos, por exemplo, que é considerada uma das melhores até hoje.

Voltou a cantar, à convite de Rafael Ramos, em 2002 com canções inéditas, fazendo parcerias até com o Tremendão Erasmo Carlos. Embora inéditas, fazem jus à tradição do pop-rock nacional. Mas se o público pedir, ele canta "um abajur cor de carne, um lençol azul...". Desde 2008 ele tem sua própria gravadora, com o primeiro resultado saindo em Julho  de 2009, em CD, DVD e Bluray 'Outra Vez (ao vivo no estídio), com regravações e e músicas novas.

Neste ano, sem muito alarde, na verdade quase sem alarde nenhum, lanço o álbum "60", em que interpreta canções dos anos sessenta. Me chamou especial atenção a canção "Summer in The City". São sessenta anos de idade e trinta de carreira oficial. E quem pensa que ele está acabado, por ser um branquelo magricela já com certa idade, morda a língua.

Para muitos, ele é considerado um brega, por causa das temáticas românticas e cavalheirescas de suas canções mais famosas, mas não o devemos confundir com a pornographia que se apropriou do termo. Vejam os vídeos abaixo, com a música "A Vida Tem Dessas Coisas", o recente e o original.


Website do Ritchie (saúde!), clique aqui e aqui.
Myspace dele, clique aqui.

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