A maioria das pessoas ainda não compreendeu que só na maioria dos dicionários o sucesso vem antes do trabalho, na maioria pois em alemão "arbeit" vem antes de "erfolg", uma louvável excessão.
É muito perigoso alçar vôos altos logo de início, quem o faz acaba (quase sempre) em dívida com alguém que pode lhe podar as asas em meio às nuvens. Foi o caso recente de dois irmãos customizadores de automóveis, que participavam de um programa de televisão e fizeram mais sucesso do que muita gente queria. Eles têm talento, disposição para o trabalho, experiência no ramo automobilístico, mas eram totalmente crus em termos de televisão, bem como do conceito que esta faz de "sucesso". E quem conhece televisão, sabe da fogueira de vaidades que alimenta, além do que a maioria dos directores não dá a mínima para intrigas e traições, desde que não envolvam o nome da emissora.
No caso desses garotos, a perseguição está se dando além das raias internas, havendo inclusive sabotagem cibernética em seus sítios e no blog recentemente aberto.
Isto não teria acontecido com Henry Ford. Quem for americophobico, pare por aqui, a rasgação de seda será longa.
Ford era filho de fazendeiros, gente humilde que não conhecia outra vida que não a do trabalho duro. Não precisa ser para tanto, mas isto forjou o caráter de aço-vanádio que lhe caracterizou por toda a vida. Ele não rejeitou trabalhos pequenos e mal pagos, para aprender a lidar com o que mais gostava, automóveis. Não lhe incomodava o facto de que um carro fosse, na época, pouco mais do que brinquedo de endinheirados, o que ele não era. Apesar do gênio ruim e da teimosia que lhe custou muitos desafetos, a humildade de dar um passo de cada vez e sempre no tamanho de suas pernas era patente. Mas a exemplo dos nossos amigos, Ford tinha um talento imenso e persistência de sobra, diferenciando (também) por sua época não ter tido o extremo mau gosto que a maioria dos customizadores de hoje tem. Ele se fez por si mesmo, por seus méritos e pela credibilidade que não veio de herança, asim como o amigo Thomas Edson, Ford subiu a montanha do sucesso a pé, com a ascenção ficando mais rápida à medida que suas pernas ficavam mais fortes. A Ford Motor Company só saiu do papel quando ele estava em condições de amealhar investidores, mas ainda assim na posição de dar as cartas. É assim até hoje, com a família Ford ditando as regras que safaram a companhia da crise que matou a antiga rival, pois a GM que existe hoje é outra empresa. A influência do fundador da empresa é tamanha, que os descendentes não esitam em colocar na presidência um estranho que lhes mereça a confiança, caso não haja um parente devidamente capacitado e preparado para o cargo, como ocorre com os Porsche. Outra, Ford pagava bem às mulheres e dava emprego para negros, em uma época em que isto poderia arranhar a imagem da empresa.
Uma das principais lições que Ford deixa é que não existem atalhos, existem armadilhas. Caminhar mais ou menos depressa na estrada é particular de cada um, mas atalhos não existem, a não ser nas estradas de verdade, na da vida são arapucas de quem nos quer viciar no prazer do êxito fácil, tomando assim o controle de nossas vidas, podendo puxar o tapete quando bem entender.
Acontece que ninguém é atraído pela comodidade do atalho se a indolência do orgulho não estiver activa. Sonhar com o estrelato, ser apontado e parado nas ruas, sair em capas de revistas (quase sempre fúteis) e jornais, cobrar os tubos por alguns instantes em uma festa de desconhecidos, tudo isto é muito tentador para quem já conhece o conforto, imaginem para quem acha uma delícia um bombom feito com gordura hidrogenada. Não há problema acreditar que se merece mais, o problema é acreditar que o "mais" deve ser dado aqui e agora, porque "Mais rápido" é justo o que está escrito nas armadilhas dos atalhos.
À medida em que alguém aceita ser colocado no pedestal, fica mais dependente dos favores alheios, um pedestal mal permite se movimentar, quanto mais sair por conta própria em busca do que se necessita. O orgulho não permite ver isto, só permite ver os outros lhe trazendo o que deseja a todo momento, sem sentir a atrofia muscular e a crescente apatia pelo vício no conforto. Quando digo conforto, não falo de almofadas e temperatura amena. É qualquer conforto, qualquer cousa que nos prive dos pequenos e efêmeros sofrimentos que são normais e necessários durante a vida, inclusive drogas.
À medida em que alguém aceita ser colocado no pedestal, fica mais dependente dos favores alheios, um pedestal mal permite se movimentar, quanto mais sair por conta própria em busca do que se necessita. O orgulho não permite ver isto, só permite ver os outros lhe trazendo o que deseja a todo momento, sem sentir a atrofia muscular e a crescente apatia pelo vício no conforto. Quando digo conforto, não falo de almofadas e temperatura amena. É qualquer conforto, qualquer cousa que nos prive dos pequenos e efêmeros sofrimentos que são normais e necessários durante a vida, inclusive drogas.
Descer do pedestal incomoda, tanto mais quanto mais tempo se passou nele, mas só faz bem. com o tempo se reaprende a fazer o que se necessita por seus próprios meios. Quando chegar o momento de ascender, com o campo já pronto, não haverá ninguém capaz de lhe puxar o tapete, nenhuma promessa de prazer capaz de te desviar de teu alvo, nenhum plano econômico desastroso capaz de dizimar tuas conquistas.
Almejar o sucesso é lícito, mas é preciso estar preparado para ele, porque nos exige dar todo o nosso melhor o tempo inteiro. Quem faz sucesso se expõe, e a sombra dos podres fica muito visível diante das luzes do estrelato, se já não tiverem sido resolvidos até então, serão um ponto fraco muito vulnerável. É necessário ter um passado, não perfeito, mas digno de ser apresentado, sem que alguém lhe aponte o dedo no nariz dizendo "Não fosse o teste do sofá, bem, você não estaria aqui, então baixa o tom, viu". Há uma imensa diferença em ter recebido auxílio de alguém e ter sua imagem sido fabricada poe alguém.
Aos que almejam o sucesso por seus méritos, aconselho que estudem muito, não decorando lições da faculdade, mas estudando por conta própria e com afinco tudo o que lhes for útil para alçar o vôo desejado. Não esquecer que hermitões não fazem sucesso, pois não existe ninguém ao seu redor e talvez nem se saiba de sua existência, só eles podem se gabar de não dependerem absolutamente de ninguém (em termos, mas fica para outro texto) e de suas vidas serem problemas exclusivamente seus. Quem vive em sociedade precisa do outro, tanto mais quanto mais alto se está. Não rejeite trabalho e não deixe que uma proposta fantástica o afaste da clientela já cativa, é esta que vai manter o negócio se o cliente soberbo e reluzente decidir te abandonar. Lucro fácil se reverte facilmente em prejuízo, o único lucro que fica no teu bolso é o do trabalho honesto, o resto a especulação leva embora quando quiser. Confiem nas pessoas, mas só até onde elas merecerem a tua confiança, mesmo as mais bem intencionadas podem te arruinar se receberem mais do que estão preparadas para gerir. Imaginem as mal intencionadas. Não procurem ajuda da mídia, deixem que a mídia ofereça seus serviços. Este pequeno detalhe muda completamente a relação de poderes, assim não precisa desdenhar, mas também não se encante com o brilho nem com os índices de audiência, quem compra o teu producto pode justamente ser aquele que não gosta dos programas de grande audiência. Mantenha a qualidade, ainda que precise reduzir sua margem, aprenda com os erros da Toyota, porque ela mesma já está aprendendo.
Mas principalmente, SEJAM VOCÊS MESMOS. Não tentem parecer o que não são, não finjam gostar do que não gostam, não sejam surfistas sociais, surfe é para quem pega onda. Quando o degrau galgado começar a subir pelo peito, vá lavar pratos, passar um pano e uma cerinha na casa, engraxar seus próprios sapatos, pegar um ônibus para não esquecer do que é sofrer privações. Desçam do pedestal.
2 comentários:
Muito, muito bom.
Ser quem se é não significa ser conformado, mas ser aut~entico.
A autenticidade envolve custos e riscos, acha-se mais cômodo copiar o que faz sucesso.
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