Bicho, eu fico grilado com os carinhas que ficam reclamando de tudo, só falam e fazem questão de enfatizar os riscos e os custos, mas na hora de ajudar a resolver ou pôr em prática, meu, eles se pirulitam!
Tá todo mundo numa nice, trabalhando para garantir os troques no fim do mês, buscando uns baratinhos para os problemas com os quais lidam. Então aparecem os bokomokos e jogam areia em tudo. Como no caso da questão de o governo brasileiro (claro, elementar, lógico, notório, óbvio) estar enrolando demais para ajudar no advento dos carros eléctricos em série no país, como outros já fazem há anos. Basta uma reportagem mais ou menos séria (como esta) trazer à luz os motivos da demora, e um monte de desagradáveis aparece para tecer comentários que levariam qualquer depressivo ao suicídio. Teve uma que afirmou que o álcool polui mais do que a gasolina, cliquem lá em cima e procurem a dita cuja (e depois cliquem aqui para verem a resposta da Audi). Eles não ajudam em nada e não sacam nada da parada, bicho. Felizmente há os que não dão trela para o trololó dos carinhas, como a Cidade-Estado de São Paulo (ver aqui) que já encomendou formalmente alguns Nissan Leaf para a frota da companhia eléctrica.
Mas quem dera a turma do não-ajudo-só-reclamo estivesse apenas na esphera dos comentaristas torpes de internet. O motivo de atrasos no caso supracitado é uma briga entre o ministério do atraso e o do desperdício, que em vez de trabalharem juntos, como se fossem parte de uma equipe que é muitíssimo bem paga para resolver pendengas e deixar o Brasil prafrentex, agem como se fossem times adversários; tal qual o ministério da mata virgem com o da roça queimada, pelos quais já estaríamos sufocados ou passando fome. Um reclama que o outro está atrapalhando os negócios, ou desabrigando populações ribeirinhas, ou o escambau à quatro. Ninguém deixa a cargo de técnicos dar os veredictos pertinentes a cada caso, só querem reclamar, na base do "quem mais chora, mais mama". Vem cá, meu, quem mora na jogada sabe que dá para fazer bem mais com muito menos recursos. O problema, neste caso, é que para tanto os cargos de caráter meramente político perdem o poder de sedução, deixando de existir e reduzindo o poder de barganha. Não é só no governo do Lhulha-lhá, isto aconteceu no do Fedegando Henrique Caloso, do Clloro, do Zezé Sarninha, et cétera. É, camaradinhas, a democracia brasileira acordou de porre, nem quero saber como será a ressaca.
A questão dos reclamões vai além. Eles não ficam contentes enquanto não sugam até a última gotícula de alegria de quem tenta levar a vida. No caso de comentários de internet, que é o mais estereotipado, eles chegam a chamar a turma para humilhar quem goste do que eles não gostaram, e ai de quem encontrar uma solução plausível para os problemas dos quais reclamam, este será vítima da inquisição cibernética. Porque reclamões são como vampiros, só sobrevivem com a agonia da vítima. Que vão sugar então o raio que os parta! Há os que chegam a sabotar sítios e blogs, com ataques à senha, para se vingarem de quem não lhes serviu de capacho. Eles ainda confiam no anonimato, esta praga que gera a maior parte da má fama dos internautas brasileiros, a ponto de algumas páginas não aceitarem IPs daqui.
Uma das principais táticas dos reclamões é usar de falsos dados científicos, misturando o "eu ouvi dizer" com pesquisas que pouco ou nada têm a ver com o assunto. Ficar no jogo da palavra contra palavra é um orgasmo, porque a saraivada de reclamações pode varar anos, e se o outro tiver o bom senso de não delongar, declaram vitória. Depois voltam para suas vidinhas medíocres que em nada foram beneficiadas pelos transtornos que causaram.
Há o caso recente do uso de tasers pela polícia. Há o risco de complicações, no caso de cardiopatias ou neuropatias do atingido, mas nada foi comprovado de grave. Os reclamões usam este risco, ainda que pequeno, para tentar barrar o uso das pistolas de choque eléctrico. Sim, reclamões, existem outros tipos de choque, mas não vou desenrolar o longo tapete do tema em um blog básico e sem pretensões acadêmicas, procurem uma página de física ondulatória ou similar. Eles se esquecem, ou fazem questão de ignorar, que o uso desta arma potencialmente nociva a pessoas sensíveis, se destina a reduzir o uso de armas cem por cento letais, para que estas só sejam postas em ação quando não houver outro recurso. Mas o reclamão não quer saber, ele só quer travar o que não conhece (ou pensa que conhece) ainda que signifique piorar a vida coletiva. Assinar um documento autorizando o uso exclusivo de pistolas de pólvora em si mesmos, eles não assinam. O taser permite que um tiro mal calculado (ou atrapalhado por imprevistos) tenha possibilidades de correcção, o revólver não permite.
Na verdade o reclamão crônico só pensa em si mesmo, não admitindo que o mais remoto e brumoso sopro de possibilidade de algo sem importância o atingir. Chegam a causar guerras em outros países na tentativa de fazer com que idéias lá nascentes não cheguem ao seu quintal. Ele só pensa do aqui e agora, não admitindo que em um futuro próximo a demanda de energia possa ser suprida, ou que as soluções caminhem junto com esta demanda, o que é o ideal. Seria, se não fossem os reclamões burólatras.
A revista Oficina Mecânia, recentemente, perguntou ao Detran qual a utilidade da vistoria veicular, uma vez que o Passat que levaram foi plenamente aprovado pelos testes e mesmo assim a presença do turbo (que reduz emissões se bem dimensionado) o reprovou. A resposta, típica de um ignorante que não sabe calcular uma cilindrada, foi esta: "As características do veículo foram alteradas de acordo com as especificações do Contran. O Detran insere e emite a documentação do veículo constando as modificações de acordo com o laudo do Inmetro. No caso de fiscalização, o agente poderá identificar se as alterações do veículo estão de acordo com o documento. Quanto a questão de emissão de gases, poluentes (pleonasmo) ou ruídos, o veículo deve atender a legislação do Conama". A revista, que tem o laudo positivo do Inmetro e perguntou como contribuinte pagante dos salários, recebeu uma retórica vazia como justificativa. O facto se deve a uma portaria feita por totais ignorantes no assunto, que visa reprimir "ações indesejáveis" de turbocompressores, compressores mecânicos e óxidos nitrosos. Por não terem conhecimento mínimo, não sabem que dá para triplicar a potência, com muito menos eficiência e maiores emissões, sem os aparatos citados. É o que dá colocar gente indicada pelas bancadas em posições que demandam conhecimento técnico e bom senso. Alguém ouviu falar que turbo só serve para tirar racha, outro alguém não se deu ao trabalho de fazer estudos científicos (como clicar alguns links na internet) e o temor de um leigo foi acatado como risco. Tranqüilizar o cidadão? Nem pensar, soluções fáceis não cabem no mundo dos reclamões.
Este é só um exemplo mais absurdo, outros ocorrem diáriamente com gente que não tem a quem reclamar, ou não tem um blog ou revista para divulgar o absurdo.
Fiquem longe dos reclamões, isole-os. Não deixem seus filhos perto deles, é sério, isto é contagioso. Reclamar e depois dar as costas é um meio fácil de colocar nas mãos de terceiros toda a responsabilidade pela solução de um problema. As crianças não podem se acostumar a isto, ou a situação do país não muda.
Levem seus planos adiante em segredo, ou os reclamões vão sabotá-los só para provar que estavam certos, ainda que estejam errados; e quase sempre estão. Só contem quando estiverem tão adiantados que não podem mais ser detidos, ainda assim sem dar detalhes. A maior raiva do reclamão (que geralmente é um vampiro social) é ver um problema antigo ser resolvido a contento, sem maiores traumas, com ambas as partes ganhando, porque isto o desarma e deixa vulnerável a fragilidade emocional e psicológica que lhe é patente. Então ele procura ajuda ou some, em ambos os casos nos livramos do problema.
Lembro ainda hoje de uma tira do genial Laerte, em que um velho (três momentos) reclamava: "Hoje está quente demais", "Hoje está frio demais", "Hoje está mais ou menos demais". mas só tem graça nas tirinhas dele, na vida real é o "O" do borogodó.
2 comentários:
Laerte!
Adoro as tirinhas dele!!!!
E o texto, como sempre, está um primor.
Piada do Laerte não é cerveja, mas desce redonda e macia.
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