O ramo de medicamentos controlados é lucrativo, muito lucrativo. Tão lucrativo que os fabricantes podem dar descontos e pagar comissões à vontade. Deve-se desconfiar daquele médico que terminou a residência em um Ford Ka modelo ovinho, e em pouco tempo está andando de Lincoln. Aliás, ainda fabrica baitas carrões.
Laboratórios financiam convenções, palestras e o escambáu à quatro. Isto não sai de graça. Essa gente não financia ninguém por caridade, por respeito ao juramento de Hipócrates, nem por causa dos lindos olhos castanhos daquele jovem tão dedicado. Eles querem retorno, e o retorno será sob a forma de prescrições nem sempre necessárias de drogas, muitas vezes drogas pesadas das quais seus fabricantes detêm as patentes. Drogas viciam.
Tendo a chancela da comunidade científica e o pleno aval dos conselhos, muitos não hesitam em prescrever uma tarja preta para qualquer probleminha, inclusive para controlar crianças que apenas se sentem incomodas com o que "ninguém vê".
Petizes muito activos ou agressivos ficam aparentemente mais calmos tomando medicamentos prescritos pelo médico, mas é uma ilusão perigosa. A torrente hormonal que dava o empurrão fica sob controle, mas a índole rebelde continua lá, esperando para agir. Se não for quebrando o espelho do aparador, será humilhando verbalmente alguém que não poderá se defender. Com o tempo essa válvula de escape se torna uma diversão, qualquer cousa pode apertar o gatilho. Nem adianta falar com aquele médico depois, nenhuma alteração hormonal será detectada e o safado lavará as mãos. Ele sabe (ah, sim, sabe) que o medicamento é um auxiliar no tratamento, jamais deveria ser utilizado como único recurso; muitas vezes sequer deveria ser prescrito. É como amputar uma perna dolorida e trocá-la por uma muleta, o indivíduo se vicia nela e não consegue mais viver sem. Muitos passam a usar a muleta para atrair a piedade alheia e depois atacar a vítima.
Para a família é muito cômodo. Enche-se o moleque de porcaria cientificamente aceita e finge-se que o problema foi resolvido. Acontece que droga é droga, não importa a origem. Aquilo que deixa a família relapsa tranqüila durante algum tempo, um dia chega ao limite e tudo o que estava sendo represado a custas de moléculas sintéticas explode. Um dia o "remédio" não fará mais efeito, então o charlatão diplomado receitará outra droga mais potente, geralmente mais cara e com mais efeitos colaterais; sempre há efeitos colaterais.
Um dia os efeitos colaterais geram problemas maiores do que os camuflados. De criança agressiva o sujeito se torna um adulto depressivo, ou com tendências psicóticas, ou ambos. Fora problemas com a concentração, dores no tubo digestivo, gases e outros que são camuflados com mais drogas, que causarão mais problemas, mas darão mais lucros. Drogas contra câncer, muitas vezes mais letais do que a metástase, estão entre as preferidas.
Esses médicos não querem saber do paciente, querem é eliminar os sintomas e assim ganhar mais pontos em seus currículos, mesmo que o paciente morra. Mais currículo, mais status, mais presentes e mais ganhos, não só financeiros. Dizem que os juízes pensam que são deuses, mas há médicos que têm certeza.
Problemas comportamentais devem ser tratados por quem entende do assunto. Quem conhece o neurônio não conhece necessariamente a personalidade. Meus neurônios funcionam do mesmo jeito que os de Barack Obama, mas meus métodos são muito mais enérgicos do que os dele, eu ajo de modo completamente diferente, pois sou alguém diferente e minha personalidade é totalmente diferente. As psicoterapias, sejam de psiquiatras ou psicólogos, são muito atacadas e detratadas porque limitam muito, e às vezes eliminam, a necessidade de medicamentos. Acontece que uma psicoterapia exige que a família participe, tome sua cota de responsabilidade nos progressos da criança, o que não interessa à maioria das pessoas. A maioria quer que tudo esteja pronto, bonitinho e no jeito para apresentar á sociedade e mostrar o quanto sabe educar sua prole. Querem receber a mercadoria pronta, nem pensar em se envolver.
Mas o que há de tão incômodo em participar de uma terapia? O incômodo é que, tratando dos problemas da criança, os dos pais (irmãos, tios, avós, bichos, a samambaia da varanda...) também aparecem. Não raro a família acaba descobrindo que o membro tido como problemático é o menor dos problemas, que o estava usando como bode expiatório, e que estavam todos viciados no problema da criança. Apontando o dedo para o cisco no olho do outro, não enxergam o galho que há nos seus. Quase ninguém quer admitir que falhou em algo. Todos querem ser perfeitos, quando nem bons nós conseguimos ser.
Não é raro uma família usar os problemas do outro para esquecer os seus. Quando ele usa drogas pesadas e elas fazem o efeito esperado, os efeitos colaterais tomam o lugar do problema, e a família passa de vítima do mau membro para comunidade caridosa, que acolhe o doente incurável. Se for criança, tanto melhor, dura mais tempo e a maioria dos parentes morre com a "consciência tranqüila". Depois o sujeito que se dane.
Um psicólogo competente (sem ser extraordinário) tem condições de dizer se o tratamento exigirá ou não medicação. Passando o caso para um psiquiatra competente (também sem precisar ser extraordinário) que poderá dizer qual medicação usar, por quanto tempo e em que doses, para intermediar o tratamento. Em uma terapia o paciente é o importante, não o sintoma. Não raro, mesmo psicoterapeutas ateus recomendam alguma actividade religiosa. eles não acreditam em Deus, mas sabem dos efeitos que a meditação proporciona, simplesmente aceitam os bons efeitos que ainda não podem ser explicados (para eles, claro) e seguem com o tratamento integral.
Os únicos médicos (sem especialização psiquiátrica) que entendem de personalidade são os médicos de família, que quase não existem mais. Diplomados em medicina que invadem o campo da psicoterapia, atropelando o juramento feito, freqüentemente incitam a uma inquisição contra tudo o que não foi comprovado por quem não tem o mínimo interesse em fazê-lo. Falei disto neste texto aqui. Em oposição aos ateus que o são por convicção, são ateus por pura conveniência, ou fanáticos dogmáticos que enchem as burras de uma igreja e acham que isto os livra de qualquer pecado. Explico aqui a diferença entre dogma e religião.
Se a Anvisa (ei-la) deixasse, os laboratórios fabricariam jujubas com os princípios sintéticos, para incentivar o consumo.
Pais, não sei se lhes contaram, mas crianças não são um mar de fofuras, não são cheirosinhas, não são comportadinhas; e graças à Deus que não o são. Querem fofuras? Encham a casa com bichos de pelúcia. Querem cheirinho? Abram uma franquia de perfumes. Querem comportamento? Encham a casa com bonecas. Crianças às vezes ficam fofas, às vezes se mantém cheirosas, às vezes cansam e se comportam um pouco. Criança é compromisso perpétuo. Assim como os seus pais ainda hoje apontam os dedos para seus narizes, seus filhos precisarão de vocês até o dia em que o geriatra disser "Sinto muito". Criança é responsabilidade, nada menos do que responsabilidade. Se não querem dores de cabeça, previnam-se, não procriem. Sim, Jesus ajuda a cuidar, mas só ajuda, a responsabilidade é todinha de vocês. Criança não é brinquedo que se troca por outro quando dá problemas. Quem não estiver disposto a corrigir uma criança e até aprender com ela, que permaneça na condição de tio.
Crianças precisam de limites, desde cedo, de modo firme e sem hesitações. Crianças precisam de carinho, desde cedo, do melhor modo que as circunstãncias permitirem e sem queixas. Crianças precisam de convivência, desde cedo, de modo natural e sem demonstrações de constrangimento. Eu sei que a maioria dos pais de hoje não teve metade disso. Muitas cousas boas de antigamente foram enfiadas no mesmo saco que as ruins, como aprender a lidar com uma família. Não que devam aprender a ser super pais, isto é para quem tem vocação e a maioria de vocês já fez a besteira, procriou sem o devido preparo. Então não façam outra besteira. Quando um maníaco monetarista tentar encher seus rebentos com drogas industrializadas, peguem-nos e saiam correndo sem olhar para trás, porque se ficarem o sem-vergonha vai fazê-los sentir culpa, caso não queiram caceitar. Busquem sempre uma segunda opinião e não caiam na tentação da solução fácil. Se o fácil tivesse valor, a bíblia (e a torat, o corão, os vedas, as promessas de políticos) poderia ser interpretada na forma literal e o mundo realmente teria sido feito em seis dias... Teria saído uma lambreca ainda maior.
Como vive reclamando minha amiga Irene Lacerda Ramos (aqui), as crianças estão sendo enchidas com drogas ainda em tenra idade, ao primeiro sinal de problemas que derem. Estas crianças, em breve, não saberão viver sem as drogas que tomam hoje, e que um dia podem ser banidas. É comum. Todos os dias os milagres pharmoquímicos apresentam um efeito colateral não previsto (ou omitido) durante os anos de testes. Se os efeitos forem maiores do que os alegados benefícios, os países que têm uma vigilância sanitária os banem, ou no mínimo fazem restrições que acabam por iviabilizar seu comércio, que tudo o que interessa àquela gente. E então, como o viciado vai se virar? O traficante sempre tem uma resposta fácil.
Crianças, GRAÇAS À DEUS, dão problemas. Crianças fazem os adultos crescerem, ainda que na marra. Crianças não são e não devem ser robozinhos, aos quais se dá corda para alegrar as visitas, elas são pessoas sem noção, que vivem nos apontando nossos próprios defeitos. Não tolham esta capacidade, não se privem deste aprendizado, vocês não são mais livres e desimpedidos, vocês são pais e mães. Colocaram no mundo? Agora não tem jeito. Aproveitem, porque quando derem problemas vocês vão precisar e muito das boas lembranças.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Crianças quimiocontroladas
Postado por Nanael Soubaim às 19:43
Marcadores: Nanael Soubaim
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2 comentários:
Excelente texto, como sempre.
Crianças quimicoantroladas, cães cujas cordas vocasi são cortadas porque latem...
Egoísmo doentio.
A preguiça manda.
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