segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sexo? Eu passo!

Antes que venham me chamar de frígida ou de assexuada, eu explico os meus motivos. E aposto que você também preferiria qualquer outra coisa, até jogar Banco Imobiliário, a "ter relações carnais" com qualquer das criaturas retratadas neste texto. Infelizmente (ou felizmente, porque foi tudo muito divertido), todas as histórias são verídicas.

Motivo Um: Pinóquio

Aos dezoito anos, certa vez, eu fiquei com um cara. Foi aquela coisa de sempre, beijinho aqui, beijinho ali, mãozinha acolá. Lá pelas tantas, o rapaz se empolgou e me fez uma proposta:
- Vamos lá pra casa!
- Não posso, tenho que voltar pra casa com a minha prima.
- Ah, mas avisa ela que tu tem outros planos...
- Não dá.
- Lá em casa tem piscina!
- ...
- Vamos! Tu vai gostar!
- Não posso, sou virgem.
- Não tem problema! Eu já tirei a virgindade de mais de 20 gurias!
- ...

Depois desse diálogo, eu fiquei com vontade de arrancar os olhos desse camarada. Um homem convidar uma guria para passar a noite com ele não tem nada demais. A gente até espera por isso, mesmo que não tenha a intenção de aceitar. Tudo começou com a história da piscina. Ficou parecendo: “Ah, ela não quer dar pra mim, mas se souber que eu tenho posses, vai mudar de idéia!”. Posses? Grande coisa ter piscina em casa! Mas a cereja do bolo foi mesmo a parte das “mais de 20 virgindades”. Ele deve ter pensado que eu ficaria muito satisfeita de “entregar a minha virgindade” a um cara tão... experiente. Quem quer ser mais uma de uma lista que nem existe? Vinte mulheres não teriam a mesma idéia de jerico de se iniciar sexualmente com o mesmo cara! A não ser que elas nunca tivessem tomado banho de piscina...

Motivo Dois: Eu não sou cachorra, não!

Outra vez, numa festa, estava eu no maior amasso com um gatinho, quando ele disse uma frase inesquecível, que me deixou toda arrepiada:
- Tira as calças!

Fiquei mesmo toda arrepiada, mas de pavor. Se alguns homens, como o da história acima, pecam pelo excesso de lábia, esse aí pecou pela falta dela. Como assim, “tira as calças?”. Assim, sem mais nem menos? Não tirei as calças, o que dirá o resto da roupa. E ainda fiquei imaginando como seria, se tivéssemos ido aos finalmentes... Ele passaria o tempo todo me dando ordens: “Pega...”, “Chupa!”, “Deita!”, “Isso... Agora, senta!”, “Mais pra baixo...”. Isso é sexo ou é adestramento? Preferi ficar sem saber...

Motivo Três: A princesa e o plebeu

No meu segundo encontro com Vandercleidson (nome fictício), foi tudo perfeito. Eu estava muito a fim dele e tinha esperanças de que iríamos namorar. Era inverno, a gente bebeu vinho e saímos pela cidade, só nós dois, de mãos dadas. Tudo muito romântico, do jeito que eu gosto.
Como a Lady Murphy sempre aparece nos melhores momentos, desta vez não foi diferente. Passamos por uma praça, onde funciona um camelódromo, durante o dia. O lugar era cheio de barraquinhas de madeira.
Não sei como, nem porquê, mas as tais barraquinhas deram idéias lúbricas ao Vandercleidson. E foi aí que o príncipe virou sapo. Que tipo de homem se excita num camelódromo, gente? Isso é muita pobreza para a minha cabeça.
Se por acaso a gente estivesse namorando firme, eu até poderia considerar a idéia de realizar uma fantasia sexual bizarra do meu amor. Mas era o nosso segundo encontro, a gente nem se conhecia direito! E, se o namoro fosse adiante, eu lembraria para o resto da vida que a nossa primeira vez foi num camelódromo! Repito: isso é muita pobreza para a minha cabeça. Pô, nem pra pagar um motel!

Motivo Quatro: Olha o quibe!

Não posso deixar de contar meu encontro com Theodomiro. Ele era lindo, de verdade. Loiro de olhos azuis (ou seriam verdes?), forte na medida certa, engraçado, inteligente, beijava bem... Um espetáculo de homem.
Um belo dia, na casa dele, estávamos no maior agarramento. Passa a mão aqui, passa a mão acolá... Quando a minha mão chegou onde deveria chegar, tive uma surpresa. Não consegui encontrar o quibe.
Calma lá, ele não tinha uma esfirra no lugar do quibe! O quibe estava lá, mas só podia ser visto e tocado com o auxílio de uma lupa e de uma pinça. Meu mundo desmoronou, naquele momento.
Fiquei sem saber o que fazer, de tanta decepção. Dizem que as mulheres não se importam com o tamanho do quibe, mas é mentira. De minha parte, posso dizer que ninguém precisa ter um instrumento de trabalho gigantesco, mas muito pequeno também não tem a menor graça. Tudo tem que ter um equilíbrio, sabe?
Enfim, acabou que eu fiquei sem quibe, ele ficou sem esfirra e fomos felizes para sempre. Separados. Só que ele nunca soube o motivo pelo qual passou fome naquele dia.

Conclusão: Eu sou muito fresca. E chata. E exigente. Quero um homem que não fique inventando histórias para me levar para a cama.Um homem que tenha o mínimo de sensibilidade. Um homem que não queira me levar para o camelódromo, porque eu mereço mais do que isso. Um homem, digamos assim, visível a olho nu. Será que é pedir muito?

Especial Talicoisa Porn Week

domingo, 29 de junho de 2008

Certo X Errado = Normal

Volta e meia, esse pensamento fica grudado em mim.

O que é Certo? O que é errado?

Tudo depende de pontos de vista. De cultura. De meio-ambiente.

Pra nós, brasileiros, sul-americanos, terceiro mundistas, cristãos por força do hábito, certas atitudes são inaceitáveis.

Atitudes que, para um sudanês, africano, também terceiro mundista, mas forçadamente cristão, porém cônscio de suas raízes tribais, são totalmente normais. Fazem parte de sua cultura.

O chinês, oriental, asiático, comunista (ou não), taoísta (ou budista), vai enxergar de outra forma.

O conceito de normal e anormal, de certo e errado, variam conforme as culturas. O Coreano come cachorro. Coisa inaceitável no Brasil, aonde existe uma relação muito estreita entre donos e cães. Pra nós, cães são praticamente membros da família.

O Africano que ainda tem raízes sólidas na cultura tribal, realiza sacríficios animais para os seus deuses. No Brasil isso também acontece, nos cultos de nação africana, conhecidos genericamente como Candomblé.

Nos EUA, uma atitude dessas acarretaria prisão, em certos estados.

No final das contas, o que se pode dizer é que jamais se pode julgar uma pessoa ou povo por suas atitudes. Aquilo está enraizado na cultura de cada lugar. Faz parte da cultura desse determinado povo.

Pode-se julgar um japonês por cometer suicídio? Não, faz parte da cultura deles o hara-kiri.

Pode-se julgar um coreano por comer carne de cachorro? Não, faz parte da cultura deles. Seria o mesmo que os hindus, que cultuam as vacas como seres sagrados nos julgar por comermos bifes nos finais de semana. Ou a semana inteira, pra quem pode comprar sempre.

Pode-se julgar os franceses por não tomar banho? Aí até que pode, porque o cheiro deve ser bem desagradável.

Enfim...

Não se pode julgar, não se pode ver as coisas, pessoas e culturas, com um olhar fechado, limitado. É preciso entender antes, o que leva à isso. O que faz disso normal, na cultura de cada um.

Mas sempre tendo respeito. Afinal, nós também não somos santos...


Vai uma divindade hindu no capricho?

--§--


Atenção, povo. Amanhã Luna inicia a TCPW, Tali Coisa Porn Week. Sim, Porn.
Resolvemos fazer uma semana especial de liberação de hormônios, sem restrições.
Mas sem vulgaridade, também. Infelizmente. :P

Acompanhem!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Crise Verborrágica Besteirística dos Encostos Pós-Modernos em Pseudo-StandUp

“Marcelo Médici já explicitou alguns desses ditos encostos pós-modernos AQUI. Um dos mais interessantes seria o do Ursinho Pooh. É, já que esse é um personagem muito querido, um fofo... Mas ninguém quer transar com ele. Nem o Leitão. Aliás, sexo entre esses dois seria no mínimo bizarro. Tipo, fim de carreira dos caras. Eles na capa de Brasileirinhas. O Ursinho Pooh com o Leitão no colo. Este último com um semblante lascivo. Pooh de meia arrastão e scarpin cor-de-rosa choque. Depois, numa entrevista, declaram que é um trabalho como outro qualquer. Dias depois, algum roteirista declara em seu blog que dizer isso seria insultar a todos os desenhos animados que minimante sustentam suas carreiras a troco de trabalho digno.

Mais um encosto presente em nossos dias, seria o Encosto do Padre do Balão. Me conte se você nunca se viu alheio às discussões que estavam sendo feitas na escola, por exemplo. O chefe falando dos resultados na reunião da empresa e você lá, no outro mundo... Plunct Plact Zum... Pois, é. É esse teu momento “Estou voando, não sei bem onde estou... GPS? Do que se trata? Alguém controle a porra do balão”.

E todo mundo já deve ter tido um momento de desapego à sua postura diante da sociedade, sabe? Tipo, “tô cagando e andando pro que vão dizer pra mamãe.” Aí se dana a beber, cai, raspa a cara no chão, vomita no sapato do amigo, lambe a cara da colega... E por aí vai. Se você tem vivido momentos assim, por conta da realidade lamentável que te assola, eis que tu tens o enconto Winehouse. Teu fim é trágico, colega. Sai dessa vida.

Ainda tem vários outros encostos... Tipo o da Menina Isabela. Eu nem vou me ater a esse, porque é uma coisa traumática... As pessoas se sensibilizam, aquela coisa toda. Tem um momento “Respeita a dor da família, etc e tal” Mas Isabela já rima com janela, gente... Tem todo aquela questão da predestinação, enfim... Tem o encosto da Ângela Bismarck, né? Encosto Luíza Mel. Mas é que já me torrou o saco, isso aqui. E essa vidinha de estudante não raro me cansa. Vontade de estender as pernas ao relento e espalhar os textos da faculdade a esmo, pelo quarto... Que encosto é esse? Nova modalidade a ser catalogada. Já chega. Tchau.”

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Inverno é chique!

Ah, que beleza que é o inverno! Comer pinhão. Passear na Serra. Tomar chocolate quente na frente da lareira. Dormir com um edredom de penas de ganso. Usar casacos de lã uruguaia (os mais quentinhos que existem). Comprar um chapéu estiloso. Assistir a um bom filme enrolado numa manta. Comer, comer, comer! Ninguém fica suando. A chapinha e a escova duram mais. As pessoas se arrumam melhor. Inverno é chique!

Sim, inverno é chique! Não há nada mais elegante do que uma tosse encatarrada. Aposto que isso atrai o sexo oposto mais do que qualquer outro artifício. Você dá aquele olhar de soslaio, joga o cabelo e tosse, tosse, tosse, até o rosto ficar vermelho e saírem lágrimas dos olhos. Quanto mais catarro o seu pulmão tiver, melhor. Assim, quem sabe, você pode até dar uma cusparada no chão. Ou num lenço, vá lá. Chique de doer. Sexy a não mais poder.

Se você tiver sorte, mas sorte mesmo, pode até ir parar no Pronto Socorro. As chances de conhecer o amor da sua vida lá são grandes. Quanto mais frio, mais gente doente. E, saindo do PS, os pombinhos podem dividir o mesmo nebulizador, o mesmo xarope e trocar informações sobre catarro, crises de rinite e coriza. O amor é lindo, e se sobreviver a tanta escatologia, é verdadeiro.

Outra coisa podre de chique, no inverno, são as roupas. Você veste uma calça jeans, uma blusa de lã e um casaco pesado por cima, além de um cachecol. Isso é o que os outros vêem e talvez admirem. O que eles não sabem é que, por baixo de toda essa elegância, há: uma camiseta de manga longa, um blusão de lã mais fininho, uma meia-calça fio 40, uma calça de lã (ou pior ainda: uma ceroula!) e um par de meias três-quartos. Inexplicavelmente, mesmo com tanta roupa, você ainda treme feito vara verde. Tremer é chique? Andar com um monte de roupas que não combinam, uma por cima da outra, é chique? E num encontro amoroso, desabotoar a calça de alguém e dar de cara com uma ceroula é excitante? Tenho cá minhas dúvidas...

Existe só uma coisa que consegue ser pior do que as doenças respiratórias e a montanha de roupas que temos de usar durante o inverno: andar de ônibus. “Ah, mas no inverno as pessoas não suam!”. Quem diz isso está mentindo. Que eu saiba, as glândulas sudoríparas não hibernam. Elas continuam trabalhando direitinho, seja lá qual for a estação do ano. As pessoas suam, sim. E com um agravante: usam roupas de lã, quase sempre sintéticas, que ficam impregnadas com qualquer cheiro ruim, seja catinga, seja excesso de perfume. Para piorar a situação, existem os “enforcadores de banho”, que evitam a todo custo entrar em contato com água, assim que aquela frente fria chega da Argentina.

E o ônibus, nessa história toda? No transporte coletivo, além dos enforcadores de banho, encontramos também aqueles que derretem com pingos de chuva e aqueles que têm medo de vento. Logo, todas as janelas do veículo estarão fechadas. Os passageiros, como se não bastasse a imensa alegria de sofrer com a falta de higiene alheia, também têm grandes chances de pegar alguma doença respiratória, devido ao ar viciado e a aglomeração de gente encatarrada. Ou seja, tudo conspira para que você conheça o grande amor da sua vida no Pronto-Socorro. Inverno é ou não é uma coisa linda?

Inverno é chique, sim. Para quem mora num Estado onde não faz frio de verdade. Ou para quem pensa que a vida, em tempos de frio, se resume a tomar chocolate quente na frente da lareira. Quem dera fosse, minha gente!

(Texto dedicado a nossa teóloga Adriane)

domingo, 22 de junho de 2008

Diazinho mais ou menos....

Fio hj está fora da área de cobertura.

Escreveu estas palavras e saiu correndo, voltando à sua cama quente. Só a cama, porque sua vida sexual se restringe ao onanismo desenfreado.

Fio promete voltar na semana que vem, cheio de energia, garra, e um texto chato, pra variar.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Folhacorrida

Tudo começa ao trancar o portão. Nariz gelado, cabelo molhado, 4 pares de meia. Ônibus perdido. Ônibus lotado. Muito lotado. De um lado, alguém masca chiclete de boca aberta. De outro, a menina com o maldito cabelo também encharcado, mas de creme para pentear. Náusea pelo cheiro e pela boca aberta a ruminar. Ponto final: A avozinha que desce sofregamente do ônibus. A catraca do metrô que engole meu bilhete. A vontade de fazer o moleque engolir a mochila que enrosca na minha blusa. Mencionei o metrô lotado? Ler o livro, nem pensar. O MP3 e a saga para encaixar o fone de ouvido quase sem mover os braços. MP3 sem bateria: a maior frustração possível num metrô lotado, ao lado do maldito moleque da maldita mochila assassina com seu maldito radinho no último volume. Tocando funk, claro. Santa Baldeação, rogai por nós. Rogai duplamente, por misericórdia, porque se pego duas linhas de metrô, também tem mais uma de trem. Ambulantes do trem, que vendem chiclete (para mastigar de boca aberta, claro) caneta, sogra, tabuada, amendoim, mas não vendem paciência. Tudo isso aos berros, porque eles têm inveja de quem está sentadinho tentando ler ou tirar um último cochilo. Treze estações de trem e me livro do zunido do alto falante do vagão. Fila do ônibus (sim, tem mais um). Fumaça de cigarro da moça simpática da frente. Simpática a ponto de eu querer que ela morra afogada no seu café quente. Sobretudo depois dela jogar o copinho no chão. Eu relevo, já que não respingou café no meu tênis. Chacoalhões extras no ônibus, já na segunda hora desde o momento em que tranquei o portão, lá em cima. Entro na sala, ligo o computador e o meu dia começa.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Amor sem fronteiras

Vocês sabem que vira e mexe sou tomada por um romantismo e uma melação que ninguém sabe de onde vem. Neste último fim de semana o tal romantismo atacou de novo. Assisti ao filme P.S. Eu te amo e, óbvio, chorei horrores.

O filme não é mais um daqueles açucarados, pelo contrário. Inicia com um discussão de um casal, Holly (Hilary Swank) e Gerry Kennedy (o delícia do Gerard Butler). Ela está descontente com seu emprego, quer morar em um apartamento maior e deseja estabilidade financeira. Ele, acha que é o momento para ter filhos. Aí se dá o conflito, mas a discussão termina em beijos e abraços. Nesses primeiros cinco minutos do filme, percebemos que os dois se amam e se completam. Mas, logo em seguida, vemos tudo isso desmoronar com a morte de Gerry. Holly se vê obrigada a recomeçar a vida com objetivos diferentes, mas ela é tomada por um desespero imenso e não consegue nem ao menos sair de casa.

A primeira surpresa aparece no seu trigésimo aniversário, algumas semanas depois da morte de Gerry. Holly recebe em sua casa uma caixa com um bolo e uma fita cassete. Nesta, Gerryfala para a mulher que ela deve sair para se divertir. Sim, Gerry deixou a gravação preparada antes de morrer, assim como as cartas que começam a chegar em seguida. O objetivo das cartas é fazer com que Holly viva a vida de maneira mais divertida e mostram alternativas que talvez fossem difíceis de ser alcançadas sem essa ajuda. Ao mesmo tempo que Holly recebe as cartas, somos apresentados à história do casal, por meio de flash backs que esclarecem muitas coisas durante o decorrer da história.

Mas, mesmo diante da perda, o filme não nos deixa com um aperto no peito. Muito pelo contrário, é uma lição de vida e prova de amor. Eu vejo P.S. Eu te amo como o antagonista de Ghost, que mostra a morte como uma perda irreparável, quase como algo impossível de ser superado. P.S. Eu te amo faz exatamente o contrário. Gerry mostra o caminho para Holly retomar sua vida sem ele. Tudo de uma maneira sutil e da forma mais linda que eu já vi. Tá, eu to sensível, mas assistam ao filme e depois me digam se não é uma das provas de amor mais sinceras que vocês já viram. O filme conta a história de um amor que acaba, mas, de alguma forma, não termina. Tudo isso, junto com a trilha sonora, feixa difícil conter as lágrimas.

E eu não contive mesmo. Chorei rios, mas achei o filme, acima de tudo, uma lição de como lidar com uma perda tão grande. E, mais do que isso, que o amor pode, sim, ser eterno. E que o amor pode transformar as pessoas, mesmo depois que é tirado de nós.

O grande amor da sua vida se vai. É o momento de desistir de tudo? Pelo contrário, é o momento de mostrar que esse amor é o grande responsável pela sua felicidade.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Não como, não como e não como!

Não existe ninguém neste mundo que seja mais enjoada com comida do que eu. Minhas desventuras alimentares começaram quando eu era bebê. Um belo dia, conta a minha mãe, eu simplesmente me recusei a mamar no peito. E depois desse dia, não houve quem me fizesse mamar novamente. Fui criada à base de Leite Ninho – o único que a mocinha exigente aqui aceitou de bom grado.

Depois, quando fui crescendo, passei a me alimentar (um pouco) melhor. Nunca tive problemas com legumes, verduras e frutas. Minha prima, outra enjoada de dar dó, só comia salsicha e massa
“branca” – sem molho, sem nada.

Hoje em dia, passados alguns anos, minha relação com a comida é feita de ciclos. Ora eu me alimento mal, ora eu me alimento pior ainda. Não sei dizer exatamente do que gosto, porque isso também varia muito. Ando implicando com salada de tomate, por exemplo. Eu adorava, agora não posso nem ver. Daqui a pouco, volto a gostar de novo... Até a minha alimentação é “de lua”. Dizer o que eu gosto de comer é complicado. Porém, eu tenho certeza absoluta de quais são os alimentos que me fazem preferir o jejum.

Leite: Não gosto, não tomo, não quero. Leite me dá engulhos, seja gelado ou quente. O cheiro é ruim. O gosto é horrível. Quando eu era criança, tentei convencer a minha mãe de que “as vacas fazem o leite para os filhos delas!”. Não colou. Deve ser por isso que tenho tamanha ojeriza a este produto. De tanto que fui obrigada a tomar. Sem falar do nojo supremo: leite com nata. Eca, mil vezes eca!!! Honrosas exceções: chocolate quente, no inverno e milk shake, no verão.

Carne mal-passada: Na minha opinião, já é terrível o suficiente a gente comer cadáveres. Existem pessoas que, não satisfeitas com isso, ainda gostam de ver o boi sangrando no prato. Eu acho nojento, bárbaro e... nojento. Sem falar no gosto de sangue e no aspecto horrível da carne quase crua. Ainda bem que aqui em casa, quando se faz churrasco, a gente assa a carne, antes de servir...

Doce + salgado: Uma coisa é uma coisa, outra coisa, é outra coisa! Não suporto essas misturebas. Acho a coisa mais nojenta do mundo ver alguém comendo pão com manteiga e geléia. Ou cuca com manteiga. Em terras de alemão se vê muito disso, mas eu não sou alemoa e não acho a menor graça. E ainda faço um escândalo, se alguém usar a mesma faca para a geléia e a manteiga. Também por isso, eu prefiro passar longe de qualquer coisa “agridoce”.

Cenoura, beterraba, abóbora, batata-doce: O mesmo problema do item anterior. Misturar coisas doces com a comida “de sal” não me desce. Abóbora é comida de porco, é o que eu costumava dizer a minha mãe. Até ela me xingar e eu ter que usar outro argumento "anti-quibebe". Honrosas exceções: cenoura crua (que não é doce) e doce de abóbora.

Vísceras ou “coisas nojentas de dentro do bicho”: Pelo amor de Deus, né? Já faço um esforço tremendo para comer carne, sem lembrar que se trata de um cadáver. Não há a menor necessidade de eu ter que comer, também, os órgãos internos do pobre animal abatido-para-o-nosso-bem. Fígado? Rins? Língua? Pura nojeira. A única e honrosa exceção que faço, vez por outra, é comer coraçãozinho de galinha.

Este texto, na verdade, não tem fim. Posso passar horas e horas falando mal de tudo o que eu não gosto de comer. Posso até dividir em mais categorias: “só como se for ameaçada de morte” ou “nunca comi, sempre odiei”. Eu ainda nem disse o que eu penso sobre salsicha, mocotó, arroz-doce... Mas tenho que parar por aqui. É que eu fiquei meio enjoada, sabe? Vou ali, comer um chocolate.

domingo, 15 de junho de 2008

Deus: um ensaio sobre o homem

Em recentes discussões com Dave Coelho, acabei me deparando com aquele inevitável axioma acadêmico: “Deus não existe”.

Acadêmico, pois, desde Sartre (como já dito mais de uma vez neste blog) é “chic” dizer que Deus não existe. Na verdade, desde Nietzsche. Na verdade, já fazia tempo que as pessoas sentiam vontade de negar Deus.

Mas o Deus católico. Castrador. Impossibilitador. Que punha os senhores feudais e servos em categorias diferentes de ser humano. E depois, o cristão diz que o sistema de castas da Índia é desumano...

Enfim... Já devia fazer um tempo que as pessoas não agüentavam aquele sistema. Acho que até por isso, a burguesia e o capitalismo cresceram e destruíram o sistema feudal. As pessoas não agüentavam mais ficarem presas a uma vida só.

O capitalismo permitia a ascensão social. Permitia ir mais longe. Inclusive, permitia comprar indulgências (pra quem não sabe, a Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana vendia a entrada no céu... E hoje, se reclama de certas denominações evangélicas que pregam Je$u$).

Isso motivou Martinho Lutero. Levou-o a criar uma nova concepção. O que levou ao acontecimento da Reforma.

E não foi só na Alemanha. Na Inglaterra, a Igreja Anglicana. Que mantinha o poder para a nobreza. Mas já havia um meio do povo participar das decisões, com a Câmara dos Comuns, que nada mais é que a Assembléia do Povo, para ajudar a tomar as necessárias decisões.

Até hoje, existe a nobreza na Inglaterra. Mas perdeu muito de seu poder, sendo um “cargo” apenas simbólico. Mas isso não é o ponto.

Nesse momento da História, as pessoas começaram a perder a idéia da Soberania da Igreja. Agora, você podia escolher um caminho. E com a chegada do Iluminismo, as pessoas começaram a ter coragem.

Coragem para negar. E aceitar outros termos, outras idéias. Outras concepções. Várias igrejas protestantes surgiram. Claro, houve a Inquisição, a Contra Reforma. Isso só motivou mais ainda o Protestantismo.

Com o Iluminismo, as pessoas passaram a pensar por si sós. Passaram a compreender o mundo. A Ciência se tornava o novo Deus. Mas com ele, surgiu a negação de Deus. Na verdade, o Iluminismo cedeu lugar ao Niilismo, (ou Nihilismo, que vem de Nihil, “nada”, em latim) que afirmava que “do nada viemos e ao nada voltaremos”, ou seja, então, pra que seguir um Deus paternalista, castrador, etc...?

Quer dizer: com as idéias da Ciência evoluindo mais e mais, chegou-se à determinada conclusão de que Deus não poderia existir. Deus não existindo, o Céu, o Inferno, os Anjos, os Demônios, os profetas, Jesus, tudo.... Também não existia. Conceber um “além mundo” era impossível, uma vez que era impossível provar.

Isso criou o Niilismo. Uma forma de pensar que propõe que vivemos aqui morremos aqui. Ponto. Não há céu, não há inferno, não há Deus. Não há nada. Nihil.

Nesse momento, aparece Nietzsche. “Deus está morto”, disse ele. Já disse: Nietzsche criou toda essa presepada por odiar o pai, pastor luterano ferrenho. Quer dizer... Presepada, porque não tem baseamento filosófico. “PQP, Fio! Tá dizendo que um dos maiores luminares da filosofia ocidental não tinha baseamento filosófico pra afirmar isso?!?!?!!?”.

Nietzsche: "Deus está morto. E eu também."


Precisamente.

Não só na filosofia, como em qualquer área, quando existe personalismo, quando a pessoa é levada a determinado pensamento por questões pessoais, perde a validade.

O mesmo aconteceu com Sartre, e o Existencialismo.

Sartre: "Eu vejo tudo claro à minha frente"


“O Existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino.”

Sartre solta:

"... se Deus não existe, há pelo menos um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significa então que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente é nada. Só depois será, e será tal como a si próprio se fizer."

Ou seja, tabula rasa. O homem não é nada, ao nascer. E o meio o molda.

E onde foi Deus, nessa estória toda?

Deus está onde sempre esteve.

Eu acredito que os homens, todos eles, tem o direito de pensar o que quiser. Assim como eu tenho a liberdade de refutar tudo o que esses homens pensam. Eles são retratos de suas épocas, Zeitgeists do que o mundo foi, em determinadas épocas.

Mas pra mim, hoje, não dizem nada. Que atacassem o modo como o homem fez e faz as coisas até hoje, eu entenderia.

Mas atacar Deus...

Muito se fala que “mais pessoas foram mortas em nome da Religião, que em nome do Ateísmo”.

Correto.

Mas em nome da Religião, meus caros. Não de Deus.



Deus: "Eu não sei de nada. Só tava dando uma passeio por aqui."

sábado, 14 de junho de 2008

As aparências enganam

Um pequeno dado sobre mim: odeio calçado novo.
Não que eu seja um desses novos hippies "parem a globalização", mas o fato é que eu odeio aquele período de adaptação, meu pé parece rejeitar aquele yuppie novato e clamar por seu antigo companheiro de caminhadas.
O lado bom disso é que eu passo um bom tempo usando o mesmo tênis... Ah, vai! Na verdade, eu passo um boooooooooooooooooooom tempo usando o mesmo tênis, até que ele comece a descosturar (pelo menos isso). Minha mãe se desespera, diz que eu fico parecendo um mendigo, mas o que eu posso fazer se o tênis alargado é mais confortável, se eu gosto de ficar tirando e colocando o pé sem precisar tirar todas as amarras? Pra mim, calçado novo = espartilho.
Anyway...
Estava eu no banco de trás do ônibus, com meu já gasto Addidas, logo após cansativos SEIS HORÁRIOS DE AULA, com olhar cansado e aparência totalmente desgrenhada, quando entrou um desses filhinhos de papai que estudam no CEI e que nunca andam de ônibus desacompanhados (se é que ao menos já entraram num transporte público) e sentou ao meu lado.
Logo que percebeu que estava ao lado de um largado, contraiu-se completamente, assumindo postura típica de quem está tenso. O cara olhava insistentemente para meus tênis, como se os coitados arquejantes fossem pular nele e gritar "Assalto!".
Um lugar ficou vago ao lado de um cara bastante bem vestido sentado próximo ao meu assento, mas a etiqueta (acho eu) não permitiu que o garoto corresse pra lá.
Depois que cansei de observar aquela cena, puxei minha bolsa no intuito de pegar algo pra ler. O movimento foi brusco e fez com que um dos livros que estou lendo voasse da minha mochila. Voou o livro, pulou o garoto. O medo de um assalto o fez correr e sentar ao lado daquele cara que eu julgo ser um executivo.
Páginas depois, vejo o homem de terno descendo apressadamente do ônibus e correndo em direção à escuridão (sempre quis usar essa frase).
Executivos... sempre apressados...
Mas não! O garoto tá chorando e...
Ah! Meu! Deus! Ele foi assaltado! Pelo cara de terno e sapato bonitinho! Pelo o que consigo entender (ele fala igual a Chiquinha quando está chorando), o bandido falou "Perdeu preiboi" (odeio essa expressão) e walked away igual na música da Amy.
No começo tive pena do garoto, muita pena. Talvez aquela tivesse sido uma tentativa de mostrar ao pai que ele não precisava de tanta proteção, e talvez ele desenvolva síndrome do pânico por causa disso... Sem contar que a proteção do pai vai dobrar!
Mas depois fiquei pensando no quanto tudo aquilo foi irônico... Ele ter pensado que EU (um blogueiro desapegado das coisas materiais - tá, isso já é mentira.) o assaltaria... Ambos terem achado que o cara era um executivo...
Depois comecei a pensar no quanto essa situação dava um post...
Agora comentem...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Ronald Rios está apaixonado

E por causa disso escreveu em seu blog um texto para a "sua menina". O cara me fez lembrar dessa propriedade incrível que o amor tem de nos deixar em transe. E aí eu resolvi desempacotar meus diários de 2005 pra encontrar esse texto, que eu agora divido com os senhores.

"Eu nem sei que espécie de atrevimento é esse que precisarei usar para descrever meu atual estado de espírito.
Volto aqui a caducar sobre paixões. As que me visitaram até então, foram lindas e saudáveis, mas sobretudo cruéis. [E por onde eu começo?]
Sem delongas: Eu estou apaixonadíssimo. E é diferente agora porque é recíproco. E é um tal de se sentir valorizado, amado... E é um tal de pensar nos olhos do meu amor, no som da sua voz, no ritmo cadenciado do andar, nos cabelos que dançam junto. Penso em como é deliciosa aquela gargalhada. Lá vou eu me dedicar a ouvir os causos e causos hilários, saber como foi o seu dia... Contar a falta que faço, a saudade que provoco. Penso na vozinha admitindo o ciúme que sente. E cá estou a ler as mensagens meladas de saudade - e que eu não apago do celular. Penso no quanto é bom ouvir meu nome transformado em apelidinhos carinhosos.
E lembro do Vinícius, lembro do Tom, do Fernando Pessoa... Lembro deles falando de seus amores. Lembro deles e os imagino com os olhos brilhando como os meus, com as mãos gelando como as minhas e com o coração trepidante, igualzinho ao meu. E os leio. Os ouço. Os bebo.
E penso de novo no meu amor que me impulsiona a viver 'cada vão momento', feito o mais adorável dos ridículos (e me isentando dessa alcunha).
Penso e vivo."

Feliz Dia 12 aos que amam.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Você tem medo de quê?


Eu sou uma das pessoas mais medrosas do mundo, sério mesmo. Não no sentido “fresca”, e sim no sentido de ser frouxa mesmo.
Um amigo meu vive falando que “foi feita uma pesquisa e detectaram que o maior medo do ser humano é falar em público”, eu me incluo nessa categoria, embora meu pavor por injeções e dentistas lidere a lista das minhas fobias.

Se eu tiver que apresentar um trabalho, é certeza de que na noite anterior eu não vou conseguir dormir direito, só pra mostrar como essas coisas são estranhas: eu adoro teatro, não sinto vergonha nenhuma, durante um bom tempo eu pensei seriamente em ser atriz, fazer faculdade de artes cênicas e talicoisa, enfim, vai entender, né?

No quesito bichos, por exemplo, até que não sou de me apavorar fácil. A Luna já disse aqui que tem medo de galinhas , e eu não simpatizo muito com bodes. E cobras, apesar de não dar chiliques (passar férias no interior serve para alguma coisa – meu tio costumava colecionar as cobras que ele matava em potinhos de vidro com álcool, credo).
Baratas não me assustam, lagartixas são muito mais asquerosas.

E existem os medos bizarros, por exemplo, no lançamento do último livro de Harry Potter eu fiquei com todo aquele receio de começar a ler, medinho de saber como tudo iria terminar; medo de uma das ladeiras da Federação (depois que o ônibus em que eu estava quase despencou, me traumatizei com essa ladeira – e é o caminho para a faculdade), coisas desse nível...

Medo de aulas, também. Cálculo na quarta série, matemática no primeiro ano, física no terceiro...Cada ano tem a matéria assustadora da vez. Ou o professor assustador.
E os medos-que-todo-mundo-tem: de despedidas, de morte, de solidão, de incertezas.
Quando eu tiver dinheiro (medo de não ter dinheiro?) eu pago um analista.

sábado, 7 de junho de 2008

Gentilmente...

Gentilmente, ele tirou os óculos, e os pôs sobre a cômoda. Desabotoou a camisa, os punhos, o colarinho. Jogou-a no cesto de roupas sujas. Tirou os sapatos. As meias, que tiveram o mesmo destino da camisa. Desabotoou sua calça, e sentou-se à beira da cama.

Tornou a pegar os óculos, e gentilmente, colocá-los sobre o nariz e as orelhas. Ligou a TV, e viu as notícias de hoje. Um homem havia se matado, jogando-se do alto de um prédio. Uma mulher perdeu seu bebê, ao parar para olhar uma vitrine de roupas. Os Estados Unidos em crise econômica. As reservas naturais do país sendo destruídas. Pessoas de diversos lugares morrendo no trânsito. Pessoas sofrendo com fome. Pessoas sofrendo de doenças horrendas.

Tirou, gentilmente, os óculos outra vez. Esfregou os olhos com os dedos. Para tentar fazer a dor diminuir. A dor que sentia por não conseguir se ajustar à vida ordinária que todos vivem. E que se sentem felizes em ter. Olhou o retrato dela. Enxergava apenas um borrão.

Gentilmente, pôs os óculos outra vez. Agora via o rosto dela, todos os traços, todo o brilho nos olhos dela e dele. O sorriso dela. O jeito que o cabelo dela era jogado pelo vento, no momento da foto. Olhou para seu próprio rosto na foto. E viu seu próprio reflexo. Nem em um milhão de anos parecia a mesma pessoa.

Tirou os óculos, gentilmente. As lágrimas que agora lhe escorriam dos olhos, também vieram, gentilmente, como a aplacar a dor que sentia. Ela havia ido embora fazia já 10 anos. 10 anos que ele, todos os dias, praticava o mesmo ritual. Todos os dias, lembrando dela. Todos os dias, sabendo que ela nunca voltaria.

Gentilmente, colocou os óculos de volta. Já era o momento de superar tudo isso. O momento havia chegado, finalmente. Depois de todo o planejamento, de tudo conferido, de tudo feito. Ela não mais existia, e logo, ele também não. Tirou as calças, a roupa de baixo. Deitou-se na cama, olhando para cima, os olhos abertos. O espelho no teto, que havia sido idéia dela, lhe mostrava como o tempo havia passado. Os pêlos em seu peito, antes morenos, agora eram cinza. Seus próprios cabelos, com o mesmo tom de cinza. Sobrancelhas, pêlos pubianos, os pêlos das pernas. Cinza. Cinza, como todos os seus dias, desde que ela se fora.

Tirou os óculos, gentilmente. Lembrou-se da consulta com o médico, ocorrida há seis meses. O câncer havia se alastrado. Tomado seu corpo. O médico havia lhe dado seis meses de vida, ainda. Não havia o que fazer. Apenas esperar. Mas ele cuidou de tudo. Deixou suas posses para os filhos. Igualmente dividido, como ela gostaria. Não gostava que fosse feita diferença entre qualquer um dos três filhos. Todos estavam já bem casados, com bons empregos. Só saberiam de tudo quando ele tivesse ido.

Voltou à, gentilmente, colocar os óculos. Lembrou-se da primeira noite com ela. Quando os sonhos não tinham limites, quando a vida era mais simples. Apenas eles dois, quartos de motéis. O espelho no teto foi idéia dela. Para que nunca se esquecessem do momento na vida de ambos em que tudo era perfeito. Quando eram só amor. Só um para o outro. Completos. Depois vieram as crianças, os problemas de ambos com o trabalho. As dificuldades financeiras. Tudo havia sido superado. Lembrou-se daquela tarde chuvosa quando deram seu primeiro beijo. A lanchonete em que a pediu em namoro. A primeira noite, novamente. O restaurante onde a pediu em casamento. O casamento. A lua de mel. E os filhos. Todos lhe davam orgulho, ainda que não fosse exatamente o que tinha sonhado. Mas eram seus filhos e os amava da mesma maneira.

Gentilmente, tirou os óculos. A visão se turvava. “Então é agora” pensou. Mais uma vez, lembrou-se da primeira noite. Quando ela se despiu. A primeira noite. Quando ela veio ao seu encontro na cama. A primeira noite. O beijo profundo, com o calor do corpo dela sobre o seu. A primeira noite. Quando ela o enlaçou com as pernas, e ele se sentiu dentro dela. A primeira noite. Quando ela, gentilmente, tirou seus óculos.

Não havia mais sons. Não havia mais luz. Nada.

Apenas a lembrança dela, gentilmente, tirando seus óculos.

Uma luz surgiu. Ele não conseguia definir o que era. Apenas a dor havia ido embora. Não havia som, não havia nada. Só ele e a luz.

A luz se aproximou. Cada vez mais. Até quase cegá-lo.

Ele sentiu as mãos passando por seu rosto. Ele reconhecia aquele toque. Como na primeira noite. Quando ela tirou seus óculos.

Sentiu algo se aproximando de seu rosto. Algo que pousou em seu nariz, e orelhas. Seus óculos. Abriu os olhos, e viu o rosto dela.

Como na primeira noite. Para sempre.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

As meninas

Durante o último ano do curso de jornalismo na Cásper Líbero, eu tive a disciplina Ética Jornalística. Sabe aquelas aulas que você viaja, pensa em milhões de coisas, mas não presta atenção no que o professor diz. Pois é, era assim. Uma das poucas aulas que conseguiu segurar minha atenção foi uma em que analisamos o quadro As meninas, do espanhol Diego Velásquez.

As meninas foi pintada em 1656 e é, hoje, uma das mais famosas obras européias e frequentemente analisada. Feita durante a fase “La Familia” do pintor, a obra retrata a pequena princesa Margarita, da Áustria, cercada pela sua corte de damas e empregados. À esquerda da pintura, está a figura do próprio Velásquez, retratando o casal real. Os dois, Felipe IV e Mariana da Áustria, são refletidos no espelho que está no plano de fundo do quadro. As meninas, do título da obra, na realidade, são as duas personagens ao lado (uma à esquerda e outra à direita) de Margarita.

Na minha aula da faculdade, utilizamos a leitura de Michel Foucault para entender o enigma criado por Velásquez em sua obra. Para resumir, o autor atribui o tema da pintura ao espaço externo, ou seja, nós, admiradores da obra, vemos exatamente o que o casal real vê. Na verdade, Felipe IV e Mariana são o motivo do quadro a ser pintado por Velásquez.

Na minha interpretação, gosto de imaginar que Velásquez fixou um momento real muito antes da idéia da máquina fotográfica ser pensada. Foucault frisa a autonomia do quadro, em parceira com o conceito de representação, que é fundamentado na imitação da realidade. E é exatamente essa representação que Velásquez faz em sua obra.

Eu sempre fiz a relação deste quadro com o conceito de metalinguagem. Escrever sobre o ato de escrever. No quadro, o pintor pinta sobre o ato de pintar. E eu acho simplesmente sensacional.

P.S.: A inspiração para o texto veio quando acessei a página do Google e encontrei uma referência ao pintor Velásquez. O que imediatamente fez com que viesse à minha lembrança o quadro As meninas. Hoje deve ser alguma data importante, mas eu desconheço. Se alguém souber o motivo da homenagem do Google ao pintor (o logotipo do site de buscas é o próprio quadro que comentei no texto de hoje), deixe um comentário por aqui. Melzinha agradece a informação.

P.S.2: Alguém aí sabe a maniera correta de escrever o sobrenome do homem? Velásquez ou Velázquez?

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O filho que eu quero ter

Rafael, Gabriel, João, Daniel, Fernando.
Me dei a pensar no filho que quero ter.
O ideal de moleque menino. Moleque menino me parece mais prático que menina. Não tem lacinho, nem renda, nem cuidado com moleques meninos cheios de terceiras intenções.
Meninos fazem mais barulho, mais bagunça e por isso ficam cansadinhos rápido, dormindo cedo.
O abraço de criança é de uma forma inocente e impossível de adjetivar. Mas aos pais, esse abraço é tão mais valioso que é atrevimento tentar descrever. O filho que eu quero ter precisa vir com o melhor abraço.
O filho que eu quero ter precisa ir dormir depois que catar a benção do Pai, por meu intermédio. E eu devo contar uma ou outra história antes que ele durma. Ainda tenho os paradidáticos que li quando criança, afinal.
É difícil entender esse amor que os pais têm por seus rebentos. O filho que eu quero ter precisa me explicar como isso funciona.
Ora, o filho que eu quero ter precisa mesmo vir com um montão de respostas. E numa bolsa especial, situada em seu coraçãozinho de moleque menino, que me traga uma porção de sentido.
Eu quis que meu filho fosse um pequeno eu. Que fosse uma versão melhorada de mim. Que fosse ele um outro eu, com falhas corrigidas. Que gostasse das mesmas coisas que eu, só que com mais propriedade.
Mas o filho que eu quero ter não pode ser mero fruto de meu egoísmo.
Então, que tenha saúde. E que no final, fique rico.


Baseado na canção homônima de Vinícius de Moraes e Toquinho.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Cara de pobre

Dias atrás, estava eu conversando com o querido Nanael, quando ele usou a expressão "cara de pobre". Mais tarde, num janelão no MSN com meus colegas de blog, chegamos à conclusão de que nós todos temos cara de pobre. Fiquei imaginando que tipo de pobres nós seríamos. O resultado é o que se vê a seguir.

Fio é um pobre que usa correntes no pescoço, camisa aberta e chama as mulheres de princesa. Ele tem um Fiat-147 caindo aos pedaços, cuja única porta que abre é a do lado do caroneiro. Precisa fazer o maior malabarismo para conseguir entrar. Além disso, em dias de chuva ele anda a pé, pois o carro não possui limpador de pára-brisas. E o dono não tem dinheiro para mandar arrumar. A maior diversão de Fio é ir ao pagode, onde ele canta todas as mulheres e não consegue nenhuma. Talvez seja por causa do Fiat-147 e do excesso de desodorante Avanço.

Luna é uma pobre desnutrida. Ela deixa de comprar comida para ir à manicure fazer unhas decoradas. Coitada, ela pensa que isso é chique. Uma vez por semana, ela vai ao bailão, onde gosta de dançar com o Valdecir, que não quer namoro firme, por achá-la muito magra.
Está guardando dinheiro para ver o show do Zezé, seu ídolo máximo. Nas horas vagas, ela gosta de pintar panos de prato, que vende para as colegas do bailão, por dois reais o par. Luna fala “seje” e “menas” e até aceitaria dar umas voltas com o Fio. Ela acha chique homem que tem carro. Qualquer carro.

Frank é um pobre plantador de macaxeira e jerimum. Seu maior sonho é comer sanduíche de mortandela, mas nunca sobra dinheiro para isso. É um rapaz trabalhador, que ganhou os óculos num programa filantrópico do governo. Só estudou até a quarta série, pois precisava ajudar os pais na lavoura. Está economizando para comprar um computador – mas primeiro, precisa que a luz elétrica seja instalada lá na roça. No seu pouco tempo livre, ele se diverte ouvindo Tairone Cigano no seu radinho à pilha. Comprado em doze prestações, de um caixeiro-viajante.

Meg é uma pobre lavadeira. Seu marido, aquele traste do Dejair, a abandonou quando estava grávida. Hoje, ela faz de tudo para sustentar sua filha Kaylinny. Semanalmente, ela vai à prefeitura buscar um ticket, que troca por um lidileite. Sua única diversão é ir ao forró perto de casa, onde não dá trela pra homem nenhum, porque é tudo um bando de imprestável. Meg sonha com um futuro melhor para a sua Kaylinny, por isso, freqüenta o supletivo à noite e vende quibe nos finais de semana.

Melzinha é pobre, mas é limpinha. Só usa roupas de griffe, todas compradas no camelô. Vai para o trabalho a pé, para economizar passagem e sobrar dinheiro para a balada de fim de semana – geralmente, um ensaio de escola de samba ou um churrasco na laje. Seu maior sonho é casar com um jogador de futebol. Do Corinthians. Gosta de homens românticos, que cantam “Mel, sua boca tem um mel...” e dão ursinhos de pelúcia da Lionella. Fio, sempre que a vê, grita: “Ô, princesa! Vem morar no meu castelo!”, mas ela morre de medo dele. E do Fiat 147.

Dave é um pobre desencanado. Não se importa com dinheiro, pois acha que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". Seu trabalho é pintar camisetas de Che Guevara, Raul Seixas e Renato Russo. Vende todas na feira hippie, às terças. No resto do tempo, ele toca violão, bebe caipirinha e é muito feliz. Dorme em qualquer cantinho e sonha em ir para São Thomé das Letras a pé. Seu único calçado é um par de havaianas. Nunca comeu sanduíche de mortandela, mas nem liga. Ele acredita é na rapaziada.

Elmo é pobre, mas pensa que não é. Trabalha como segurança de um cabaré na beira da rodovia, onde também se apresenta fazendo dublagem de Latino. Nas horas vagas, se dedica a pesquisar um revolucionário produto de alisamento de cabelos. É um rapaz cheio de sonhos e esperanças. Está em dia com as mensalidades do carnê do Baú e sonha em ser sorteado. Mantém a forma física com lamba-aeróbica e é um verdadeiro Don Juan, o que deixa Fio morrendo de inveja.

domingo, 1 de junho de 2008

O Caminho do Meio

Há tempos, a humanidade busca por um “caminho da felicidade”. Um caminho que leve o ser a um estado de graça, a uma vida perfeita.

As notícias que se tem, atualmente, dizem que há pelo menos 10.000 anos o Homem busca por isso.

Na verdade, o Homem busca por isso desde seu surgimento. Desde que o homem existe, ele busca por uma vida livre de sofrimento. Uma vida “feliz”. Até hoje, parecia não ter encontrado. Mas alguns dizem que sim. E outros dizem que sim, mas que é muito complicado.

Eu não diria uma coisa, nem outra. Mesmo porque, uma vida completamente livre de sofrimento é impossível para o nosso nível de desenvolvimento humano. Não o IDH da ONU, mas o índice geral de “civilidade” (palavra tão dita hoje, mas que perdeu seu significado com o tempo, onde homens ditos “civilizados” se anatematizam por um pedaço de terra, ou coisa do tipo); o índice não contabilizado que diz o quanto estamos perto ou longe do que a maioria das religiões, em especial as espiritualistas, da “perfeição divina”.

A questão é que sempre entramos num impasse, quando se fala de perfeição, ou perfectibilidade. Por um lado, se dissermos que o ser humano pode ser perfeito, logo, o ser humano pode se tornar Deus. “Sois Deuses” (João, 10:34), disse o Cristo.

Porém, se o ser humano é perfectível, e por conseqüência, um Deus, porque deve louvores ou qualquer coisa a outro Deus? É o que diz o Budista, quando menciona o Todo Universal. O Budista ignora a existência de um Deus, paternalista. O que existe, é o amor ao próximo. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.

Este é o grande e primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mateus, 22:37 à 40).

Ou seja, Cristo predicava que o amor ao próximo é tão importante quanto o amor à Deus.

O Budista diz que o amor ao próximo é o mais importante.

De certa forma, dá tudo na mesma.

Mas esse não é o ponto. A questão é:

O homem se digladia, não só com Deus, mas consigo mesmo, desde o início dos tempos, e da consciência humana, a entender seu mundo, e como reagir à ele. Para se livrar de uma vida de sofrimentos. É para isso que existem as religiões.

Para mostrar um caminho diferente, aos homens. Mostrar-lhes que existe uma possibilidade de ser diferente, e deixar de lado o sofrimento.

Lógico, que com o passar do tempo, se criou, em especial no eixo judaico cristão, a idéia de Bem X Mal, ou seja, que a vida humana é apenas um joguete na mão de forças mais poderosas que ele, personificadas em Deus (Javé, Deus ou Alláh) e no Diabo (Lúcifer, o Anticristo ou os djinns).

Porém, o que poucos enxergam, é que as lutas “bem x mal”, ou das tristezas contra as alegrias, ou dos pecados contra as virtudes, só existe dentro do próprio ser humano.

Achamos errado matar qualquer ser vivente sobre a Terra. Um leão, ao perseguir uma corsa ou antílope para se alimentar, não se questiona se é certo ou errado. Apenas faz aquilo que pertence à sua natureza. Consegue imaginar um leão vegetariano?

O Homem se esquece que é animal, também. E precisa seguir e ter instintos. Caso contrário, é negar aquilo que foi desde o surgimento da raça humana. O que o manteve e mantém vivo. Aquilo que fez com que o homem “crescesse e se multiplicasse”. “... frutifiquem e se multipliquem sobre a terra.” (Genesis, 8:17).

Mas também, se entregar a isso não é bom para o Homem. Uma sociedade onde tudo fosse permitido... O que seria? Não haveria o que Freud chamou de Sublimação, que é quando o homem deixa de gastar a libido (energia) apenas com o sexo, mas com algo que é produtivo, não apenas para si próprio, mas também para a coletividade à qual pertence. O próprio Freud, ao final da vida, disse que na verdade, o Amor estava por trás de tudo. Fosse o amor ao próximo, ou aos entes queridos.

Porém, tudo isso faz parte do ser humano. Seja o “bom, o bem, o limpo, o virtuoso”, seja o “mal, o mau, o sujo, o pecaminoso”. O homem tem tanto luz quanto trevas dentro de si. Tem tanto santo quanto demônio. Tanto Deus quando Diabo.

Diziam os antigos “In Medio Stat Virtuus”. A virtude está no equilíbrio.

Ou seja, sabermos equilibrar o que há de bom e mau em nós, isso é a verdadeira sabedoria. Saber que somos capazes dos atos mais puros, como dos mais degradantes. E saber escolher o que é necessário, dado o momento.

Às vezes, é necessário ser rude com alguém, para que a pessoa saia de uma atitude que apenas lhe faz mal. Como também é necessário ser suave com aquele que cometeu crimes.

Ou seja, tudo depende da necessidade momentânea. Claro que é necessário olhar para o futuro. Mas vivendo no presente, e lembrando o passado, para não incorrer nos mesmos erros.

O Homem já conhece esses conceitos, há séculos. Quem conhece o Taoísmo, compreenderá.



Yin e Yang, energias em equilíbrio.

Eis o caminho, não da felicidade, mas da vida com menos estresse.