A palavra ciúme é deveras interessante. Em espanhol e em inglês, tem mais proximidade com o sentido original da palavra, "zelumen", que envolve também um sentimento de cuidado, não somente de posse, como tem se configurado no nosso português. Da mesma origem, vem o termo zelo, palavra para nós mais correlata ao cuidar do que ao querer só para si.
Em alguns trechos da Bíblia, Deus descreve a si mesmo como "zeloso", apesar de algumas traduções preferirem "ciumento".
A questão é, novamente, a tradução. Uma análise mais acurada volta à origem do termo - zelo. Na vulgata latina, usam-se os termos correspondentes a zelo e zeloso.
Resgatar o sentido original da palavra é um bocado esclarecedor, já que normalmente alguns a usam para "justificar" atos bárbaros, covardes, agressivos, atribuindo assim à palavra ciúme algo que ela não possui em nenhuma das suas acepções. Tudo em nome de uma interpretação mesquinha da palavra, e mais mesquinha ainda de vida.
Mas, musicalmente falando, ciúme é uma palavra bem democrática, existindo em vários estilos. De roquenrous alegres a melodramáticas composições, todo mundo tem um pouquinho do ciúme, esse mostrinho de olhos verdes tão associado à inveja (até semanticamente). Senão vejamos:
1. Roberto Carlos, na canção que dá título ao post, mente qeu não gosta do vestido da moça por "ciúme de você".
2. O mesmo Roberto não cansa de cantar que desconfia da amada e explica a ela: "meu ciúme" é culpado por tudo.
3. O Ultraje a rigor, numa de minhas letras preferidas, tenta explicar que não consegue ser muderno em "ciúme "(que o RC também cantou em especial).
4. Em antológica canção brega, Jane & Herondy culpam o ciúme por sua separação na famosa "Não se vá".
5. Caetano, lânguido e ambiguamente esplendoroso numa tarde telúrica enebriante de rimas quiçá complexas em um ávido instante (gostaram?) também canta "o ciúme".
IAGO (para Otelo): "Acautelai-vos senhor, do ciúme; é um monstro de olhos verdes, que zomba do alimento de que vive. Vive feliz o esposo que, enganado, mas ciente do que passa, não dedica nenhum afeto a quem lhe causa o ultraje. Mas que minutos infernais não conta quem adora e duvida, quem suspeitas contínuas alimenta e ama deveras!". Na peça Otelo, de Shakespeare (ato III, cena III), o sentido doentio do ciúme em seu mais trágico esplendor.
E você, canta o ciúme de que forma?
9 comentários:
Ao ciúme eu canto assim: Joga fora no lixo, joga fora no lixo, joga fora no liiiixo! Não culpo meus sentimentos pelas besteiras que faço, eu os alimento e sou, portanto, integral responsável por todas as suas conseqüências.
Hahah, essa música é legal, né?
E, Nanael, pelo jeito vamos ficar só nós dois, aqui sozinhos.
Será que rola um ciuminho dos demais talicôsers?
tomara...
Bem, ficou acordado por Ministério Público que cada um faria seu texto no dia cabível. No andar da carruagem, ficaremos só nós dois no blog por algum tempo.
Arrá-urrú, o Talicoisa é nosso, arrá-urrú!
:P
Gente, será que com esses comentários vocês não espantam quem estiver afim de ler / comentar? Pq, né...
Oba!
Um comentário diferente! :P
Não esquenta, Meg, é só ciúme... rss
É uma coisa a se pensar, né?
Eu lho sabo-lho, menina.
E sobre o textículo, algo?
:o)
Ciúmes me faz lembrar um texto zen em que o monge nos exota a se livrar de toda a idéia de propriedade, inclusive o ciúme... Muito interessante até.
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