sábado, 23 de janeiro de 2010

Ah, a marmeleira!

Só se olha com saudades para o passado quando o presente não dá conta do recado, e o futuro anuncia que pode ser ainda pior.

Há lugares aonde só vou arrastado, pelo mínimo possível de tempo, o shopping center é um tipo desses. Pior ainda quando cheio de adolescentes ou crianças mal criadas.

Certa feita, entro em uma fila para pegar meu pacote, havia uma festinha infantil para dali a uma ou duas horas. À minha frente havia uma mulher que demonstrava claramente seu despreparo para a função de mãe, o fedelho mexia teimosamente em um boneco horroroso e todo empelotado, que mais parecia uma biba de cademia do que o Wolverine...

- Carlinho, pára de mexer! Pára, Carlinho. Carlinho, não mexe. Eu não vou levar a sua picapinha! Carlinho, não mexe que o homem tá olhando!...

No decorrer da ladainha, o moleque não dava a mínima para o que ela dizia. Não sei qual dos dois merecia mais um correctivo, talvez uma vara de marmelo nos glúteos. Sei que tirei o brinquedo horroroso do lugar assim que ele virou as costas e saiu, embora a mãe ainda estivesse na fila. Brinquedos horrorosos, aliás, estão tendo safras recordes há anos.

Já fora da loja e longe do ar condicionado inexplicavelmente no máximo, vejo mais exemplos de uma geração que dará continuidade às gangues, no que depender de seus pais. Molecotes onde a espiral genética precisa ficar dobrada, por falta de espaço, dominando os marmanjos com "Eu quero é agora!" ou chutes impunes no tornozelo. Depois de "Ai, machucou o papai" fiquei em dúvidas sobre quem deveria jogar pelo vão, dois andares abaixo, mas logo descobri que me tornaria um serial killer. A doença se alastrou.

Nas praças de alimentação o festival de desperdícios ratificava minha posição. Pratos e copos deixados pela metade davam uma idéia clara do que acontece no ambiente doméstico. Fora aqueles pezões enormes a obstruírem a circulação entre as mesas, que já são muito próximas para o meu gosto. Para alguns deve parecer humilhante não deixar ao menos uma colher sobrando no prato, ou não pedir um king full size quando um sanduíche médio já satisfaria.

"Com licença", "me desculpe", "por favor" e "obrigado" parecem ter se tornado atestados de inferioridade social, tanto mais quando mais jovem o indivíduo. Verdadeiros reizinhos.

Eu não sou a favor de maus tratos, sei muito bem a discrepância de forças que há entre um adulto e uma criança. Muitos canalhas se valem do argumento de "educar os filhos" para descarregarem neles tudo que não podem descarregar do mundo, ou naquele policial enorme que mandou tirar o carro da vaga para deficientes. Um dia os filhos ficam grandes e eles ficam velhos.

Fora isso, uma orelha puxada no acto da birra produz efeitos miraculosos, dá direitinho o recado e a noção de causa e conseqüência. Porque se a família não der a educação necessária, o mundo lá fora vai fazê-lo da pior forma, agrava muito se o adulto de então não souber lidar com frustrações.

O chefe (ou o cliente) não vai admitir ser maltratado, será demissão no primeiro chilique, para que o mau comportamento não se dissemine na empresa. Entre perder um cliente e perder um empregado encrenqueiro, ele não terá dúvidas.

Vi naquela fatídica tarde uma geração inteira totalmente despreparada para o que a vida mais oferece, lições que são tão duras quanto maior for a incapacidade de aceitá-las. Mesmo para quem nasceu e cresceu na adversidade essas lições podem ser traumáticas, mas este consegue digerir, quem foi mimado não consegue nem mesmo acreditar nela.

Ser agressivo, bruto e tirano com os pais não é "normal" nem "cousa do mundo moderno", é animalismo. As pessoas estão achando normal ter um bicho que morde, se suas vontades não forem feitas na hora, como se a única utilidade da família fosse lhe dar prazer; mais ou menos como achar normal o cão segurar o dono pela coleira.

Também ajuda a estragar quando os pais acham que ter recursos, é ter obrigação de dar tudo o que puder para quem não precisa e não merece. Saber quanto custa ganhar algo não é chantagem, não sei de onde os pais tiraram que uma criança não deve nem saber que existe dinheiro, quanto mais o trabalho que dá para ganhá-lo.

Para quem acha que uma palmada dói, advirto que a polícia bate muito mais forte e com muito mais vontade.

5 comentários:

Adriane Schroeder disse...

E, citando aquela musiquinha infame:
Dói, um tapinha não dói, um tapinha...
E tem mais, criança não apenas precisa de limites, mas se sente segura com quem deixa claro quais são.
Criança não é imbecil, criança não é feita de cristal.

Nanael Soubaim disse...

Mein Fräu, que saudades!

Eros Gibson disse...

Adorei! Parece que saiu da minha cabeça, penso da mesma forma. Vejo exemplos como estes diariamente aqui em casa - tenho um primo de 6 ano - pois minha tia não sabe e não quer aprender a ser mãe. É revoltante.
Abraço.

Adriane Schroeder disse...

Ora, Nanael! Assim me deixas encabulada.
Também senti saudades, mas já-já voltarei à ativa.
:o)

Gabriela P. disse...

Disse tudo, Nanael!
É complicado tudo isso... as pessoas acham que ter filhos é apenas pra dizer que tem e se esquecem de todo o resto. :T