Devaneios de uma quase balzaquiana

Como assim, eu vou fazer 30 anos? Alguma coisa deve estar errada nessa conta. Não pode ser! Preciso ir ao cartório e pedir a minha real certidão de nascimento. Eu não tenho 30 anos. Não pareço uma pessoa de 30 anos. Não sei o que é parecer uma pessoa de 30 anos. Não quero pensar como uma pessoa de 30 anos. Parem o mundo, que eu quero descer!

Analisando os fatos friamente, percebi a crueldade que é mudar assim, tão rápido, de idade. Em breve, eu não terei mais “vinte e poucos”. Estou assustada até o último fio de cabelo – que logo começarei a ter que pintar. Pintar o cabelo! Não para fazer charme, não porque enjoei da mesma cara de todo o dia, mas para esconder os brancos. Parem o mundo, que eu quero descer já!

Sim, eu até tenho um pouco de sorte. Ninguém nota a minha verdadeira idade. Mulheres pequenas, magras e com pouco peito parecem jovens por mais tempo. Fato. A Glória Kalil que disse. Mas... e quando começarem a aparecer as rugas? Vou ter que gastar ainda mais dinheiro com cosméticos de eficácia quase nula? Parem o mundo, que eu preciso descer.

Ah, mas a aparência não é o mais importante. O bom de envelhecer é ganhar sabedoria e encarar a vida com mais maturidade. Isso significa que eu preciso casar, casar logo, urgentemente. E ter filhos, muitos filhos. Rápido, antes que o relógio biológico pife. Vejamos...Eu até sei como cuidar de um bebê. Cuidei do meu irmão menor. Mas... tomar conta de uma criança ocasionalmente é uma coisa, ter os próprios filhos, com toda a responsabilidade que essa decisão acarreta, é outra. E assusta! E se ninguém quiser casar comigo? Terei filhos sozinha? Eu ainda nem sei se quero casar! Ainda nem sei se quero procriar! Parem o mundo, que eu já estou quase me atirando pela janela!

Tudo bem, eu já estou quase lá. Quase chegando à maturidade. Eu não vou para a balada, detesto essa expressão, não me visto como uma piriguete, trabalho, tenho responsabilidades, pago todas as minhas contas em dia e já fiz até um seguro de vida! Mas... tenho ataques de riso pelas menores bobagens, às vezes gasto muito dinheiro em futilidades, tenho bichinhos de pelúcia no quarto, tenho vontade de colocar um piercing, escuto as mesmas músicas de quando era adolescente, conheço todas as bolachas recheadas e salgadinhos do mercado e gosto mais de conversar com jovens do que com velhos. Ou seja, minha idade real não combina com a mental. Sou retardada? Parem o mundo, que eu já não sei mais o que pensar!

Confusões mentais à parte, não deve ser tão ruim. As mulheres de 30 anos, hoje em dia, ainda são consideradas jovens. Ainda são atraentes, ainda têm um longo caminho a percorrer e ainda são interessantes. Repita comigo: não deve ser tão ruim. Mais uma vez: não deve ser tão ruim.

De qualquer forma, o que não tem remédio, remediado está. Vou fazer 30. Mas é só no mês que vem. Por enquanto, ainda tenho 29. Só 29. Deus me ajude e abençoe, me dê coragem e saúde. O resto, eu resolvo depois.