sábado, 25 de julho de 2009

Desadolescidos

Adolescência é como uma fase, como tal, tem tempo para começar e findar. Não simplesmente pelo factor idade, mas pelas próprias transformações físicas, químicas e psicológicas inerentes. É uma questão matemática, a soma de todo o contexto (mudança física, percepção diferente do mundo em volta, impulsos hormonais, modo como a sociedade reage, et cétera) é que torna o indivíduo um adolescente. Eu disse "um" e não "o adolescente", porque embora pareçam todos iguais, e o comércio quer que se pareçam, são tão insuportáveis uns para os outros quanto o são para nós.

O papel mais importante da adolescência não é controlar a taxa de crescimento da espécie humana, pela mortalidade causada pelo comportamento irresponsável, embora quase tudo indique que seja. A adolescência é como um túnel, um rito prolongado de passagem para a vida adulta. Sua mais importante função é preparar o indivíduo para assumir sua responsabilidade para com a comunidade em que vive, preparando sua mente de modo que o desfazer de ilusões da infância não seja uma desilusão para com a infância. Deveria ser assim.

Uma adolescência salutar torna a pessoa mais propensa às mudanças que fatalmente virão, aguçando sua curiosidade e melhorando suas respostas aos estímulos, tornando ainda o corpo mais resistente e mais pronto à cicatrização. Adolescente não se cansa porque é adolescente, faz parte dos princípios da época. Aproveitar bem esse recurso chega a ser uma obrigação do indivíduo, uma adolescência bem aproveitada forma um adulto feliz e de bem com a vida. Mais uma vez, deveria ser assim. Nem sempre é.

Se não for possível usufruir da época propícia, não há o que fazer, a lacuna permanecerá e incomodará até o fim da vida. As oportunidades não aproveitadas, sejam quais forem os motivos, não voltam. Havia um amparo, do qual se foi privado, ao aprendizado duro e perigoso pertinente à idade. As lições foram ministradas sem o auxílio, que já não serve, é roupa que não entra mais ainda que se queira vestí-la. Os socorros não prestados no momento adequado, não ajudam mais. Mais ou menos como o medicamento certo para a doença certa, mas no momento tardio.

A admiração que o adulto tem pela época juvenil pode ser reconfortante, mas deste modo ganha um sabor de fel. Aqui há três caminhos básicos a serem seguidos, pelos que não ficaram para trás; A tentativa de reviver ou recuperar o que não pôde ser vivido, transforma o indivíduo em um Peter Pã, com comportamentos infantís, extravagantes, tentando o tempo inteiro se convencer de que ainda tem quinze anos, embora o corpo avise o tempo todo que não; Outro caminho é a da negação, levando à repulsa de tudo o que for relaciodado à juventude, quase sempre gerando um conservadorismo exacerbado e inflexível, capaz de trancar o indivíduo em um casulo que não lhe permite enxergar absolutamente nada de bom nas novidades. Tentar chamar os dois casos à razão, pode render uma inimizade ferrenha. O terceiro caminho é absolutamente insuspeitável. O indivíduo parece ser um adulto saudável, normal, mas é dos que mais sofrem. Ainda que consiga passar impávido pela privação da adolescência, não passa incólume. Por dentro a postura equilibrada vai cobrando seu preço, pois precisa compensar a lacuna, com isso gerando mais lacunas, mais frustrações. Chega o momento em que se torna uma pessoa amarga, frustrada e de mal com a vida; a partir de então não se pode prever seu comportamento, porque as lembranças (ainda que inconscientes) continuam ferindo, mas não matam. O comportamento pode ser atribuído à idade, ou a propensão da própria pessoa à rabugice, embora continue sendo uma boa pessoa. Porém, é o caso mais fácil de ser tratado, se é que o adjetivo cabe aqui. A pessoa tem boas lembranças, apenas não pôde usufruir da época. Embora haja um certo masoquismo em buscar dados, imagens, vídeos e músicas de época, tudo isto preenche momentâneamente as lacunas deixadas, ajudando a aliviar a pressão interna à qual a negligência familiar e social impôs. O indivíduo pode, então, se valer de seu próprio arquivo para facilitar o tratamento. Mas é preciso buscar por ele.