quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

De uns tempos pra cá, as livrarias se viram invadidas por obras que têm o Afeganistão como assunto principal. Antes do George W. Bush invadir o tal país na busca tresloucada por Osama Bin Laden, essa que vos escreve tinha vaga memória da existência de tal nação graças às aulas de Geografia, e olhe lá. Era uma daquelas manchinhas do mapa mundi que a gente luta pra tentar lembrar o nome.

O pouco que sabia era o que passava na televisão, o que lia nos jornais e ouvia no rádio. Que tinham costumes ultrapassados, que eram fanáticos religiosos e se matavam em nome de Deus. Eu, que não sou uma pessoa religiosa, aprendi a respeitar todos os tipos de crença. Se o cara acha que explodir duas torres do país mais poderoso do mundo vai garantir a ele um lugar ao lado de seu deus, eu simplesmente não contesto. Existem maneiras e maneiras de demonstrar a devoção a algo ou alguém. Mas, enfim, não é sobre religião que eu quero falar.

Quero dizer que, mesmo que criticada por alguns, essa onda afegã que invadiu as livrarias, pelo menos pra mim, serviu para que eu pudesse conhecer melhor a história de um país devastado por guerras, sofrimento e dor. E, em especial, conhecer os costumes desse povo tão diferente de nós. Tudo por causa de um cara chamado Khaled Hosseini, autor de O Caçador de Pipas e A Cidade do Sol. O primeiro, um best-seller de grande sucesso que vendeu mais de 8 milhões de cópias no mundo - sendo 1 milhão de exemplares somente no Brasil - e que acaba de ganhar uma versão para o cinema. O livro trata de questões de diferenças étnicas dentro do próprio Afeganistão. É uma história sobre culpa e redenção que eu gostei muito.

Mas foi a leitura de A Cidade do Sol que me fez admirar o trabalho desse autor afegão. Hosseini fala sobre duas mulheres com histórias distintas, mas igualmente sofridas. Em um certo momento essas duas histórias se encontram. Não sei se é o fato de eu ser mulher e sofrer junto com as personagens, mas em vários momentos da narrativa eu chorei. Chorei por saber que do outro lado do mundo existe tanta crueldade. Hosseini consegue, por meio de suas palavras, traduzir em imagens na minha mente toda a desgraça que se abateu sobre o país e, em especial, sobre a vida dessas duas mulheres. Além disso, as minúcias históricas são muito bem explicadas como pano de fundo para a narrativa principal. Os detalhes são de uma riqueza impressionante, pois Hosseini viveu aquilo e ele sabe muito bem do que está falando. Com certeza as duas personagens principais desse livro, Mariam e Laila, ficarão por muito tempo na minha memória. Ficará na minha memória também que, por mais que sejam personagens fictícias, existem muitas mulheres que passaram - e ainda passam - pelos mesmos desafios, as mesmas lutas, as mesmas derrotas, a mesma humilhação, a mesma opressão que elas. São personagens marcantes, com histórias de vida impossíveis de ser esquecidas. Hosseini construiu com maestria duas das personagens que mais mexeram comigo até hoje. Disso eu tenho certeza.

Eu só sei que recomendo a leitura. Recomendo e muito. Não só pelo fato de saber mais sobre um país desconhecido para a maioria de nós, mas, também para conhecer um autor que sabe exatamente como tocar profundamente o seu público com as trágicas vidas que relata. Trágicas mas, de certa maneira, reais. E reais até demais para uma criatura tão emotiva com eu. E recomendo você deixar que a narrativa invada sua mente. Só assim você vai perceber o que esse cara é capaz de fazer por meio de simples palavras.

Khaled, gostaria de poder escrever igual você quando eu crescer.

2 comentários:

Luna disse...

Confesso que tenho pavor da onda afegã, mas gostei do seu texto.

Só que agora fiquei com medo de ler "A cidade do sol", porque me pareceu triste demais...

Frankulino disse...

Adoro esse autor...

O bom dos livros dele é que ele trás a tona o que os escritores de best-sellers haviam esquecido e deixado de lado... bons personagens!!!

Bom texto, Mel!