Voilà mon coeur , c. 1989 Bordado e cristais sobre feltro, 22 x 30 cm
Col. Adriano Pedrosa
Há alguns dias, buscava algumas referências perdidas, qualquer coisa que indicasse algo de minha história esquecida. Foi quando reencontrei este trabalho do Leonilson ao revirar meus livros, anotações, cadernos de desenho e diários. E com um sorriso, percebi que a força sutil desta pequena obra ainda me toca.
Expor o coração é ato doloroso: Submete-o ao ceticismo e ao julgamento. Um coração que é um punhado de cristais bordados com linha azul, sobre uma lona pintada de dourado. Não há chassis: Ele é pregado na parede, pelos furos na borda superior. No verso da obra, a inscrição: ele lhe pertence. Com que coragem ele colocou ali seu vaso frágil de sentimentos mais íntimos?
Aqui está meu coração, faça dele o que quiser.
Caravaggio, Monet, Renoir (e tantos outros mestres-heróis) me enlevam, surpreendem. Trabalhos como o pequeno Voilà mon coeur me trazem à fragilidade preciosa do ser humano. E com cristais e linha azul, borda em mim uma coisa que não tem nome.
Leonilson, artista plástico paulistano, morreu em 28 de maio de 1993 aos 36 anos, em decorrência da Aids. Ao ser indagado por Adriano Pedrosa (crítico e amigo do artista) sobre este trabalho, responde, simples: Ouro de artista é amar bastante.
5 comentários:
Fabio, meu querido.
Embora eu não tenha a sensibilidade pra entender certas obras de arte, pelo menos seu texto consegue sempre traduzir tudo.
Parabéns, como sempre.
Também sou uma apreciadora de Leonilson, e fiquei até emocionada com o seu relato, porque é mais ou menos o que vejo mesmo. É um questinar sutil e dolorido.
"Ouro de artista é amar bastante". Que linda essa frase!
Belo texto, Fabio.
Essa frase me cutuca sempre os neurônios... Sempre que vou fazer algum trabalho, me pego perguntando: Estou amando bastante?
Léo é o cara.
ouro de artista é amar bastante.
hoje eu recebi um e-mail de uma pessoa muito especial pra mim e que não falava comigo há muito tempo. quando a gente se dá conta, um tempo passou e as coisas ficaram ainda mais bonitas. as historias das nossas vidas vão ganhando a densidade dos nossos afetos.
amar bastante é tudo o que a gente tem, fabio. sendo artista ou não. por isso é tão forte essa frase.
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