sábado, 17 de janeiro de 2009

Manga animeada

Não faz muito tempo que comecei a ter contacto com os animes modernos. Os que eu conhecia eram Pinóquio, Honey-Honey e outros do gênero, mas sem saber que tinham esse nome específico. Confesso que gostava mais daqueles do que desse monte de robôs e monstros que dançam a macarena, antes de dar o golpe.

Mas isto não vem ao caso. Vem ao caso saber os motivos de esses desenhos de olhudos com reações esquisitas fazerem tamanho sucesso, a ponto de fazer as produtoras ocidentais a imitarem o estilo (ou a falta dele) em muitos casos. Dêem uma boa olhada na ilustração ao lado e verão.


Enquanto os anos 1980 fizeram os estúdios ocidentais derramarem uma enxurrada de desenhos toscos, mal desenhados, mal pintados, mal animados e completamente sem graça, os japoneses mantinham os traços bem regulares, cores vivas, sombras, boa perspectiva e um enredo (ainda que limitado, mas ao menos tinham) para a estória.


Não demorou para as pessoas notarem isto, e para eles perceberem o mercado que se formava. Enquanto os heróis ocidentais eram corrompidos, abrutalhados e até apelavam para os criminosos, os japoneses mantinham o caráter e as características básicas, embora ainda dançassem a macarena para dar um golpe ou fazer uma transformação. As heroínas ocidentais faziam jus ao nome, ficando uma droga; estavam se transformando em travecos agressivos, enquanto as japoneses mantinham a feminilidade, os traços meigos e os contornos delicados, mesmo com uma arma de raios anti-matéria em uma mão e a cabeça do inimigo pendurada na outra. Endurecem sem perder a ternura.


Digite "anime" ou "mangá" no google (se há outra ferramenta de busca similar, perdoem, não conheço) e verá uma galeria de belezas com sensualidade natural e a mais absoluta certeza de que são mulheres, ainda que que os cabelos estejam curtos e só se mostre do pescoço para cima, mesmo as mais musculosas. E a qualidade da arte? Aliás, é este mesmo o nome: Arte. Praticamente todo e qualquer quadro ou cena de um anime/mangá, merece ser pendurado na sala de estar.


E não adianta colocar a culpa dos ocidentais na quantidade crescente de heróis, nos anos 1950/60 houve uma explosão deles e a qualidade crescia junto. Os heróis japoneses, embora parecidos e a maioria descartável, são uma nação inteira. A questão aqui não é a quantidade, é preguiça aliada à ganância. O japonês dá tudo de si para fazer qualquer cousa, o americano faz o que foi pago para fazer e olhe lá, sem pensar no risco de demissão por queda no faturamento.


Isto se refletiu no ramo de automóveis. Até uns vinte anos, era fácil diferenciar um Chevrolet de um Ford e de um Jaguar. Pois em nome de racionalizar as linhas de montagem, fizeram foi engessá-las. A ponto de alguns carros, como a Kombi, não saírem nem sob encomenda, pague-se o quanto se pagar, em uma cor que não seja a branca. Mas a Kombi anda tem o seu desenho inconfundível, e quem quiser se arriscar a perder a garantia, pode customizá-la que o preço compensa. Já os outros carros... Maria Cristina, minha melhor amiga, é capaz de diferenciar um Opala de um Monza, mas não lhe peçam para separar um Focus de um Astra. Eu sei, estou dentro da área, mas para quem é de fora fica a idéia de que não vale à pena trocar de carro, pois são todos iguais. Foi o que aconteceu.


Vá ao Japão e verá o quanto eles brincam sem pudores com as formas dos carros, alguns chegam a parecer de brinquedo. Algo que as montadoras ocidentais decretaram que o público não quer e nem faz marketing para tentar vender. Eu gosto de uma dianteira meiga, sem dúvidas não sou o único.


Os japoneses são muito melhor resolvidos do que nós, em termos de sexo e sexualidade. Não tiveram uma igreja fundada por políticos para deturpar tudo. Isto se vê nas capas mais banais de mangás, nas cenas mais comuns de animes, nos bonequinhos de pvc mais encontrados e largamente produzidos. Tudo bem desenhado, bem pintado, bem proporcionado.


Muita gente não sabe, mas o autor de uma obra, se pega uma grande editora, não é mais dono dela. Os burocratas viciados em estatísticas e que morrem de medo de um mosquito pousar em Wall Street, fazem o que querem e o que seus medos mandam com a obra. No Japão, o autor de um mangá é dono da obra, a editora só presta o serviço e empresta seu prestígio. Se algum especulador borra-calças estressadinho tentar masculinizar/erotizar demais a garotinha de dezesseis anos, que foi concebida para ser a veia cômica da trama, ele simplesmente toma tudo e vai desenhar noutras paragens.


E eles ainda hoje se perguntam porque os japoneses tomaram conta do ramo editorial. Enquanto não voltarem a contractar gente de talento para trabalhar sem pressões desnecessárias, sem as algemas hipócritas do politicamente correcto e sem querer agradar a todo mundo, será assim. Ou seja, enquanto não voltarem a desenhar como os mestres desenhavam, ainda que noutro estilo, vão continuar a imitar tudo o que os japoneses lançarem um ano antes. Agora vejam cá em baixo a diferença do que se fazia com prazer, para o que hoje se faz na marra. Obra de Gil Elgren.

5 comentários:

Edu disse...

Nanael, invejo você.

Eu jamais conseguiria escrever sobre isso de forma tão única.

Mangás são MILHÕES de vezes melhores que as HQs ocidentais. Não apenas no traço, mas especialmente, nos enredos.

Parabéns, Little Wizard From The MidWest!

Nanael Soubaim disse...

Pelos anjos de Capela! Que lisonjas! Agradeço encabulado, irmão.

Adriane Schroeder disse...

Como sempre, inspirado e realmente, param im que não entendia lhufas disso, muito isntrutivo.

Paulinha disse...

Bom texto! Como fã declarada de animes e mangás a mto tempo e estudante de arte... posso dizer q foi um texto inicialmente receoso ao ler e finalizado de forma clara e precisa a opinião. Ao mesmo tempo q percebe q a moda vem tomando parte dos animes e mangás, tb analisa os méritos em cima de mta produção de quadrinhos q há por ae. Uma análise pensada e estruturada. Traços, enredos, cenas, temas... os mangás e/ou animes são tão diversos q não há como não conquistar... não são apenas super-herois... são pessoas comuns, conflitos do cotidiano e pq não.. um pouco de fantasias e sonhos...td isso com um acrescimo, os detalhes são fundamentais na expressão, nas palavras..cenas, pinturas...um conjunto bem trabalhado! Tão bons qto algumas produções cinematográficas de estilo. + do q moda, tem mta coisa interessante p/ se conhecer. =] Seja fã ou não...=P

Paulinha disse...

receoso a principio pq por instantes qse esperei uma crítica apenas ao lado 'moda'...rsrs =P