quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Talicoisa Também é cultura - parte 1*

Apresento a vocês, agora, um texto um pouco diferente dos que venho publicando neste site, nos quais trago alguns conceitos que acredito interessantes de se debater. Será dividido em duas partes; tentei não deixar acadêmico demais. Críticas e sugestões serão bem-vindas.

Escolhi iniciar pelos conceitos de cultura e identidade. O que significam tais palavras e qual a relação entre elas? Cultura, termo de origem latina, significa tanto o cultivo de plantas quanto o produto das práticas, crenças, gestuais de um grupo, o conjunto do conhecimento humano. Identidade, também de origem latina, deriva de idôneo, igual, similar, que determina semelhanças e diferenças.
Quando um grupo estabelece certas práticas como cultura, tem basicamente dois objetivos:

1. Saber quem é “idôneo” ao grupo, ou seja, quem se identifica com ele, portanto, estabelecer a identidade do grupo;

2. Afirmar-se como grupo diante dos demais, estabelecendo limites e fronteiras, visíveis ou não, entre ele e os outros grupos. Ou seja, afirmar a identidade do grupo diante dos outros.


Assim, cultura e identidade estão intimamente relacionados, no estabelecimento de igualdades e diferenças, de limites, de propriedade, posse, conquista, direitos. Da literatura, podemos citar alguns exemplos: em “A Ilha do Dr. Moreau”, de H. G. Wells, os “semi-humanos” estabeleceram uma comunidade, criando para si um conjunto de práticas (cultura) que podia identificá-los (identidade); em “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, cada uma das castas geneticamente criadas, bem como os “selvagens” têm sua própria identidade e cultura; em “Robinson Crusoe”, de Daniel Defoe, o humano, “civilizado”, angustia-se diante do mundo e o domestica, reproduzindo ali sua cultura e identidade, a qual também depois procura impor a Sexta-Feira, o nativo, o outro.

Na história da humanidade, os conflitos entre culturas e identidades marcam todas as eras e representaram sobretudo conflitos de poder. Somente para ficar num exemplo grotesco, o nazismo: a partir de certos códigos, estabelecidos como cultura vigente, não apenas impôs uma identidade e uma cultura a toda uma nação, mas estabeleceu padrões de humanidade, com cores e símbolos diferenciados (exemplos: estrela de Davi para os judeus, triângulos rosas para homossexuais, roxos para os Testemunhas de Jeová), tão elaborados e complexos que causavam crise de identidade entre os que tais símbolos recebiam, como evidenciam, entre outros, Anna Arendt em “As Origens do Totalitarismo” e Alain Finkielkraut em “Ensaio sobre o século XX: a humanidade Perdida”.

Aguardem o último capítulo da novela... ops, a continuação!

* Adriane se encontra em férias, tomando sol e pegando marquinhas de biquíni em alguma praia desconhecida. Volta em 3 semanas, mas deixou seus textos para serem publicados.

2 comentários:

Nanael Soubaim disse...

A senhora, quando decide falar a sério, impressiona.

Adriane Schroeder disse...

Que bom que gostou, Nanael!
Du, obrigada pela ajuda, viu?
Mas bem que podias ter também comentado, né, seu "fidido"? Brincadeirinha.. . Hehhehe. Bjs, com marquinhas de biquini!