E saiu por aí colecionando os pais que gostaria de ter tido. Junto com os pais postiços, colecionava também as influências que gostaria de ter recebido. No mesmo pacote, como se seguisse a uma receita, misturava as referências e as manias pequenas que devia ter copiado dos pais que nunca teve.
No meio do caminho percebeu pequenas pedras num tom de azul um pouco estranho. Era um azul que resgatou alguma lembrança que já dormia. A lembrança, contrariada, ajustou o travesseiro atrás de si e afastando uma mecha de cabelo dos olhos, voltou a dormir.
Depois sentou-se na beira do que antes havia sido um riacho. Sua vista perdeu-se por entre os desenhos do solo seco. Sua mente perdeu-se pela idéia da vida que existiu ali. No riacho esquecido, e nela mesmo.
Um farfalhar de folhas se fez ouvir. Consigo trouxe um vento. Fria, longa ventania, arrastando toda a sorte de folhas e pensamentos.
Catou o casaco jogado de lado, endireitou os cabelos e pôs-se a andar novamente.
6 comentários:
Farfalhar é uma palavra tão bonita!
Ela mesma já é o som que já é a imagem.
E o sol nisso tudo?
Devia ser o sol o devaneiador de tudo.
xD
Curtinho, mas tão profundo...
E eu detesto essa palavra "devaneio".
Mas tá valendo.
=*
Eu acho uma palavra tão bonita, Coelhoso...
Nossa, bem escrito mesmo... Um show de descrição, hein. Mas, enfim, o conto já foi escrito, num sou eu quem vai ter que resumi-lo em outras palavras. No mais,parabéns mesmo pela postagem e pelo ótimo texto.
http://tiago-castelo.blogspot.com
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