quinta-feira, 7 de maio de 2009

Crônicas sobre rodas (*)

(*) desculpe se alguém já usou esse título... mas ele é irresistível!



Dramas da vida real, diretamente de um ônibus lotado pertinho de você!



- E o marido da Fulaneyde, Sicranny? Teve um ataque do coração!



- Eu soube, Beltrane de Fátima! E ainda quer voltar pro futebol.



- Diz que ela mandou avisar os amigo dele pra pegar leve e não deixar ele se empolgar.



- Verdade, mas ele tem que se cuidar, né?



Enquanto isso, a cobradora confere as moedas nas sacolinhas de crochê que fez e canta, empolgada, junto com seu raidinho, só no virundum:



- Tô indo agora/ tomá banho de cascata/quero adadadada nas mata/ onde o sócio é o deeeeeeeeeeeeeeeeus...



E o moço ali do lado com seu emepetrês nas alturas com o fânqui do momento. Dá pra ouvir longe, mas o mundo precisa saber que ele tem emepetrês.
Um senhor, que estava sentado, de repente levanta a voz anasalada e fala se-pa-ra-di-nho:



- Senhora, sua bolsa está me ma-chu-can-do!



- Hein? (diz a moça, muito assutada, que portava uma bolsa de mão dessas pequenas, a tira-colo, incapaz de ferir quem quer que seja)



-Sua bolsa está me ma-chu-can-do! Eu pa-guei e quero con-for-to!



Um engraçadinho olha o ataque histérico do (digamos assim) homem sentado e canta:



- Vou de táxi, cê sabe!



- Vai de avião, ô, se quer conforto!



- Podia ter segurado a bolsa dela!



- Eu tenho ses-sen-ta e um anos!!!! Nãããão vou dar meu lugar pra ela! Ela que pegasse o ônibus mais cedo! E a conversa de vocês está me o-fen-den-do!



- Pardon moi, Je suis très désolè, mounsier! (disse eu pro dito-cujo, única frase em francês que mais ou menos arranho e que calou a boca do pobre homem no restante do trajeto).



Enquanto isso, pululam as gozações ônibus a dentro. Cada um que passava, o povo dizia:



- Cuidado com a bolsa! Vai machucar o homem!



Ou então, de novo:



- Vou de táxi, cê sabe!



Quando ele levantou, a moça, já animada pelas pessoas à volta dela, disse:



- Abram alas pra ele!



- Cuidado, hein, sua bolsa vai maxucar os outros! Disseram alguns.



Um senhor com um raidinho de pilha sintoniza sua AM preferida. A garota testa os diversos tipos de campainha de seu celular. Pra quê ela foi fazer isso???? Os dois moleques do lado tiveram a mesma brilhante ideia e riam e comentavam um com o outro sobre os toques-que-tinham-baixado.



- O preço das verdura subiram tanto, né?



- Tem que abrir a janela, olha essa gripisuína!



- Esse povo parace que é daçúcri! É só cair umas gotas que todo mundo quer fechar a janela!



- E essa baderna! O governo não faz nada!



- Esses políticos são tudo uns corrupto mesmo.



Enquanto isso, alguns contam de sua vida, seus filhos, seu chefe...



Mais um dia de trabalho, mais algumas horas sobre rodas.

2 comentários:

Nanael Soubaim disse...

O Sujeito pedir para a moça recolher a bolsa, vá lá, mas fingir que participa do Soletrando em volume suficiente para o ônibus inteiro ouvir... A Mercedes faz carros também, meu filho.

Adriane Schroeder disse...

Nanael, a bolsa da mulher era praticamente uma carteira, e bem fininha...
A gente vê e ouve coisa em ônibus que, como dizia minha vó, "sete carros não carregam"...