Cresci sendo considerada a menina feia da família. Em meio a primas de rostinho delicado com cabelos cacheados, outras loiras-de-olhos-azuis e outras tantas com lindos cabelos negros, eu era aquela com cabelo ralinho e rosto grande.
Na escola, além de tudo, usando roupas da famosa Butique Simidão (se me dão eu uso), não atraía os olhares masculinos.
Eu era a feinha da periferia. E tinha outras esquisitices também: o sobrenome cheio de consoantes, o fato de ser protestante, pobre, não saber dançar nem imitar as cantoras rebolativas da época e, mais tarde, o fato de ser filha de pais separados. Ainda era um tabu, acreditem.
Troncuda, com os músculos fortes da ascendência indígena, era pesada, não sabia a medida da força e, lógico, era tida como grossa. Sem muita paciência para as coisas-de-menina, ficava sempre com os moleques mesmo, sendo seguidamente confundida com um deles. Isso porque, além de tudo, não usava cabelo comprido. Vocês sabem que cabelos finos + periferia = piolho. E toca joãozinho no cocoruto!
Ao contrário de todas minhas amiguinhas, não tinha namoradinhos nem, mais tarde, ia pras festinhas. No dia-a-dia, era a amiga-bagunceira-piadista-que-ninguém-queria-namorar. Sabem aqueles filmes com mocinhas rejeitadas pelas patricinhas e bonitões da turma? Pois é, pois é. Muitos suspiros rolaram. E ainda rolam em filmes assim. Fazer o quê?
Eu ainda podia me consolar com a história do Patinho Feio, e achar que um dia viraria cisne. Mas ser a esquisitinha me trouxe algumas vantagens: primeiro, livrou-me de muitas frescuras; segundo: possibilitou-me conviver e conhecer a alma masculina e, finalmente, me impulsionou para os estudos.
Então percebi que não precisava ser nem a patinha feia nem o cisne, bastava ser eu mesma.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Que tal ser a patinha feia?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Eu sempre fui a menina comum. Nem 8 e nem 80...
Conta mais, amiga (/Márcia).
E o love, como tá?
:P
A senhora não é feia, nem aqui, nem na Jujubalândia.
Eu também me acho a patinha feia.
Complexos, todas temos!
Mas há 32 anos eu tento ser eu mesma e essa é a coisa mais difícil que existe. Muito mais difícil até do que ser cisne, ainda mais em tempos de silicone e botox...
Nanael, obrigada... :-*
Luna, essa é uma impressão horrível, mesmo. Mas você agora é a Sacerdotisa da Verdade Suprema, a Musa do Corcel azul-calcinha, poliândrica e absoluta!
E, Lótus, é bem essa verdade. ser nós mesmos é uma arte para poucos.
Postar um comentário