segunda-feira, 4 de maio de 2009

Please, shut up!

Faltando quase quinze minutos para a chegada do meu ônibus, atravessei a rua e fui a uma farmácia, espiar os esmaltes. Fiquei lá, paradinha, olhando e procurando alguma novidade. De trás do balcão, saiu uma criatura muito esquisita, com um sorriso de orelha a orelha, totalmente falso. Seus movimentos eram robóticos, assim como a sua expressão facial. Sua simpatia também não era verdadeira. Era o atendente da farmácia. Ele se aproximou de mim e desatou a falar, de forma automática:

- Boa noite! O Risqué é 2,30, o Colorama é 1,99 e o Impala é 1,99!
- Sei... Só estou dando uma olhadinha.
- Ok, fique à vontade! Se precisar de alguma coisa, é só me chamar!

Eu, com os meus botões, fiquei pensando: Será que ele precisava vir até mim, para me dizer coisas que eu já sabia? Na prateleira, havia uma plaquinha com o preço de cada marca de esmalte. Eu sei ler! E que outro tipo de ajuda ele poderia me prestar? Saberia ele dizer quais as cores que estão bombando? Ou qual marca tem a melhor durabilidade? Ou se aquela cor fica vermelha ou rosa nas unhas? Não, né! Então, pra quê?

Andando na rua, o cadarço do meu tênis desamarrou. Esperei chegar até uma pracinha, onde havia um muro baixinho, no qual eu poderia colocar a perna e amarrar o calçado. Um tiozinho se aproximou de mim e disse:

- Esse é o problema do sapato de amarrar! Ele desamarra e a pessoa tem que parar para amarrar de novo!

Eu, com meus botões, fiquei dividida entre dar uma resposta sarcástica, como: “Jura?! Nossa, quando eu chegar a sua idade, quero ser assim, cheia de sabedoria!” ou ignorar solenemente a criatura que ousou falar comigo. No fim, optei por dar uma resposta muito sábia, que serve para qualquer ocasião: “Pois é!”.

Hoje, no trabalho, um colega de quem eu não gosto, resolveu falar comigo da maneira de sempre: dizendo coisas totalmente desnecessárias, só para quebrar o silêncio. A pérola de hoje foi:

- Mais uma semana inteirinha pela frente!

Minha resposta foi tirada de uma música do Burt Bacarach, porque eu sou fina:

- Pois é, fazer o quê? Reclamar da chuva não faz ela parar...

Eu não disse a ele que eu tirei isso de uma música, então ele respondeu:

- É verdade! Eu nunca tinha pensado nisso!

Aos seus olhos, fiquei parecendo uma especialista em criar filosofias de botequim. Obrigada, Burt!

Contei essas três historinhas só para perguntar uma coisa que eu não consigo entender: Por que as pessoas têm essa necessidade quase patológica de puxar assunto? E, principalmente, por que elas escolhem a mim?

Sou uma pessoa que prefere falar com os seus botões.

5 comentários:

Frankulino disse...

Morro, viu?

Outro dia eu tava no ônibus lendo e percebi que o cara ao lado tentava ler o que eu estava lendo, o que é totalmente esquisito, até pq ele nem sabia o livro (ensaio sobre a cegueira) e nem o que se passava na página que eu lia (os últimos momentos do livro)... Daí que a situação ficou tão constrangedora que ele me vem com um "Livro é bom, né?"... Levei pelo lado da siacabância plena e respondi "aham" só olhando de lado e voltando rapidamente para leitura, que é a melhor forma de mostrar a uma pessoa que você don't give a shit pra o que ela tá falando... Mas ele quis manter a conversar e veio com uma história de que leu tanto que passou da parada... E eu respondi "caraaaaaaaaamba" sem a entonação correta. Daí ele desceu do ônibus e até hoje eu não sei se era por que a parada dele era aquela ou pq ele tava constrangido mesmo...

Josei disse...

Eu sou uma pessoa tão reservada e os estranhos insistem em falar comigo. Um dia, eu estava no ponto de ônibus e uma mulher começou a falar, falar, falar... Assim que vi um ônibus que tinha um nome que lembrava o que eu ia pegar, eu saí correndo e entrei, para fugir. Felizmente, o ônibus fazia o mesmo caminho que o que eu ia pegar. Não entendo esta mania de puxar conversa com estranhos...

Edu disse...

Debs, conhecer Burt Bacarach é sinal de velhice.

Mas ótimo texto, as always.

bjo

Nanael Soubaim disse...

Eu sou uma ostra, um estranho querer falar comigo é queima cármica. Burt Bacarach não é chique, é a realeza do bolo de queijo.

Adriane Schroeder disse...

Eu sou do tipo que em geral puxa assunto... mas, por favor, não me taquem pedras...