Song and war. A estação 264 demonstra a bipolaridade de um ano que mudou os rumos da história, que não é mais para ninar. Embarquem, o trem vai partir.
O treinamento diário tem um lugar reservado,
mas não proibiram a divulgação (...) Para a banda e a organização é bom que divulguem, é um incentivo a
mais para as pessoas saírem do sedentarismo. Chegam às suítes e Phoebe vê um
alerta de mensagem da mãe no smartrain...
- Baby, a gente está indo pro veterinário.
Spark tá mal, foi brigar com um cachorro de um abusado, que tava fazendo
sujeira no jardim e saiu muito machucado! Mandei as meninas pra tia Nancy, pra
elas não verem, mas parece que é grave!
Liga imediatamente para Albert, sabe por ele
que o pittbull está quase morto, após o confronto, e que precisou dar uma surra
no valentão que queria tirar de Marcia satisfações pelo acontecido. Ela sabe
que o pai ficará furioso, mas conta-lhe assim mesmo...
- NINGUÉM TOCA EM MINHA ESPOSA!
- Albert já tomou a frente, dad. Mom is fine,
ela está bem!
- Quero falar com ela.
Liga para a esposa, que está em prantos (...) Chama Renata,
para tentar consolar e acalmar a filha (...) Os jornais não demoram a divulgar
o incidente, enfatizando que um gato venceu quase matando, a luta com um cão
visivelmente anabolizado, urrando como uma fera selvagem. O forasteiro está
dando explicações à polícia, com o rosto arrebentado, demonstrando pouco se
importar com o destino do cão.
Mesmo preocupada, Phoebe vai ao ensaio e
ensaia a sério. Nos intervalos tem notícias do gato, mas mantém o
profissionalismo (...) Vão para o almoço que precede a sesta sagrada, quando Marcia avisa que Spark
está bem e estável, mas sob observação (...) A moça começa a rir em prantos com a notícia, porque as filhas terão
uma surpresa mais digerível. Vai à sua sesta de coração mais manso, fazendo uma
prece silenciosa pela bolinha de pelos que seu pai lhe deu quando voltou da
guerra, e tornou-se um gigante. É justo a mensagem de voz da filha que Marcia
utiliza para acalmar Spark, aumentando os efeitos do tratamento. O gato ronrona
à voz da dona e adormece rapidamente, como se ela estivesse ao seu lado.
Richard e Nancy estão diante do valentão, que
começa a soltar flatulência por falta de algo consistente para sair. Ele nunca
pensou que fosse ser punido por alguma coisa, nunca tinha assumido a
responsabilidade por seus actos, sempre foi poupado de frustrações, sempre
ganhou razão em tudo o que fazia (...) A cobrança que não teve em casa, o Estado vai
fazer sem o carinho que bons pais conseguem dosar para seus rebentos. O casal
termina de amedrontar o rapaz e vai ter com o veterinário (...) Nancy nem quer pensar na mais remota hipótese de tentarem
agredir Beef, que repousa preguiçoso em sua caixa de papelão, após uma refeição
substancial.
&
Acordam no tempo previsto com boas notícias
de Spark. Vão se preparar para o show (...) A orquestra começa a tomar seu lugar e afinar os
instrumentos, enquanto os astros da noite se aboletam no ônibus, um sóbrio e
elegante Van Hool TX16 pintado nas cores e com o logo da banda, e “Made in USA”
piscando no letreiro. Julia recebe a informação da base, sua alteza acaba de
sair com seus nobres para a arena, repassa à segurança de forma confidencial e
mais discreta que pode (...) há dois helicópteros seguindo o ônibus, um para
segurança e um para transmissão directo para os telões da arena, fora dezenas
de drones que dançam ao redor do veículo, com suas hélices completamente
envolvidas, para não ferirem alguém.
Assim que o ônibus chega aos limites da arena
da apresentação, o público começa a dar o troco nos russos, então os
jornalistas entendem porque as construções são de plástico (...) Os cantores vão com tremor e tudo para os bastidores,
onde a equipe os aguarda. Uma massagem, uma esticada nas juntas e os cantores
de apoio vão ao palco, ajudar a orquestra e a LP32, então o abalo císmico
recomeça. Os seis disparam a rir, vai ser o show mais maluco que já terão
feito (...) Aisha recebe sinal verde
e manda a positiva para a avó, então os músicos de apoio começam a tocar. É o
sinal de que o início do show está próximo. Os seis fazem exercícios de voz,
relaxam, meditam e vão de mão dadas à entrada do palco (...) Rita com sua cabeleira grisalha
dançando, vai ao microphone...
- Senhoras e senhores, última chamada para o
mundo épico! Apresentem seus bilhetes, embarquem na festa e venham fazer
história com O DEAD TRAIN!
As faculdades mais próximas registram o abalo
císmico, porque a cidade efêmera está tremendo com “Forgotten”. Os fãs e até
alguns operários cantam e dançam no pique da banda durante toda a primeira
parte do show (...) No primeiro intervalo, descobrem os
motivos de aquele público estar tão bem disposto...
- Houve uma adesão em massa às academias
assim que vocês aceitaram fazer o show – diz Aisha. Aulas de dança, aeróbica,
musculação, Pilates... Acho que é o primeiro público marombado para quem vocês
cantam.
Patrícia volta de imediato ao palco, antes
que eles se dispersem para repor as energias...
- Cara, é sério que vocês fizeram isso pela
gente? Eu mal pude acreditar quando Aisha nos contou, desconfiaria se ela não
fosse tão séria, fiquei emocionada! Muito, mas muito obrigada mesmo! Eu amo
vocês!
Eles vão cismicamente ao delírio! Isso vai
para a internet. Os texanos começam a encher as redes sociais com memes, se
vangloriando pelo elogio da diva, e ainda aproveitando para colocar “2.5
milions” em letras garrafais vazadas, com a bandeira do Texas de fundo. Alguns
moscovitas se mordem, sussurram “Ainda não acabou, seus falas-cantadas de uma
figa” e começam a se comunicar a respeito.
A segunda parte do show, sabendo eles que
agora os fãs dão conta, é toda dançante. A noite avança e eles não pedem
arrego, acompanham as canções, são chamados ao palco, vêem os ídolos caminhando
centenas de metros para poderem ficar perto de todo mundo, se esbaldam e tiram
proveito de tudo a que têm direito (...) Está todo mundo muito
cansado, feliz, mas muito cansado. Voarão amanhã cedo a Sunshadow, mas a cidade
efêmera ainda fica uns dois dias de pé, até começar a ser desmontada, para a
alegria dos lojistas, pois o público pretende fazer turismo e quem sabe
encontrar alguma relíquia, nos arredores do palco.
Enquanto eles voam para casa, o show business
pega fogo e o show entra realmente para a história. Vai render assunto e
patrocínio por anos, e mais uma leva de fãs que poderão se considerar lendas entre
os ghost drivers (...) Os astros chegam a Sunshadow já sabendo da repercussão (...) os paparazzi os clicam loucamente
enquanto falam do que souberam nos bastidores dos bastidores.
&
- Spark...
- Grr... Mow...
- Vem pra mamãe, vem...
O gigante maine coon vai ainda sob efeito dos
analgésicos, mas com decisão para o abraço de sua humana (...) Uma lágrima não impede que seu sorriso de coração
acalme seu gato. O pega no colo e o leva para casa como um bebê (...) Em sua casinha, aquela mesma que Phoebe lhe
fez quando o ganhou, recebeu uma insígnia de tenente; agora é um oficial com
todas as prerrogativas inerentes. O felino de músculos avantajados observa,
cheira as divisas e entra em sua humilde e segura casinha (...) Fica de olho nele, enquanto estuda os relatórios
dos implantes feitos na fã voluntária e em Bárbara.
A notícia do cândido regresso ao lar chega a
Patricia e Renata (...) A brasileira trabalha, ou pelo menos tenta, com Palhaço no colo, enquanto a
americana tem a sofisticada e recatada companhia de Lady Spy. À tarde os seis
se reúnem na Máquina de Costura para arrematar os serviços, e Robert recebe uma
mensagem de engenheiros, a pequena vila de Sakura logo fica pronta. Ele repassa
com entusiasmo a notícia para a filha, que é vista dançando no telhado da casa (...) Os
drones da corporação monitoram e mandam imagens aos pais da moça, que vão
imediatamente tirá-la daquela comemoração perigosa...
- Desculpe, eu não resisti... Estou feliz
demais! Eu não me agüento em mim... Vou fazer uma música sobre isso.
Nunca a viram tão agitada (...) A imprensa
está satisfeita, o que tem já rende muita coisa, tanto que Mikomi precisa
interferir, começa seu texto com “Quando nossos filhos realizam seus sonhos de
infância”, enquanto máquinas pesadas em grandes balsas começam a montar os
módulos, no Michigan Lake (...) Ronald, porém, tem uma noticia triste de um amigo. Rebeca se aproxima do
marido taciturno, que só diz que um amigo está esperando pela morte e se cala
pelo resto do dia. Glenda está trabalhando nisso (...) Se divide entre os planos
sutis e o trabalho como responsável editorial da Culture Train.
A Dead Train encerra sua participação activa
na mídia por este ano, mas notícias correlatas continuam alimentando o jet set,
porque neste ano o material rendeu. Enquanto alguns grupos calculam quantas
pessoas seriam alimentadas com os recursos do mega show, outros contabilizam os
empregos criados e o capital a mais que agora circula na região. Os músicos
tocam suas vidas (...) Elizabeth e Prudence chegam
com as filhas penduradas e os maridos logo atrás, eles com caixas nas mãos. Os
livros ficaram prontos um pouco antes do prazo (...) Os seis são
cercados, enquanto as amostras são distribuídas (...) As duas enfatizaram a importância do
conhecimento científico e do raciocínio lógico, ambos em franca decadência em
todo o continente americano. Deixam claro que urge voltar a formar cérebros
americanos, mas cérebros de verdade, não onanistas cerebrais que se limitam a
repetir citações alheias...
- Vocês disseram isso a mais alguém?
- Well... A Proo desabafou no perfil dela e
eu apoiei... Já tinha uns mil compartilhamentos...
- Vocês duas são perfeitas encrenqueiras...
Vamos nos preparar para o festival de ofendidos...
E eles não tardam. A turma de teoristas
teóricos da teorização teórica teorizada (...) pede as cabeças das escritoras. Já estavam furiosos por elas mostrarem que o
americano não é o monstro perverso e demoníaco que muitos apregoam, agora
querer que pessoas comuns comecem a aprender a resolver problemas em vez de
problematizar soluções, aí é demais!
Defensoras dos direitos de minorias que são
também seguidoras de uma defensora da sharia (...) se sentiram ofendidas com
uma trama que faz o ocidente parecer um bom lugar para se viver, apesar de
tudo. Começam uma campanha contra o sexto livro de “The Spy Novel” e fazem
propaganda grátis, acusado as irmãs de serem agentes do retrocesso da política
de deportação de Trump. As duas (...) farão mais um
livrinho entre capítulos, satirizando escancaradamente as contradições dos que
afirmam lutar contra o sistema opressor, mas oprimem sem piedade quem pensa
diferente de seu grupo. Concluem as cento e vinte páginas em precisamente oito
horas (...) No
final, os seguidores da canibal são devorados por quem defendiam a todo custo.
Sanaa, Suha e Amina servem de betas para aquela comédia trágica, comentam após
rirem muito...
- Irretocável!
- É daqui para pior, a Amina já foi agredida
por uma demente dessas!
- Fui, mas quebrei os dentes da pilantra!
Queria convencer Hassam de que deveria me bater todos os dias, dei-lhe o que
ela recomendava aos outros.
A aprovação as faz ir à Culture Train,
incomodar precocemente Glenda. A bruxa (...) se põe a trabalhar o livro mais rápido que já teve em mãos.
Por intuição faz um serviço padrão (...) antes do lançamento oficial do novo tomo
da saga principal, a caixa de cortesia chega à casa das autoras. Na noite de
autógraphos, o deboche de “Cannibal Lovers” ajuda a digerir o momento louco
pelo qual o país passa (...) As juras de vingança mostram a grande quantidade de pessoas que
vestiram a carapuça, e a advertência de Patricia mostra aos descontentes que
estão pisando em campo minado...
- Ameaçando minhas filhas? Perderam a noção
do perigo? Quem se sentir prejudicado que procure os caminhos legais, mas nem
de brincadeira as ameacem.
A declaração da mãe indignada é seguira de
milhares de comentários de fãs que tomam suas dores, então os valentões vêem a
encrenca em que se meteram e cessam com a animosidade directa (...) A polêmica rende, para elas e para o jet set.
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