segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Nem falo nada!

Gente, eu pago para não falar. Não sou comunicativa, não dou conversa para estranhos, não gosto nem de sair por aí dando bom dia ou boa tarde para qualquer pessoa. Quando, no ônibus, alguém puxa assunto comigo, encaro quase como ofensa pessoal – porque tenho que interromper meus devaneios para responder sobre o tempo, ou sobre onde fica tal lugar, ou sabe-se lá o que a pessoa invente de tagarelar.

Pior ainda não aquelas ocasiões em que a gente não tem saída. Encontrar alguém que conheça a sua família e ter que responder mil e uma perguntas sobre o pai, a mãe, o lugar onde você está morando, como vai a sua avó. Ou ir embora no mesmo ônibus que um colega de trabalho – e ficar a viagem toda, ainda que curta, falando sobre serviço.

Eu sou quieta e gosto de ser quieta. Quando eu conheço bem alguém, quando gosto da pessoa, quando estou num dia particularmente iluminado, eu falo. Demoro a sair da concha. Sou assim, e creio que não vou mudar a partir de agora.

Por tudo isso, às vezes eu me surpreendo comigo mesma. Digo que me surpreendo porque, em dados momentos, eu também sei fazer barraco. Pelos motivos mais ridículos.

Atendimento preferencial

Num supermercado, um dia desses, eu parei na fila certa. Outra moça entrou na fila do caixa onde dizia “Atendimento preferencial para idosos, gestantes e deficientes”. Não havia ninguém dessas categorias na fila. De repente, aparecem duas senhoras, e começam a bater boca com a moça, dizendo que ela deveria sair dali, que isso, que aquilo.

Tocou um sininho dentro da minha cabeça. Ora, como assim? Tudo bem, elas são mais velhas, mas nem por isso podem prescindir de educação. Fiquei ouvindo, até que resolvi meter (sem dar atenção à voz que dizia para eu calar a boca). “A senhora por acaso sabe a diferença entre atendimento preferencial e atendimento exclusivo? A placa está dizendo preferencial, vocês vão ser atendidas primeiro. Mas a moça não precisa sair daí. Só se ela quiser.” E a coisa seguiu assim, elas retrucaram, a moça não sabia onde enfiar a cara. Juro que eu queria ter um dicionário na bolsa. Juro que eu ia ler os verbetes “preferencial” e “exclusivo” em voz alta, no meio do mercado. No fim, aconteceu o que eu disse: as idosas passaram na frente. Precisavam ter armado todo esse barraco, se sabiam que seriam antendidas antes?

O caixa-rápido

Outra vez, o barraco foi no caixa-rápido. Só quem tinha no máximo dez itens podia entrar naquela fila. Eu estava lá, com o meu cestinho, quando chega um homem com um carrinho:
- Aqui é o caixa-rápido, senhor.
- Mas eu só tenho dez itens!
- Não, não tem. Tô vendo aqui que tem mais!
- Mas...
- O senhor tem que ir para outra fila.
- Mas...

Nisso chega a minha mãe, de olho arregalado e achando muito engraçado um homem de quase dois metros gaguejando na minha frente. Eu venci a batalha. O descarado foi para outra fila. Eta gente que sempre quer levar vantagem em alguma coisa! Se eu, com todo o meu poder (oi?) e força (hein?) estiver por perto, me chamem. A organizadora de filas não deixa barato!

Instinto assassino

Mas a pior de todas aconteceu num ônibus. Eu estava de pé, o ônibus parou para as pessoas descerem. Aí, me aparece um adolescente idiota (pleonasmo), empurrando todo mundo, inclusive eu. Sabem o que eu fiz? Fui atrás dele pelo corredor. Quando ele chegou na porta e se preparava para descer, dei-lhe um empurrão. O bestinha foi parar na calçada. Eu, com toda a minha força e poder – e raiva – olhei para ele e disse:

- Não queria descer primeiro? Então, desce!

Depois fiquei arrependida, achando que o guri podia ter se machucado e tal. Mas ele mereceu. Empurrou, tem que ser empurrado.

Moral da história: São várias. Ser tímida não significa levar desaforo para casa. Supermercados são um perigo. Eu sou pobre. Irremediavelmente pobre. Só pobre é capaz de bater boca em mercado e ônibus e ainda contar para todo o mundo.

4 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Que bárbara guerreira foi aprisionada neste corpinho, Débora? Todos os sintomas descritos são os de um espírito beligerante acostumado a vencer contendas com a espada.

Edu disse...

Dé, até na pressa vc manda bem.

E não consigo não fazer a piada de "Você é boa até na rapidinha"

Show de bola. E armar barraco é o que deixa a vida mais divertida.

Pobres barraqueiros ruleiam tha fuck out!

Rafaela disse...

Eu sou igual!

Adriane Schroeder disse...

Eu também sou assim... e às vezes, pior... !!