quinta-feira, 19 de março de 2009

A fofoca e a história - um ensaio talicôsico

Eu sei que fofoca é uma coisa muito feia e que ninguém gosta dela. A gente não faz fofoca, na verdade nós tecemos relevantes considerações acerca da conduta de terceiros. É uma questão antropológica, de profundo interesse acadêmico.

Mentira!!!!

É fofoca, sim, e todo mundo usa e gosta. A propósito, ela é utilizada há milênios para basicamente controlar as condutas alheias e denegrir a imagem de algum desafeto, inclusive no campo da história.

Aliás, acredito que as pinturas e inscrições rupestres poderiam ser, na verdade, meios de fofocar e tornar eternos os pecados, reais ou inventados, de nossos ancestrais. Naquelas figuras tão emblemáticas, a que nós geralmente atribuímos significados religiosos profundos ou uma necessidade de eternizar conhecimentos, bem que poderiam estar mensagens do tipo " Fulano(a) é um [insira aqui um xingamento pré-histórico]". ou "Fulano (a) [insira aqui um comportamento socialmente reprovável]".

A História, essa fofoqueira acadêmica, é recheada de episódios em que um rei/imperador/tirano/etecétera resolveu elevar a própria imagem achincalhando a memória do antecessor. E, lógico, as questões sexuais volta e meia aparecem nesse sentido.

Um exemplo pouco conhecido é um romance histórico de Domenique Jamet, estudado por Michel Vovelle, que traz uma disputa peniana (ui!) entre Robespierre e Danton, dois dos mais afamados revolucionários franceses. Aliás, a Revolução Francesa foi pródiga em atacar a memória dos reis, meio para justificar a si mesma e certamente para tentar tirar da população anos e anos de ensinamento segundo o qual os reis eram escolhidos de Deus e não podiam ser questionados (Teoria do Direito Divino).

A rainha, Maria Antonieta, foi acusada pela Revolução de fútil, mesquinha, devassa... mesmo tratamento dado no Brasil, a partir da Proclamação da República (1889), a Carlota Joaquina, esposa de D. João VI. Este, por sua vez, foi retratado como parvo, glutão, preguiçoso, entre outros adjetivos menos nobres.

Um dos mais interessantes exemplos da difamação histórica é o de Nero, cuja memória foi espicaçada por seus sucessores. Lendas terríveis se ergueram em torno deste imperador de Roma, e aqui há um pouco da outra versão do famoso incêndio e do episódio da Lira.

Tudo isto para justificar novos regimes e/ou novos donos-da-cocada-preta. Como sempre, usando a fofoca e o descrédito ao outro para tentar enaltecer a si mesmos, nada que nossos políticos contemporâneos não façam. Não estou aqui pra defender nenhum deles, mas, como gosto duma boa fofoca, coloquei pra vocês os linques do outro-lado-da-história, um tipo de contra-fofoca, que só dá mais sabor à falação toda.

Fofocar, arte humana presente há milênios, é também uma arma. Mas, como diz aquela propaganda, cuidado: a vítima pode ser você.

Mas que é bom é bom, né não?


"A Australopiteca é uma vaca"
ou "O Australopiteco é bicha"?

(Traduza a seu gosto o xingamento/fofoca rupestre)
:)))

3 comentários:

Rafaela disse...

"A Australopiteca é uma vaca"
ou "O Australopiteco é bicha"?


Transex!

Nanael Soubaim disse...

Há uns anos encontraram "páginas de humor" nos hieroglifos egípcios, se havia humor, então fofoca havia em dobro. O Australopitecus não era bicha, só apreciava a companhia de amigos em longas e distantes caçadas, deixando a Australopiteca sozinha e carente, sob a guarda de um Neanderthal. Foi o que o mamute me contou.

Adriane Schroeder disse...

Sério, Rafa?
Menina, fiquei passada, engomada e colocada no cabide com essa!
Nanael, humor com certeza tem fofoca em dobro. Mas a dona Australopiteca era saidinha, hein?
hhehehehe.