O médico do SUS manda entrar o próximo paciente...
- O que você tem, meu amigo?
- Nada, doutor, nem um centavo.
- De facto, isso é grave. O que tem sentido?
- Murro, pontapé, tapa, chute, depende de quem bate.
Vai examinando o paciente gaiato. Enquanto ele fala, atenta para alterações de respiração, ruídos internos, tiques... Encontra sinais mais de estresse do que de qualquer outra cousa...
- Você vai me trazer os resultados destes exames que estou prescrevendo.
- E se eu não passar?
- Te dou cinco por ter sido camarada.
Dois meses depois, o paciente volta. Não esperava que conseguisse os exames tão cedo, pela saúde pública, mas tanto melhor quanto antes...
- Hmm... Alguma novidade? Tem algo a me dizer?
- Só na presença do meu advogado.
- O amigo está desempregado?
- Não! Deus me livre e guarde!
- Estou vendo aqui tão somente sinais de estresse, desgaste físico, nada que um período de férias não resolva.
- "Férias"? Que ser isto?
- Seu emprego não é formal?
- Sim, todos os três.
Começa a compreender. Olha para fora, há poucas pessoas, então pode delongar um pouco...
- Vou ser sincero com o amigo.
- Uai! Cê tava mentindo até agora?
- Não. Seguinte, dois pontos: O seu corpo está sofrendo um desgaste muito acelerado, se não reduzir o ritmo agora, pode enfartar a qualquer momento.
- Ra, ra, ra, ra, ra! Boa, conta uma de papagaio.
- Não é piada. Se você não reduzir o ritmo, em vez de ter um pai que ganha pouco, seus filhos serão órfãos que ganham menos ainda, vendendo bala nas ruas.
- Doutor, estou perdendo o dia de trabalho pra poder vir aqui. Eu trabalho todos os trinta dias do mês pra poder dar conta. Não tem jeito de parar...
Deixa-o falar. Percebe alguns pontos onde pode ajudar, mas espera que termine tudo, para não ser surpreendido. Chama um faxineiro, conversa com ele e em uma semana o paciente está se mudando para perto do centro. É um barracão de fundos, mas serão seis ônibus a menos por dia na despesa. Volta no mês seguinte e o médico nota a diferença...
- Putz! Só de não precisar pegar ônibus já te fez uma diferença, heim!
- Cê não viu nada. Pior era quando o ônibus me pegava e eu ficava em casa, engessado.
- Você faz sexo regularmente?
- Não, o meu já nasceu feito e a patroa gosta dele.
Os dois sabem o quanto é raro o que estão vivendo. A amiúde, médico e paciente mal se olham, Um fala onde dói, o outro passa uma receita e nunca mais se vêem. principalmente na rede pública.
Em dois meses o médico está atendendo noutro lugar. Os colegas sindicalizados se irritaram com sua insistência em atender decentemente o contribuinte, em vez de negligenciá-lo e colocar a culpa no governo, para justificar as greves em pauta. Mas ele continua atendendo como se deve.
sábado, 28 de março de 2009
Susto
Postado por Nanael Soubaim às 16:22
Marcadores: Nanael Soubaim
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6 comentários:
Uma boa conversa pode ser melhor que qualquer medicamento...
:)
Só que não dá lucro. Quem trabalha em vigilância sanitária sabe que tudo o que se fala de empresas pharmoquímicas é verdade, salvo raras excessões.
Odeio médicos. Nem olham pra cara da gente. E não é só no SUS que isso acontece.
- Você faz sexo regularmente?
- Não, o meu já nasceu feito e a patroa gosta dele.
Hahahahaha! É o tipo de conversa que tenho com a minha médica. Que é do Sus. E uma exceção...
Se o médico fosse o House eu deixava me esculachar toda.
precisava comentar isso.
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