sexta-feira, 24 de abril de 2009

Charles Dickens, personagem de si mesmo.

Hoje trago a vocês um texto um pouco diferente. Vocês sabem que literatura não é bem a minha área, mas ler faz parte de meus hábitos e profissão.
É estranho admitir isso, mas vou falar de um autor que conheci não por isto, mas sim graças a um desenho animado. Trata-se do desenho clássico de Disney "Um cântico de Natal", com base no conto de Charles Dickens, que já teve todas as versões possíveis em filmes, desenhos, livros e talicoisa.
Fascinada por aquela história, sempre tive curiosidade de conhecer mais sobre o autor do roteiro original. E quanto mais conhecia sobre Dickens, mais me convencia de que ele, assim como tantos outros, conseguiu fazer de sua história particular de tristeza e miséria uma fonte inesgotável de sabedoria, inspiração e, porque não, entretenimento.
Ele nasceu em 1812, na Inglaterra, época em que se expandia a Revolução Industrial. Filho de um pai perdulário e sempre acossado pelas dívidas, ele viveu em meio pobre. Acabou, como tantas outras crianças, indo trabalhar numa fábrica, aos doze anos, vendo o pai afundar nas dívidas e ser preso por conta delas, como alguns de seus personagens.
Vemos muito dessa experiência da vida real na obra de Dickens. Pode-se mesmo dizer que ele se tornou "personagem de si mesmo", assim como aqueles a seu redor. Por exemplo, quando seu pai recebeu uma pequena herança finalmente saldou as dívidas, ele conseguiu estudar e ter uma vida mais confortável, mas logo o pai perdeu tudo novamente, e Dickens teve de votar a trabalhar, mais ou menos como em "Grandes Esperanças". Essas reviravoltas da vida também marcam outros textos literários dele.
Mas também como no livro citado, não se deixou abater e lançou-se ao trabalho, sem deixar de ler no pouco tempo que tinha de folga. Conseguiu trabalhar num jornal, o que permitia a ele circular na alta roda. Nesta época, viveu um romance que parece ter sido tirado de seus livros: apaixonou-se por uma filha de banqueiro o qual, obviamente, proibiu o namoro. Quando Dickens se tornou famoso e rico, deve ter se contorcido de raiva.
Outro elemento de folhetim que ocorreu com ele foi um evento trágico que lhe deu mais espaço no jornal onde publicava sobre o pseudônimo de Boz. O suicídio do chargista Robert Seymour, a quem seus textos eram subordinados, abriu caminho para que ele publicasse suas próprias histórias livremente. Mais ou menos como aquelas coincidências incríveis que pululavam nos romances dele, algumas vindas de momentos tão ou mais improváveis do que este evento real.
O mais interessante é que o primeiro romance de sucesso - publicado, como era comum à época, em capítulos no jornal - não teve nada de tragédia, mas foi um conjunto de histórias engraçadas, recheadas personagens atrapalhados e patéticos, mas também com um fundo de crítica social. Essas histórias lhe deram reconhecimento e uma popularidade que nunca perdeu, assim como não abandonou esse tom crítico, pelo contrário.
Mesmo quando avançou nas críticas sociais e no melodrama, o público esperava ansioso pelo "próximo capítulo". Imagino as Mirtes londrinas comentando: "Coitadinho do Ólivi Tuíste, Marlene! Esse mininu não para de sofrer, não? ".
Enquanto isso, Dickens trabalhava e dava palestras mundo afora. O "pobre mininu" ganhou o mundo, queridas Mirtes londrinas. E é tão conhecido que mesmo os desenhos animados se renderam a ele e o apresentam a quem nunca tinha tido contato com a literatura mundial. Como eu, por exemplo.

5 comentários:

Rafaela disse...

Adoro esses textos tipo "Talicoisa também é cultura"!

Adriane Schroeder disse...

Obrigada, Rafa!
É o Talicoisa, servindo bem para servir sempre!

Rafa disse...

Taí, tenho um Charles Dickens em casa mas nunca li, acho que isso é um sinal !!

Adriane Schroeder disse...

É um sinal!
Leia!
:)

Nanael Soubaim disse...

Os americanos deveriam olhar para trás e aprender com o que deu certo. Mein fräu, vá esmiuçando maias que logo vais se encantar também com os ilustradores, como Norman Rockwel.