quinta-feira, 18 de junho de 2009

Goggomobil tapando buracos

Todo mundo preocupado com a crise, os carros ficando mais econômicos e alguns fabricantes até encolhendo seus modelos. A Chrysler se associou à Fiat e passará a vender alguns carrinhos italianos com retoques e novos emblemas. Para quem não sabe, por lá o Opala é um carro médio, enquanto nós o consideramos enorme.

Divulgador do antigomobilismo e conhecedor do assunto, me lembrei de uma das mais bem sucedidas marcas de micro carros da história; Goggomobil. Como o acima.
Lançados pela Glas, empresa alemã que produzia implementos agrícolas e ia mal das pernas, o primeiro modelo foi o sedã T 250. Mal passava de 75km/h, mas na Alemanha ainda empobrecida dos anos 1950, o que importava era a autonomia, ele passava de 20km/l em uma época em que os 10km/l do Fusca eram uma bela marca.
O segredo do sucesso dos carrinhos da Glas era não ter segredos. Simplicidade a toda prova. Tanta simplicidade que, no primeiro ano, o T 250 só tinha limpador no lado do motorista, e os vidros eram fixos, mais tarde seriam de correr. Com menos de três metros de comprimento (O Mille tem cerca de 3,64m) e cerca de 390kg, ele economizava não só o combustível, mas matéria-prima. A Europa não tinha o cabedal para lida com plástico reforçado que os americanos aplicaram no Corvette com sucesso (até hoje), então eles eram feitos de aço estampado, como os carros normais ainda são, mas espero que isto mude logo.
A marca desapareceu em fins dos anos 1960, dois anos depois de a BMW a ter comprado. Antes, porém, a marca bávara experimentou um relativo sucesso com a experiência da Glas, construindo o modelo 700, que salvou a montadora da bancarrota. Dez centímetros menos que o Mille, era pequeno até para os padrões europeus, mas muito maior do que os micro carros normais (a maioria nem se parecia com carro), usava o motor da motocicleta BMW R67, com o qual ia a 125km/h.
A Goggomobil licenciou a produção de seus modelinhos (sedã, coupé, furgão e derivados) em várias partes do mundo, inclusive na Argentina, que teve muito mais juízo do que nós e aceitou bem a novidade.
A questão agora é a chance de termos novamente carrinhos em miniatura como aqueles, circulando em grande número pelas nossas ruas. Não acredito que o quase invisível Peel p50 (à direita) volte, ao menos não como carro de série. Há quem faça réplicas, mas são caras. A firma mais famosa é a inglesa Andy's Modern Microcars, que cobra em Libras pelo artesanato.
Mas veículos com dimensões mínimas para pelo menos duas pessoas trafegarem em segurança, que atinjam não menos que 80km/h, estou certo de que seriam idéias para o uso cotidiano em nossas cidades, ainda mais nas ruas estreitas que nossas prefeituras nos insultam, chamando de "avenidas".
Se até os Estados Unidos tiveram seus "micro carros", sendo a Crosley a marca mais longeva, com aquelas ruas imensas, em uma época em que carros com menos de cinco metros eram considerados pequenos, por que nós não tomamos vergonha e aceitamos a idéia? A Gurgel lançou um modelo próprio para isso, mas nossa estupidez elitista nos fez torcer o nariz. Incluo na bronca os sindicalistas que se dizem defensores dos valores brasileiros, mas não deram a mínima para a mais expressiva indústria automobilística nacional já fundada, pensando apenas nos "direito dus cumpanhero trabaiadô".
Temos hoje uma pequenina manufatura que produz uma réplica da Isetta, um ovinho fabricado no Brasil pela Romi, sob licença, nos anos 1950/60. Mas mais uma vez a gasolina barata nos fez torcer os narigões para uma solução efetiva. Gosto de carrões, mas não gosto de uma boa idéia ser desperdiçada. Micro carros (desde que tenham a segurança actualizada) são uma idéia genial. Dá pra enfiar três em uma garagem normal, e um ou dois em uma garagem de condomínio.
Eu gostaria muitíssimo de ver esses negocinhos que parecem de brinquedo, tomando o lugar dos carros comuns, na hora do rush. Para quem está começando a carreira de motorista, seriam uma maravilha, principalmente na auto escola, pois são simpáticos, ajudam muito a perder o medo da direção.
Espero, sinceramente, que o fim do mundo (porque o mundo como o conhecíamos acabou, lamento) tenha injetado humildade suficiente para que aceitemos carros de tão pequeno porte. Não dá para se exibir para a molecada, graças à Deus, são carros necessários. Nada impediria que opcionais luxuosos fossem incluídos nos pacotes, mas definitivamente o tamanho limita tudo. Não daria para esticar as pernas, não daria para por cem quilos de som (alguns não tinham cem quilos) e não dá para apostar corrida com o Vectra GT do vizinho.
As mulheres seriam as maiores clientes, com certeza, pois mesmo o Peel P50 foi feito para levar uma pessoa e uma sacola, ou seja, ir e voltar da feira com mais conforto e segurança do que em um ônibus urbano. Eu compraria um Crosley, pois é mais encorpado e ainda custava pouco.
Quando eles voltarem (Pois Deus é misericordioso além do infinito e eles voltarão) façamos o que deveríamos ter feito há sessenta anos, guardemos nossos carros para viagens ou compras, usemos micro carros no cotidiano.
Edição: Vejam só, termino de tapar o buraco e publicam o texto normal de hoje!

2 comentários:

Adriane Schroeder disse...

´Se os departamentos de trânsito tivessem um milésimo de tua competência, não teríamos tantas crateras por aí...
Em tempo, adorei o texto!
:-*

Nanael Soubaim disse...

Se eles soubessem o que estão fazendo em seus postos, não teríamos leis sem pé nem cabeça.