sábado, 20 de junho de 2009

Mickey mau, muito mau!

Disney criou o Mickey para ganhar dinheiro, tirar parcelas dos salários do operariado para o consumo sem tréguas de um artigo fútil. Foi um criminoso que simpatizava com o nazismo até que este se tornasse uma ameaça aos Estados Unidos.

Morte ao Mickey! Morte ao Pateta! Morte à Branca de Neve, que já morreu uma vez, mas não custa dar uma colher de chá!

Os simbolismos imperialistas e satânicos dos personagens Disney são inúmeros, como as orelhas do Mickey. Elas jamais se viram. Não interessa por que ângulo se olhe, elas estão sempre de lado e em diagonal, como a suástica nazista, os dedos do satã e a calçola da minha sogra, que vive pendurada no meu varal. Usam imagens de bichinhos falantes para alienar nosso povo desde a infância. Chega! personagens infantís têm que ser grotescos, repugnantes e responder mal aos pais.

Todos os que colaboram com a Disney também devem morrer. Como aquele faxineiro traidor das causas proletárias, que deveria ter deixado a poeira estragar os originais dos primeiros filmes, levando assim a Disney à falência. Claro, ele ficaria desempregado e a família passaria fome, mas é um preço justo a se pagar pelo fim do império do mal. O que é o choro de uma mísera criança pequena, se comparado à glória de uma ditadura proletária?

O mesmo para todos os colaboradores de todas as multinacionais, que deveriam fazer greve perpétua para desestabilizar as forças reacionárias. O mecânico que monta um motor para um carro de marca estrangeira deve ser flagelado pelas próprias ferramentas.

Vamos boicotar os heróis pasteurizados importados e prestigiar os nossos, aqueles que a pressão econômica e a competência dos artistas estrangeiros sufocam; como o Zé Lavrador, herói revolucionário em prol das causas camponesas e dos povos da floresta; o Mascarado Favelado, justiceiro que luta contra as forças do regime estabelecido em prol da descriminalização das drogas; o Universitário Gremista, que adia indefinidamente sua formatura para abrir os olhos dos filhinhos de papai, que tomam Toddy de manhã e querem viajar nas férias, em vez de fazerem piquetes e jogarem coquetéis molotov na polícia; o Politicamente Correcto Solitário, nem precisa dizer porque ele é solitário. Estes e tantos heróis que vivem a vida de verdade, não uma fantasia que exibe a vida como se ela fosse boa, heróis feios, sujos, sem educação e que nunca tomam Coca-Cola nem banho. Heróis como o povo brasileiro.

Hai hai hai mil, vai pra fora do Brasil!

Vamos queimar as revistas de licença estrangeira! Morte ao Wolverine! Ele sim, uma representação fiél das intenções imperialistas. Morte ao Garfield! Morte à Luluzinha, que nossos heróis nacionais já estão providenciando! Morte à Lady Death! Morte aos zumbís! Morte ao Gasparzinho! Morte à Família Adams.

Não é porque eles são talentosos, organizados, profissionais, cumprem com prazos e cobram o preço justo que devemos comprar seus quadrinhos. Compremos nossos gibís, ainda que mal desenhados, sem pé nem cabeça, amadorísticos, azedos e que não valham o papel-jornal em que foram xerocados. Toda a renda será revertida em viagens à China, à Coréia do Norte e à Cuba, na primeira classe, para nossos líderes libertários trazerem novas idéias e novos métodos de cabular aulas, já que as desculpas dos protestos já estão perdendo efeito.

Os costumes importados que as publicações da Disney trazem, dissolvem a nossa cultura nacional, dissolvem a cultura local e imaculada de cada comunidade proletária, que jamais deveria sequer ter energia eléctrica para que sua cultura jamais evolua, e assim seja preservada para a posteridade, para que seja estudada como objecto de pesquisa que cada aldeão é.

Disney não morreu, ele está escondido em alguma mansão secreta, sustentada pelos rios de dinheiro que os pobres e inocentes trabalhadores jogam, inocentemente em sua pureza virginal, no leito perverso e pernicioso do Grande Capital. Sua morte foi uma jogada de marketing para alavancar as vendas dos productos Disney, para que não paremos de pensar em Disney, para que não paremos de comprar Disney. Chega! Isso precisa ter um fim! Vamos boicotar a Disney. Vamos parar de comprar Disney. Vamos parar de pensar em Disney. Nunca mais diremos o nome Disney. Poque quanto mais se fala em Disney, mais se pensa em Disney. Vamos, façamos um exercício. Repitam comigo: Esquecerei a Disney, esquecerei a Disney, esquecerei a Disney... Repitam ad infinitum até que tenham esquecido a Disney. E também o Mickey, seu mais fiél e astuto agente. Amigo de um chefe de polícia, e todos sabemos que a polícia é má, é contra os ideais libertários pregados pela Coréia do Norte, pela China e por Cuba, paraísos proletários estabelecidos na terra. Lá não existe Disney, nem Mickey, nem Super Homem, nem Mulher Maravilha... Heim? Peraí, não vamos radicalizar, heroínas são portadoras da revolução, e legalizar a heroína é uma das bandeiras da revolução, assim como o sexo totalmente livre, o aborto como método anticoncepcional, o fim dos banhos e de ter que chegar em casa antes da meia-noite.

Todos os males que assolam nosso país vêm de fora. É por causa de Hollywood que nossos cineastas não conseguem estar em todas as salas de cinema. Um conlúrio com o governo Lula dificulta o acesso de nossos artistas aos recursos públicos, e todos sabem que é impossível fazer cultura sem o dinheiro público, ainda que Disney tenha provado o contrário. Não discutirei o impacto da meia-entrada obrigatória, é uma conquista estudantil e o grêmio é soberano, não deve satisfações a ninguém.

Os filmes clássicos da Disney só têm brancos, desrespeitando a pluralidade racial e étnica, mostrando que gente pobre pode subir na vida e alegrando a platéia. Filmes não são para alegrar, filmes devem revoltar, quem vê um filme vede sair da sala de cinema e começar a quebrar tudo. Ajudar é coisa de imperialistas, o proletariado tem é que destruir. Morte à meiguice, à bondade, à gentileza, ao casamento e a todas as instituições estabelecidas para a perpetuação das forças burguesas no poder.

No tempo do AI-5 é que era bom, a gente tinha contra o que se revoltar e não precisava usar desculpas esfarrapadas.

2 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Adorei!
Nanael, és um mestre do sarcasmo.

Nanael Soubaim disse...

O Sarcasmo (com maiúscula) é uma arte melindrosa, a fronteira com o mau gosto desnecessário é muito tênue e desgastada. Mas se acertada a dose, o ensinamento é fixado no decorrer da leitura.