Os laços são feitos e devidamente arrematados entre nossos amigos.
Nona estação, parada rápida, todos a bordo que o trem vai partir.
Nona estação, parada rápida, todos a bordo que o trem vai partir.
Turma formada, todos devidamente acomodados,
Nancy começa como pode, para quebrar o gelo. Começa a aula cantando...
- Boa tarde, crianças.
- Boa tarde, professora - respondem na mesma
melodia, se divertindo.
Funcionou. Pede, ainda cantarolando, que
ajudem o garoto de fora, para que consiga alcançar o resto. Entre conversas
normais e cantaroladas, o conteúdo é apresentado, explicado, discutido e
exercícios práticos realizados. Exactamente como sua mãe lhe ensinava, com a
inclusão de técnicas modernas.
Com sua experiência ao balcão, ensina
matemática de forma prática, com exemplos próximos e mostrando a utilidade, inclusive
usando as bombas de combustível para demonstrar frações e cálculo de volume. No
fim da tarde, vê que não se saiu mal, embora ainda esteja com as pernas
tremendo. Planeja a aula de amanhã, esperando tremer menos.
Com alguma dificuldade, Robert júnior
consegue alcançar os demais. Rebeca, sua irmã, tem aulas à parte, pois ainda é
muito novinha, mas grande o bastante para iniciar a carreira estudantil. O
ensino intensivo de música surte efeitos positivos nos irmãos, especialmente no
garoto, que passa a render mais na escola. Diga-se de passagem, a pequenina se
mostra uma aluna voraz, deglute e digere rapidamente o que lhe é ensinado.
O racismo? Ele viu que é uma coisa muito
idiota, agora é unha e carne com Ronald, nos estudos e nas travessuras típicas
da idade. Certa feita eles estavam brincando de bola, na casa de Robert, quando
um vizinho viu aquele garoto negro e mandou que seus dois filhos entrassem em casa.
Os dois olharam abismados pela cerca baixa, a cena ridícula. Quando o homem
colocou a cabeça para fora da porta da cozinha, o nobre acenou, ele se recolheu
rapidamente. Os dois se olharam, combinaram e esperaram. O homem abriu a
cortina da janela e os dois acenaram dançando o cancã, ele se escondeu de novo.
Mais um pouco e ele olhou novamente, os dois seguravam uma placa escrito “We’re
still here!” bem grande. Foi uma tarde de domingo mais divertida do que
imaginavam ter. Quando contaram aos pais, após a indignação que quase fez papai
Robert partir a cara do vizinho que há muito não lhe agradava, combinaram de
fazer algo parecido noutro dia, com mais gente e com mais deboche.
Rebeca ainda era muito novinha para
compreender essas coisas idiotas de quem se acha adulto, já começou sua vida
social interagindo positivamente com negros, índios e filhos de imigrantes.
Novinha, mas sua personalidade agressiva se mostrou desde cedo.
&
Patrícia vê um bilhetinho em sua carteira (...) os
amigos dizem que viram várias crianças passando por ali, mas não viram quem
colocou o bilhete. Abre e lê “O que uma garota legal como você faz com um grupo
de perdedores, quando poderia estar com um homem de verdade?”. Fica brava,
embora não aparente. Olha discretamente para os lados, mas todos têm a mesma
cara de idiota, parece que saíram de uma linha de montagem. Mostra aos amigos
na saída, e aos pais em casa. Ela não reclama de ter sido paquerada (...) se aborreceu de a pessoa ter se
desfeito de seus amigos; são como seus irmãos.
Nancy e Richard observaram a filha com
atenção, ainda pouco mais do que uma criança, mas se formando e crescendo muito
rápido (...) a plástica da menina era simplesmente deslumbrante. Decidem
observar e testar reações, no próximo halloween, com uma festa em casa. Mas por
agora tratam de conter a indignação do rebento, que há muito se queixa de
colegas de escola. Adoraria estudar nas escolas legais e cheias de amigos
sinceros, dos filmes institucionais...
- Meu amor, venha aqui. Senta no colo da
mamãe, enquanto ainda cabe nele... Você já está ficando mocinha. Eu sei que
nunca ficou presa às bonecas, que prefere os livros, mas... Vou ser directa,
esses caras vão começar a ser inconvenientes, eles vão pegar no seu pé e
enxergam os seus amigos como obstáculos. Para eles, os garotos são seus
paqueras.
- Como é que é - Indigna-se?
- Você se lembra do que aconteceu com os
Blosson, no ano passado? Da encrenca que foi um rapaz se interessar pela Betty
e assediá-la, e quando ela correu quase nua do carro para dentro de casa?
- Tá querendo dizer que esse cara quer me
namorar? Sem chance! Não vou com a cara de quem não respeita a minha turma... E
ainda estou longe de querer saber disso... Colegas minhas que já namoram estão
indo mal na escola, sabia?
- Seu pai nunca me atrapalhou, muito pelo
contrário. Me incentivou a estudar e até me ajudava nos trabalhos.
- Oras, mamãe, não faça comparações tolas!
Papai não é simplesmente um homem, é um Super Homem, um exemplar raro e talvez
único, um príncipe, um gênio, um exemplo e modelo para o resto da humanidade...
Ela enumera as qualidade e Richard ouve, com
um sorriso de orelha a orelha, detrás da porta. Sai de volta à oficina esticando
os suspensórios, mais cheio do que tanque de Cadillac recém-abastecido, se
achando o máximo.
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