domingo, 25 de novembro de 2007

Back to the Past


Dizem que a nossa geração sofre de uma falta de inventividade congênita. Dizem que não se cria mais como no passado. Dizem que o que temos não passa de reflexos do que já existia.

Dizem, outrossim, que a prova disso estampada está no acúmulo de coletâneas musicais que aglutinam-se nas lojas de discos. Dizem que a MPB não passa de uma corja de sexagenários senis. Dizem que o clamor por novos nomes no cenário musical é atendido por mais e mais compactos da obra de gente que inventou no passado, mas que não inventa mais por que naturalmente não existem carreiras póstumas.

Dizem sim que o cinema traz uma placa na testa com a inscrição “Não produzo mais a todo vapor”. Dizem que isso fica claro pela imensidão de novas versões de sucessos dos tempos dos nossos avós. Dizem que os remakes invadiram a praia. Dizem que Bruce Willis continua fazendo Die Hard, que o Stallone ainda não cansou de ser Rambo ou Rocky e que tampouco o Harrison Ford fartou-se de ser Indiana Jones. Dizem que os heróis da Marvel jamais se aposentarão e que sempre haverá Alguma-Coisa-Returns ou Fulano-de-tal-Begins.

Dizem, com certa revolta, que os desenhos animados de hoje são deveras violentos e de animados não tem nada. Dizem que seriam então, Desenhos Desanimados e que bom mesmo era o Pica-Pau, mas Walter Lantz já se aposentou neste plano; Charles Schulz já guardou o Snoopy numa caixinha de sapatos e Hanna e Barbera não querem mais acordo com o Dick Vigarista.

Dizem ainda, em tom de questionamento: “Por que não existem novos Graham Bells ou Thomas Edisons?” Dizem sim, e é um questionamento válido a escassez de gente que inventa coisa. Dizem que é por que já inventaram quase tudo, minha gente. Dizem que já inventaram a lâmpada elétrica, o telefone e até descobriram a gravidade.

Dizem inclusive, sem o menor remorso, que a onda nostálgica que toma conta de nossa geração é fruto dessa pobreza cultural que nos consome. Dizem que se evocam as décadas de setenta e oitenta com uma sofreguidão desnecessária, visto que foram duas décadas astronomicamente cafonas.

Dizem por aí que existe uma parcela enorme de cidadãos que tenta a todo custo resgatar a fartura inventiva que nos deixou órfãos. Dizem que Latino é um dos mais esforçados, perdendo apenas para Britney Spears, no cenário internacional.

Dizem sim e o fazem o tempo todo, em todo canto da cidade. Dizem - e quase deixei de citar - que talvez nós não estejamos com os olhos de todo abertos para apreciar novidades, muito atarefados que estamos comprando coletâneas, assistindo remakes e idolatrando desenhos da década de 80 (mas os que dizem isso são minoria e nós não ligamos para minorias, né?).

Michael jogando o presente fora

4 comentários:

Luana! disse...

Eu tow na fase de baixar discografias. Não pela nostalgia, mas pq reverencio o início de tudo.
Estou numa fase de conhecer o velho, para entender o novo que chega na página de alternativos.

Mas acredito na capacidade do ser humano de inventar e reiventar coisas. Nada vai ser tão bom quanto o outro, nem melhor. Só vai ser diferente, assim como este blog.


Parabéns, povo!
Parabéns, Daveeeeeeee!!

*^.^*

Vivi disse...

Muito bom o texto Dave...
Lí ontem rapidinho e não comentei... Mas hj passei o dia todo pensando no quanto estamos vivendo do passado... CredinCruizi!!

Melissa de Castro disse...

Adorei, Dave.
Relembrar também é reviver. Se bem que quando olho algumas fotos da década de 80 dou graças a deus por ter passado rápido. Não me imagino com aqueles cabelos em forma de tufos (não que tenha mudado muito no meu caso... hehehehe). Mas música era legal. Eu adorava o Michael Jackson, antes dele virar esse ser bizarro! E Madonna, gente! Amo Madonna até hoje. Sou praticamente uma material girl.
Enfim, amei!!!

Rafaela disse...

Não sei se é falta de inventividade, a criatividade até que é vasta algumas vezes, mas os resultados...