Na sufocante maioria das vezes, idéias machadianas surgem em minha mente quando lápis e papel estão a léguas de distância. Vibro de contentamento enquanto um insight – que faria José de Alencar dar pulinhos de inveja - vagueia pela minha cabeça. O revoltante é que isto se dá enquanto estou em meio aos mais triviais eventos. Um exemplo? Pois bem... Contorcendo-me num ônibus lotado, mumificando numa fila de banco, ou até mesmo nos momentos mais escatológicos.
Só depois de uma corrida desenfreada para enfim escrever essas idéias, é que descubro: Esqueci! Todos os mais profundos devaneios escapam na mesma velocidade em que surgem, numa façanha ultrajante. É como se eu recebesse em minha porta uma Inspiração que, impaciente, batia:
- Escuta, aqui ninguém atende a porta é? Eu hein!
Daí eu apareço todo ensaboado, saindo do banho.
- Perdoa-me Senhora Inspiração! Faça a fineza de entrar. Só vou procurar o lápis e...
- Xiii – diz ela, checando o endereço impresso no pacote – Endereço errado, colega. Passar bem.
Mas o que consola esse clã de Indiana Jones do mundo literário é justamente o fato existirem escritores consagrados que sofrem desse mesmo distúrbio. Douglas Adams (autor da série Guia do Mochileiro das Galáxias) dizia que escrever era, para ele, uma tortura. João Ubaldo Ribeiro (de A Casa dos Budas Ditosos) já declarou que “ficar escolhendo palavra por palavra é um saco”.
Diante de tudo isso, eu concluo que sou o Coyote e a Inspiração é o Papa-léguas. Nessa perseguição este último se dá bem sempre. Mas nem por isso o bom e velho Coyote deixa de se divertir.
4 comentários:
Muito bom o texto Dave!!
Realmente a inspiração nunca está ao nosso lado quando precisamos.
Tbm já me convenci de que não adianta ficar fazendo rascunhos ou sofrende na véspera...
Bjinhos
Ai, Dave Coelho... Eu fui testemunha da sua luta com as palavras, ontem. Mas você é tão danado, que acaba sempre vencendo.
Escrever é mesmo difícil, principalmente quando não se tem o hábito. Corági, Deuzuíte! E quem sabe aquele gravadorzinho de voz ajuda um pouco, né?
Adorei o teu texto, esse é um questionamento meu também. De onde vem essa danada da inspirção?
Dave, fofo!
Adorei a comparação do último parágrafo. Às vezes me sinto assim também...
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