quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A filosofia de uma paixão

Quando nos olhamos pela primeira vez, não houve clima algum. Eu diria que foi até inesperado, estranho. Fomos apresentados quando eu cursava o primeiro ano da faculdade de Jornalismo. Naquele primeiro momento, senti que nossa convivência não seria das mais fáceis. Ele parecia muito antiquado pra mim, uma garota no auge se seus 20 anos. Mas foi durante uma aula de filosofia que eu vi o jogo virar. Era aquele homem que mudaria minha visão de mundo, que habitaria meus pensamentos. Suas palavras tocavam minha alma de uma maneira que eu jamais vira. Tocavam fundo, me faziam refletir. E não demorou para que a atração entre nós surgisse. “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura”, dizia ele.

Nosso primeiro encontro não foi dos mais casuais. Nossas discussões durante aquela aula de filosofia não foram das mais amigáveis. Eu o atacava, mas ele rebatia com argumentos muito bem elaborados. Fiquei assustada, mas, ao mesmo tempo, encantada. Resolvi deixar aquela sensação invadir meus pensamentos e clarear minha mente.

Naquele mesmo dia decidi que o levaria comigo. Eu precisava entender aquelas idéias tão revolucionárias. Fui apresentada ao “O Anticristo” e, em meio a olhares de desaprovação das pessoas que compartilhavam conosco vagões de metrô e ônibus, nossa paixão tornou-se real. Naquele momento, em que nossa relação foi consumada, senti que minha vida jamais seria a mesma. Aquelas palavras seriam minhas guias. Aquele homem seria meu guia.

Minhas convicções, meus pensamentos, minhas idéias. Ele tomou conta de tudo. Pode parecer uma relação doentia, de dependência. Sim, eu sou dependente dele e de tudo o que diz: “A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim; o que nos pode agradar no homem é ele ser transição e queda”. Ele me ajudou a entender que sou um ser em constante construção, não há um fim, mas, sim momentos de adaptação para transições. Mas, ao mesmo tempo, posso dizer que quando estou com ele me sinto completa. Pode parecer contraditório, mas é exatamente essa aa principal característica desse homem. E polêmico também. O que mais se pode dizer de alguém que deflagra uma frase como "O Evangelho morreu na cruz" aos quatro ventos?

E eu, mesmo depois de quatro anos de convívio, ainda tenho sensações inexplicáveis, mas maravilhosas, todo vez que nos encontramos. Ele é o homem que mudou minha visão de tudo, que é meu guia quando me sinto perdida, me ajuda durante crises existenciais e até mesmo alivia os sintomas da minha TPM. Ele é um alemão turrão, de poucos amigos e que foi atormentado por doenças durante a maior partde da sua vida. Friedrich Nietzsche é o seu nome. Friedrich Nietzsche é o homem que me faz completa. Foi ele quem me ensinou a questionar e a buscar explicações para o que muitas vezes parecia inexplicável. Seu poder de persuasão é impressionante, assim como a imensa admiração que sinto por ele. É ele o autor de livros como “O Anticristo”, “Humano, demasiado humano”, “Além do Bem e do Mal”, “Ecce Homo” e “Assim falou Zaratustra”. Leituras que mudaram a minha vida e abriram meus olhos para novos horizontes.

Posso dizer que muito do que sou hoje é conseqüência das palavras desse homem, que enxergava muito além de seu tempo. Nietzsche me conquistou e posso dizer que ele – juntamente com seu bigode horroroso – é minha grande paixão. Hoje, é a ele que eu recorro quando preciso de uma palavra que me conforte. Se bem que eu acho que “conforto” não é a melhor palavra para definir o que eu sinto. É exatamente o contrário. Eu diria “incômodo”. Mas um incômodo que colabora para o meu crescimento pessoal, na vida. E por que não dizer intelectual também. Um incômodo que faz bem.
No popular - porque comigo não tem essas frescuras– Nietzsche é o cara!
***Nota da autora: Gente, acho que viajei um pouco nesse texto, mas espero que eu tenha conseguido transmitir pra vocês a real importância das palavras do Nietzsche pra minha construção pessoal. E admito que fiz o texto na correria, porque tá uma loucura aqui no trabalho.

7 comentários:

Edu disse...

"O Evangelho está morto..."

Nada a declarar. Exceto que não dá pra entender Nietzche sem entender a vida dele.

E saber que toda o problema dele com a religião, ou Deus, era resultante das mágoas com o pai, que era pastor protestante. Mas enfim...

Apesar de feito na correria, Mel, ficou ótimo. Como sempre.

Concisa, e ainda assim, um toque leve de romance que não ficou nem um pouco piegas.

Meus sinceros parabéns...

Melissa de Castro disse...

É verdade, Fio. A vida dele é um caso à parte, que não deixa de ser também fascinante. Além de ser reponsável por tudo o que escreveu.

Muito obrigada pelo elogio, querido. Vindo de você é sempre um prazer.

Agora chega de puxação de saco!
Te adoro, seu louco!

Vivi disse...

Mel.. Ficou ótimo o texto...
Começei a ler imaginando uma declaração de amor para seu namorado ou algo semelhante... Mto boa a surpresa...
Conheço muito pouco sobre a vida de Nietzche; por isso prefiro não dar minha opinião... Mas seu texto me fez lembrar de um professor de filosofia do segundo ano... Ele era apaixonado por Nietzche... E foi um dos melhores professores que tivemos... I

Beijos.

Frankulino disse...

Mel, muito bem feito o texto. Parabéns!

No primeiro parágrafo, com toda aquela coisa de amor, eu achei que você fosse falar do Vando!

Cara... O que eu gosto nesse filósofo é o fato dele não querer impor suas ideias a ninguém... nem ser esnobe... Gosto daquela historia de que ele deixava seus alunos sozinhos antes das aulas terminarem... pra eles refletirem. E também, na aula de filosofia, é o filosofo mais fácil de se fazer trabalho :b!

Anônimo disse...

Inicialmente eu achei que você fosse falar de sua paixão por um professor ou um colega =P
Ainda não estudei Nietzche nas minhas aulas de Filosofia, mas seu texto me empolgou!

Luna disse...

Eu nunca li nada do moço do bigode horroroso, mas nunca é tarde pra começar! Show, Mel!

Anônimo disse...

aham