sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Macumba, e talicoisa...

Numa conversa no MSN, e motivado pelos companheiros Luna e Dave, resolvi, pra esta semana, escrever e contar um pouco sobre a minha religião.

Dave havia mencionado ter visto na faculdade um vídeo aonde se mostrava o ritual de “Umbanda”.

Após comentar sobre coisas (que ele mesmo entende por atrocidades), tive que corrigi-lo. Mas a correção deveria ser ao professor. Porque não teve nenhum interesse de pesquisar pra entender sobre o que estava falando, ou mostrando.

Enfim...

Explico aqui (com as minhas próprias palavras), o que é a Umbanda. E o que são os cultos vistos por Dave.

Umbanda é uma religião brasileira, fundada e fundamentada no Brasil.

Alguns seguidores afirmam que há uma raiz africanista, mas em qualquer dialeto africano, não existe a palavra “umbanda”. O máximo que se encontra é “mbanda”, que vem a ser curandeiro.

A chamada “raiz africanista” vem de se falar do culto dos Orixás.

A questão primordial é que o culto aos Orixás na Umbanda é um, no Candomblé é outro, nos cultos de nação é outro, etc.

Na Umbanda, os Orixás são compreendidos como entidades de alto grau evolutivo, tal qual se compreende no Espiritismo Kardecista

No Candomblé, e nos Cultos de Nação (Jeje, Nagô e Ketu), os Orixás são compreendidos ou como Deuses, ou como Forças Divinizadas da Natureza. Num atual “Candomblé Científico” (nome meramente explicativo) entende-se o Orixá como arquétipo primordial, parte do Inconsciente Coletivo.

Há ainda, os cultos do Xambá, Toré, Tambor de Mina, os Xangôs do Nordeste, culto da Jurema, e etc.

Cada um deles com uma forma própria de entendimento. Cada um com seus dogmas.

Mas todos esses cultos, são chamados pelo povo de “Macumba”. Sendo que a “Macumba” mesmo é um tipo de rito. E não o todo.

No Rio de Janeiro, em meados do século XX, havia diversos tipos de culto, considerados “Macumba” ou “Batuque”.

Nessa época, havia perseguição policial. Havia até mesmo Lei para coibir qualquer outra religião, que não fosse a vigente (a católica, mais precisamente).

Explicando esse ponto, o Governo Federal proibia qualquer manifestação religiosa que não fosse ligada à religião oficial. Sendo assim, nessa época, um sem-número de umbandistas, candomblecistas e tantos outros foram presos, simplesmente por estarem expressando suas crenças.

De forma geral, qualquer pessoa que seguisse qualquer uma das denominações desses ritos, era chamada de “macumbeira”.

Hoje em dia, muitos chamam de “macumba” o ebó, que é (dentro do ritual do candomblé e dos cultos de nação, e de alguns seguimentos da Umbanda) uma oferenda à determinado Orixá. Ou entidade espiritual.

Porém, o ebó é oferenda. Não macumba.

Novamente, Macumba era um tipo de rito. Mais ligado ao Candomblé e aos Cultos de Nação do que propriamente à Umbanda.

Separando o que é Candomblé e Umbanda, pode-se dizer que:

- Candomblé (e/ou Culto de Nação), tem, em seu ritual, a “feitura de cabeça”(à qual voltaremos mais tarde), as festas, o sacrifício ritual de animais, a música (com a percussão), roupas (fantasias), comidas “do santo”, e etc.;

- Umbanda tem iniciação, as “sessões” são marcadas pra um dia determinado, e realizadas sempre, toda semana, ou em alguns casos, a cada 15 dias; não são feitas festas (em algumas divisões, sim), a música é apenas entoada (em algumas divisões se usa o atabaque, ou outros instrumentos de percussão), as roupas são brancas, e simples, e as oferendas são normalmente de frutas, bebidas, fumo e velas. Não são sacrificados animais.

Como vou acabar me alongando demais (o assunto é longo...) explico:

- O que Dave, seu professor e colegas viram, foi um ritual, não de Umbanda. Mas por falta de maiores esclarecimentos, pode ser um culto de Nação (Ketu, Jeje, Nagô), pode ser Xangô (não o Orixá, mas um culto específico à esse Orixá, próprio do Nordeste), pode ser Catimbó, pode ser Culto da Jurema, pode ser Toré, pode ser Xambá, pode ser Candomblé, Candomblé de Caboclo, Umbanda Omolocô, ou ainda outras. Ou até Macumba mesmo. Mas com certeza, não é Umbanda.

- Umbanda é um culto mais espiritual. Tem magia sim, mas de uma forma mais sutil. Deixo claro que respeito e que devem ser respeitadas todas as formas de ritual. Afinal, para nós, ver um animal (como um bode, ou algo do tipo) ser sacrificado é horrível. Porém, imagine o que é para um brâmane hindu, ver o mundo inteiro comendo hambúrguer bovino?

Ou seja, respeito deve haver pra todos, e com todos.

P.S.: Peço desculpas pelo texto excessivamente fragmentado. A falta de tempo e uma semana que só por Deus, deixaram esse texto assim. Pretendo explicar melhor as coisas. MAs com o tempo. Desculpem-me.



7 comentários:

Frankulino disse...

Muito bom e esclarecedor esse texto, Fio. Pra mim era a mesma coisa... por isso num gostava muito da Umbanda por que achava que tinha sacrifício de animais. Mas agora eu entendo que na Ubanda isso não existe...

Mas o preconceito que ambos sofrem, Candonblé e Ubanda, é o mesmo... "É tudo catimbozêro, Irene", já diria a Mirtes desinformada...


Valeu pelo texto esclarecedor...

E qualquer dia participo denovo do janelão quando passar a TPM do Dave.

Davi Coelho disse...

Fiodoxovsky, antes de qualquer coisa eu tenho que esclarecer o seguinte: a apresentação onde eu vi as supracitadas cenas foi de uma equipe [ e não de um professor ] e tudo lá foi muito bem explicado. Eu é que, no calor do momento, deixei de ouvir os detalhes pra me assustar melhor com as imagens XD

Mas sim, bastante esclarecedor o seu texto. Qualquer forma preciptada de avaliar o que quer que seja, em geral é justificada pela desinformação.
O teu texto é um convite à leitura. Vou procurar ler mais sobre o assunto.

Abração Fio.

Anônimo disse...

Muito esclarecedor mesmo, eu sabia que existiam diferenças entre Umbanda e Candomblé, mas não tinha nenhuma noção de quais são...
Escreva mais sobre isso =)

Vivi disse...

Fio... Como sempre, muito bom o texto!
Espero que ele ilumine as "cabecinhas" que só sabem criticar as escolhas das outras pessoas. Acredito que não importa a religião ou a crença, se a pessoa acredita em Deus ou não... O que deve contar é o seu coração; o bem que ela faz para as outras pessoas, o cuidado e carinho que tem para com sua família. Penso que a religião deve ser apenas o meio que utilizamos para nos sentir mais perto de Deus.
Católico, evangélico, budista, espírita, umbanda... Somos todos iguais. Podemos fazer as mesmas escolhas, sejam elas boas ou más...

Luna disse...

Eu não sabia de nada disso, pra mim, era tudo a mesma coisa.
Acho que o professor do Dave tinha a mesma opinião, por isso não se preocupou em explicar nada. Afinal, não dá pra explicar o que não se entende!
Vai ter a segunda parte?

Mandinha disse...

Eu sou espirita Kardecista e tb achava que era tudo macumba e ficava irritada com a exitencia desses cultos porque me chamavam tb de macumbeira por causa deles. Mas ai um dia teve um trabalho de cultura religiosa na faculdade e uma menina da minha sala que era umbandista, ai antes mesmo de apresentar o trabalho ela me explicou tudo, achei legal.

Depois disso foi um pessoal da faculdade de umbanda de S'ao Paulo, eu acho, na casa espirita que eu frequento, achei otimo pq nem todo munto sabia o que eu sabia e tambem tinha uma visao errada...

Anônimo disse...

Boa, Fio! Eu como Umbandista que sou, concordo com suas palavras. A Umbanda prega apenas a caridade e o auxílio ao próximo. Não é, tampouco, Baixo Espiritismo, como muitos kardecistas gostam de falar. É uma religião distinta do Candomblé, com seu fundamentos próprios. E quando virem qualquer coisa colorida demais, com cobrança de $$$ demais, podem saber, não é Umbanda.