Dead Train in the rain CII

    O lindinho virou lindão. A estação 102 mostra o risco de se deixar legados para os filhos, porque alguns eles herdarão queiram ou não. Plantem boas coisas e embarquem, o trem vai partir.

- Hey, príncipe Adam! Rainha Malena te deixou sozinho em Eternia?

Richard só olha para trás quando lhe avisam que é consigo. Ele olha para o grupo, o conhece (...) volta à conversa com seu grupo de faculdade. Richard não é do tipo que uma pessoa em sã consciência provocaria à toa, mas a insanidade tem ganhado status e adeptos...

- Ricky, eles estão vindo...

Ele olha novamente para trás e os vê fazendo gestos ameaçadores, dois deles ajeitando faixas nas testas...

- Você é muito folgado! Acha que é dono da universidade só porque tem mamãe rica e famosa? Menino mimado!

Ele guarda silêncio, mas encara de cima o provocador, se tornando mais parecido com o avô, está com a paciência no limite há muito tempo. O outro, tagarela, fala que ele é muito bonitinho e arrumadinho, muito caretinha, muito educadinho, muito gentil, muito cheio de garotas...

- Ah, agora eu entendi – diz com seu baixo retumbante.

- Sacou, né? Legal, gosto que o cara saiba porque está apanhando!

Não é tão simples. Eles esperavam que Richard, como a maioria, ficasse parado esperando o punho atingir seu rosto, mas ele teve uma idéia melhor, interceptou o punho e o apertou até doer. Levantar cem quilos, para ele, não constitui um grande esforço. Os outros cinco partem para cima (...) Fora a vergonha de terem sido seis valentões surrados por um só, ganham a fama de covardes pelo mesmo motivo. Na reitoria a frieza do sunshadower faz mais do que gelar a espinha do reitor, coloca sua versão dos factos de forma clara e inequívoca...

- Foi só isso?

- Sabe de algo que eu não tenha citado?

- Não... Eu creio ser desnecessário pedir que evite encrencas e quase inútil que evite confrontos, porque esses valentões não têm noção e atacam por qualquer coisa...

É dispensado e vai para sua amada, que o aguardava na recepção. Nancy fica furiosa quando sabe, Patrícia logo é informada e não se irrita menos...

- NINGUÉM TOCA NO MEU FILHO! Ele foi muito bondoso deixando que os moleques saíssem andando. Mommy, fique de olho, eu quero satisfações assim que puser os pés em Susnhadow. Onde ele está?

- Cuidando da Betty com a Marcia, no jardim dos fundos. Já avisei o Greg, ele está apressando o trabalho para voltar e tomar a situação.

- Thank you, mom... A gente se fala mais na volta...

- Quem ameaçou o bonitinho, irmã?

- Fedelhos metidos a machões... A diferença do modo como educamos nossos filhos e as outras cidades educam os seus está ficando absurdamente grande. Esses moleques não têm mais limites! Está tudo bem, vamos para a pipoca.

- Tem certeza? Podemos adiar por umas duas horas...

- Tenho. Ricky deu uma surra nos seis. Vamos lá.

Vão os seis, mas só as duas sabendo de tudo o que vai acontecer. O pipoqueiro que participará da filmagem é um colaborador de base (...) que se juntou à inteligência independente, após ter sua carreira de professor universitário arruinada por intrigas políticas. Deborah já está (...) fazendo todo mundo se alongar e relaxar, até os fãs honrados com o privilégio (...) Incluíram os garotos do Another Train em algumas passagens, e eles vão receber por isso.

Patrícia e Rebeca fazem os sinais com as mãos e o pipoqueiro responde, ele está com a gravação (...) vão então as duas comprar pipoca doce...

- Verde ou vermelha?

- As duas juntas, mas em saquinhos grandes.

- Põe uma fitinha pra ficar bonita – completa Rebeca.

É a senha (...) Entre dois deles está uma fita de vídeo compacta, Patrícia abre a bolsa para pegar o dinheiro e ele deixa a fita cair lá dentro (...) Richard fica com a fita, um saquinho e a missão está cumprida (...) em Sunshadow Richard ganha a alcunha de He-Man. O adolescente está no momento montando os tuchos novos no motor do Fleetwood, (...) Ele liga e o nível de ruído ligeiramente menor mostra a diferença. Agora organiza tudo e vai ver a homepage da banda (...) vê uma pancada de mensagens de fãs preocupados consigo, por causa dos boatos de que teria sido espancado por marginais. Se comove (...)Trata de tranqüilizar o público, mas nada de photographias.

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Antes de subirem ao palco, avisam Patrícia da actualização que o filho fez na página da banda (...) Ela fica muito feliz não só pela mensagem do rapaz, mas também pelo carinho que seus fãs estenderam a ele. Vão à entrada do palco como sempre, de mãos dadas, aguardando Gloria os anunciar, a partir de então o público vai ao delírio e a turnê comemorativa é aberta com chave de ouro. Voam na manhã seguinte para Guantánamo. É um show simples, o suficiente para militares e familiares não se sentirem esquecidos pelo continente, e para a família “morta” se misturar à equipe e embarcar de carona com eles para os Estados Unidos (...) Para todos os efeitos, os quatro estão enterrados em uma vala comum.

Em casa Patrícia é posta a par do que aconteceu no campus. Acaricia o rebento enquanto Nancy relata o que arrancou de todos os que interpelou, a perseguição é antiga...

- “Príncipe Adam”? Quem te deu esse apelido, o anencefálico Homem-Fera?

- O Homem-Fera pelo menos tem algum carisma, aquele cara é a antipatia personificada... A burrice, por outro lado... Como alguém pode pensar que uma pessoa vai ficar parada, esperando pelo murro?

- Da mesma forma que alguém pode acreditar que deve deixar os filhos fazerem tudo o que querem, como é o caso daqueles fedelhos – diz Arthur. Conheceu os pais dele, Nancy?

- Tive o desprazer. Como eu fico feliz em ter dito “NÂO” para sua mãe, Ricky! Cada imbecil lambedor de pedagogias idiotizantes que conheço, me faz olhar com mais confiança para o espelho.

- “Eu te amo, por isso te digo Não”.

- Precisamente, foi basicamente o que eu fiz com a sua mãe.

- E o que a sua fez com a senhora. Essa frase é de uma das cartas que ela não mandou. Eu agradeço muito à minha mãe por aquele tapa, foi o maior “Não” que ela me deu!

Ela se desmancha (...) Vai acolher sua cabeça e a situação quase se inverte, ele está enorme. A trena acusa praticamente 5’7½”, ele diz com tristeza que não cabe mais no Peel P50, vai deixá-lo para Elizabeth...

- Ainda bem que já estou terminando o Cadillac.

Renata chega em seguida com Matthew, Marcia e Pirata (...) as caras de constrangimento são nítidas...

- Ricky, eu dei uma bronca no Matt como nunca, e foi por sua causa. Deixe que eu fale, não piore as coisas... Ele me confessou que de vez em quando tem ciúmes de você...

- É natural um pai se sentir assim quando a filha começa a namorar.

- Seria, se fosse com ela. É comigo.

Todos olham pasmos para o jornalista envergonhado, não bastasse o esporro que levou da esposa indignada. Ela só não fez pior porque ele confessou o deslize da forma mais humilde do mundo, como está agora (...) o próprio rapaz se levanta, obstruindo completamente a visão do novaiorquino. O encara, e a voz fica repentinamente mais grave...

- Matt, você sabe por que eu chamo sua esposa de “Tia Rê”?

- Por hábito? Respeito?

- Também respeito – a voz engrossa mais. A chamo assim porque ela já trocou minhas fraldas, ela e a tia Mascote. Qualquer coisa que acontecesse entre nós fora disso, seria incesto. Não importa o quanto ela seja bonita, e ela é fora de série, eu sempre vou enxergar nela o que enxergo nas tias Claire, Audrey e Melinda. Para mim ela é uma autoridade, não uma simples mulher. Veja se toma juízo e não joga fora um espírito maravilhoso que conquistou quando ela ainda era uma menina. Eu não represento perigo para vocês dois, nem eu, nem ninguém. A única ameaça consistente está na sua cabeça, trate-se antes que arruíne tudo. Vou sair.

- Eu te acompanho... Viu como ele não é isso que você pensava?

Sai com o namorado à rua, para espairecer. Ela o conhece, ele está bravo. O conduz para a chocolateria, onde coincide encontrarem Audrey e Stephanie (...) Na Máquinda de Costura, Matthew recebe as últimas doses de bronca, que só são atenuadas pela presença inocente de Elizabeth. Pelo menos (...) agora pode deixar tudo nas mãos do tempo e a situação se normalizará. Em um ponto entretanto, todas no ambiente concordam (...) sabem que na primeira viagem que fizerem as moças vão se atirar para cima dele (...) suas colegas de curso precisam proteger o território da amiga, enquanto ela está ocupada com assuntos acadêmicos. Zigfrida é acionada e chega na mesma tarde...

- Matt, minha ética me permite dar uns cascudos, mas como eu gostaria de torcer seu pescocinho! Pffff! Ok, vamos lá... O Ricky já te deu metade da bronca que eu tinha guardada, então só me resta te orientar para tirar essa besteira da cabeça e corrigir o estrago... Lembrando que o Sol não gostou de ter uma foda interrompida, fique ciente disso.

Ele conta desde os primórdios, leva aproximadamente uma hora para explicar tudo e a sueca o encara...

- Você tem consciência do que me disse? Você está com medo que o lindinho volte no tempo e tire a Renata de você??

- Eu disse isso? Nossa, nem tinha me dado conta... Besteira, né?

- Não, na verdade é a única coisa que faz sentido nisso tudo. Você se colocou à sombra dela e eu tinha te avisado que seria perigoso! Não é o Ricky, qualquer um com pinta de galã vai te causar esses ciúmes, seu mané! Vou chamar a Rê, ela precisa participar disso...

Ela chama a brasileira, explica o que pode explicar (...) a moça desaba. Abraça e acolhe o marido como se ele fosse despencar a qualquer momento, o enche de beijos e carícias (...) Mas o caso não termina ali, Zigfrida apenas descobriu o fio da meada, precisa puxá-lo e cuidar para que não embarace novamente.

Renata conta para Patrícia, para acalmá-la (...) Ela liga para Tobby, explica a situação e ele começa a preparar um pequeno documentário sobre o anjo da guarda do Dead Train, para ele conseguir brilhar um pouco e perder esse medo estúpido... Se brincar até o Juanito acabaria gerando ciúmes!

&

Voltam de uma maratona de shows pelo país. Varreram o sul dos Estados Unidos, enquanto o escritório central recebia as primeiras inscrições de bandas cover (...) Doze shows e três missões secretas depois, farão uma pausa de uma semana e tratarão também de assuntos pessoais. Patrícia convida os outros dezessete para uma boquinha em sua humilde casa, à frente dela encontra um Cadillac Fleetwood 75 Series 1954 preto...

- Mommy!

- Ricky! É o seu carro??

- Sim, eu o terminei hoje de manhã! Estou que não me agüento de felicidade!

- Obrigada, estraga-prazeres, agora vamos ter que fazer chacota de outro carro!

Rebeca arranca risos. E em risos toda a banda dá uma volta no carro, são seis viagens indo até o shopping e voltando (...) O rapaz fez um belo serviço. Com a banda inteira fazendo o itinerário várias vezes, os paparazzi fizeram a festa (...) na manhã seguinte os jornais estampam um histórico, inclusive alfinetando a GMC pelos desenhos sem graça dos carros que faz nos dias correntes, quando os importados mais ousados fazem sucesso de público e crítica.

Na faculdade ele é indagado (...) não ter ido dirigindo. É uma encheção de paciência até o intervalo, quando encontra Marcia e Eliot...

- O que está havendo com as pessoas? Estou sendo cobrado para andar em uma limousine Rolls Royce com motorista e babá só porque eu posso ter!

- E eu estou sendo cobrado por ser seu primo.

- O quê??

Ele conta a história. Reclamam de sua discrição (...) por não conseguir vantagens e dividí-las com os colegas, por não distribuir entre eles os respingos de prestígio que até Richard tem...

- Que saco! Minha mãe vai me perdoar, mas ser filha de celebridade tá dando no saco!

- Eu te perdôo, minha filha.

Os três olham para trás, Renata e Matthew foram ver de perto as reclamações de seu rebento, Ficaram tristes com o que ouviram, principalmente porque não há o que possam fazer (...) Marcia se levanta meio sem jeito e vai ter com os pais, sendo acolhida com carícias que muitos de seus colegas desconhecem em suas famílias ausentes. Pelo menos (...) Renata é uma estrela de primeira grandeza e sua figura inspira respeito. À tarde ela conversa com os outros, porque todos enfrentam problemas parecidos...

- Não tem muito o que fazer, Rê. A gente já se cerca de precauções, mas fora daqui será sempre assim – diz Patrícia.

- Eu me lembro de quando passava por isso, mas com eles há um agravante, nasceram com o peso da fama que nós construímos. Nós procuramos por ela, eles não.

- Exceto Karen e Sakura, claro – diz Robert. Se todos tivessem escolhido a carreira artística, seria mais fácil, aprenderiam melhor a lidar com isso.

- Idéias... Eles não precisam necessariamente ser artistas... Não tem como evitar a fama, ela já os encontrou, então vamos fazer exposições controladas – sugere Patrícia.

Ela explica e sugere passeios nos quais seus rebentos ficariam expostos (...) sempre na companhia dos pais. Lhes seria repassado na prática a experiência que eles acumularam. Entram em um acordo, farão mais viagens familiares para fortalecer a lida dos filhos com a fama, têm alguns trabalhos agendados em New York e San Francisco, podem começar por lá (...) Antes que Richard pergunte, os pais respondem juntos “Sim, é realmente cecessário”. Ele gosta de sua cidade como gostava do útero materno, quando sua idade ainda era negativa. Enya está tranqüila (...) mas é só surgir uma chance que a levam também.