quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Dead Train in the rain LXXXII

    O casamento de Rebeca. A estação 82 põe fim a um ciclo com pompa, glamour e cultura ancestral. Peguem seus convites e embarquem, o trem vai partir.


Enquanto os dezoito músicos ensaiam para o comercial de uma agência de seguros, que os fez prometer que não a comprarão (...) os congressistas fazem discursos pró e contra uma série de assuntos de interesse da líder da banda. Todos monitorados por agentes da CIA e da organização, que trocam sinais sigilosos (...) Star é informada a cada meia hora (...) Repassará para Princess no momento oportuno.

Em Sunshadow as amigas encontram algo que agradará aos filhos, uma casa na fronteira com a cidade nova (...) Fecham negócio e mandam a empreiteira da família fazer o serviço. Como dói em certas faces uma família de negros ser tão rica, tradicional e principalmente respeitada! Ligam para Ronald (...) Vai avisar aos outros, meia hora antes do próximo ensaio.

Na noite do show, os fãs fazem uma surpresa, levaram um reverendo para fazer um casamento simbólico. O casamento de facto será celebrado por Renata, que está se inteirando das tradições que precisa dominar (...) Quando ele pergunta por que esperaram tanto se a lei idiota caiu em 1967...

- Porque eu amo o Ron. Não quero que ele mude por minha causa, conheci ele desse jeito e é assim que o quero... Putz, como isso foi piegas!

- Mas você fez praticamente uma faculdade para aprender essas tradições todas, não?

- Fiz. Não me arrependo, vocês não imaginam o quanto isso me fez melhorar, como pessoa. Aprender a esperar e lidar com detalhes me fez muito bem. Fica aqui no palco, com a gente. Pode, né, Patty?

- À vontade, sente-se com o Jack. Agora vamos cantar, gente!

O show começa e o público vai ao delírio, embalado pela rara declaração de amor da Mascote. Alguns exageros ficam na plateia, como as calças com imensas bocas (...) Patrick até usa bocas de sino, mas sem os delírios de alguns que chegam a desfilar com quinze polegadas em cada perna.

As manchetes dos cadernos de cultura do dia seguinte, destacam o ensaio de entrevista que a surpresa dos fãs se tornou (...) Os três caratecas voltam do treino dando olhadelas no jornal, Patrícia e Richard observando mensagens ocultas que combinaram com outros agentes. Servirão para as do próximo almanaque.

Para hoje têm mais um comercial e uma entrevista televisiva. Tiveram o cuidado de não encher a agenda, para evitar que sua líder faça aquela cara de novo. Até porque não precisam mais (...) Estudam com calma os trabalhos que farão, os distribuem dentro do prazo estipulado, nada além.

Na hora da entrevista, alguns incêndios são expostos. Os ex-integrantes do “The Special Boys” que não conseguiram se manter na carreira, viraram pastores televisivos e atacam o Dead Train com fervor, sempre repetindo “Eu os conheci, sei do que estou falando”...

- Sim, eu bati nele. Ele passou a mão na minha bunda e eu lhe dei um murro no queixo.

- Essa parte ele não tinha contado!

A entrevista fica tensa, mas logo o entrevistador passa para o episódio do show de ontem e a baixinha se derrete. Confirma que já estão noivos, que os procedimentos do condado para o casamento já começaram e (...) dizem que será um espetáculo.

- O Jeffrey será convidado?

- Se ele não for, eu vou ficar brava com ele – diz sem saber como descobriram o amigo.

- Que bom, porque nós estivemos em Summerfields e o entrevistamos.

O estúdio fica à meia-luz e um projetor mostra a entrevista (...) Melanie, diga-se de passagem, realmente não é mais aquela magricela, embora esteja muito longe de ser gorda...

- Eu confesso que fiquei de cabelo em pé, quando soube que alguém de Sunshadow iria estudar conosco. A escola inteira ficou, então eu tentei arranjar alguma desculpa para não voltar pra lá, os mitos sobre os sunsadowers eram muitos e eu era uma criança. Tinha medo que as sombras deles comessem meus sapatos...

Todos olham pasmos para Rebeca e Robert, que confirmam (...) depois contarão, por hora voltam a ouvir, enquanto a plateia ri...

- Depois que Bobby voltou no dia seguinte, com os mesmos sapatos, começamos a desconfiar que era lenda urbana mesmo. Com o tempo a gente viu que eles não eram assustadores como diziam, mas nem todo mundo deu o braço a torcer. Uma vez um colega, que já morreu em um acidente, deixou alguma coisa, sei lá, um bilhete na carteira da Patty. No dia seguinte ele ficou muito desapontado por não ter conseguido namorar ela. Aliás, quem não era apaixonado por ela? Até eu era. Todo mundo era e todo mundo sabia, mas ninguém falava abertamente.

Agora todos olham para Patrícia, está enrubescida. Mas as revelações cessam e ele passa a falar da convivência com os seis...

- Eu agradeço à Silvia por ter quebrado o gelo, porque estávamos perdendo muito em não nos aproximarmos deles. E Rebeca, que injustiça fizeram com ela! Quem nunca ganhou um abraço dela é que sai falando merda por aí...

- Não foi à toa que convidei ele em primeira mão!

Os casos ocorridos depois da fama levam o grosso da entrevista. O choque com os calhamaços de centenas de páginas (...) a rejeição (...) ataques de religiosos, a insistência estúpida de alguns que simplesmente os afrontavam abertamente, depois tudo de novo na universidade...

- Olha, ser Dead Train deve ser muito divertido, mas é muito perigoso! Até hoje ouço reclamações de gente que tenta emplacar na música há anos, se perguntando o que eles têm que o caso não tem... Eu respondo: Tudo. Talento, dedicação, competência, tino comercial, juízo, disciplina, amigos fortes, uma líder em quem eu votaria para presidente, de olhos fechados... Tudo. O topo não é pra todo mundo, simplesmente porque o topo é um lugar bem menor do que a base. Eu ainda estou na base, sei que posso subir bastante, mas chegar ao topo e se manter lá é para poucos, para pouquíssimos. Para seis, mais exactamente.

As luzes se acendem e revelam os seis com expressões de candura (...) ficaram sem palavras para as declarações do amigo. Só dizem “É o nosso amigo Jeff”. Vão ter com ele assim que voltarem para casa.

&

O Bel Air Sedan azul ano 1968 modelo 1969, estaciona e seus ocupantes já encontram a recepção à beira da calçada (...) Mikomi, os bebês e os brasileiros, incluindo Arthur, lhes são apresentados. Acostumados aos apertos de seus vencimentos, ficam espantados com aquela casa (...) estão na dura primeira fase do financiamento de sua casa (...) Assim que são postos no chão, Rebeca e Ronald lhes entregam um envelope e uma chave de prata, esta indicativa de que são convidados de honra para o casamento. Do envelope tiram outro menor e um pequeno álbum de photographias (...) em várias fases de suas vidas, do nascimento até hoje. No envelope menor está o convite, sem firulas, mas com o brasão do condado e caligraphia medieval bem desenhada...

- Se quiserem falar com a gente, venham até dois dias antes. No dia anterior estaremos ocupados com o rito de abandono.

- É quando vamos pegar nossas miudezas e levar nós mesmos para nossa casa – explica Rebeca. É um exercício de desapego da família, entendem? Pela primeira vez em quase mil anos, vai ser documentado.

- É para divulgar as tradições do nosso condado. Vamos abrir uma marca de productos tradicionais para ajudar a manter nossas instituições. Mas agora vamos tratar de vocês. Se casaram na surdina, pegaram todo mundo de surpresa!

- Foi coisa simples, só no juiz de paz. Decidimos aplicar o máximo possível na entrada que demos na casa. Jeff Não queria pagar o financiamento até as vésperas do velório.

- Lembra da casa que foi do nosso professor de história?

- Aquela a seis quadras da prefeitura?

- Sim, Bobby, aquela mesma. Conseguimos dar quase metade do valor na entrada. E vejam só, compramos de porteira fechada, a mobília e o carro estavam incluídos no pacote, no final das contas saiu mais barato do que uma casa pequena.

- Está tão ruim assim em Summerfields? Desculpem, faz tempo que não visito a cidade!

- Começou a melhorar, mas estava muito ruim. Aquela brincadeira do prefeito estimular as pessoas a morarem em bairros mais próximos a Sunshadow, foi um tiro que saiu pela culatra, acabou desvalorizando os bairros centrais. Tem muitas casas desocupadas. Pra gente foi óptimo, embora no começo a Mel acordasse com medo, por causa do barulho das corujas.

- Corujas! Tenho pavor de corujas! Com tantas casas abandonadas, elas fizeram ninhos em várias. Colocamos uma grade na janela, pra nenhuma entrar no quarto, no meio da noite.

- Opa! É muito bom saber disso – diz Rebeca. Vai falando de suas excentricidades e medos, pra gente não cometer uma gafe!

Anota os melindres da convidada (...) faz questão de que cada mesa seja personalizada para seus ocupantes, então mandarão fazer uma salada doce em forma de ursinho para eles, todos os outros terão forma de coruja...

- Gosta de ursinhos, Mel?

- Tenho todos os que ganhei desde que era criança.

- Ok, anotado!

Fazem questão de que conheçam sua fundação para as crianças (...) uma menininha carente corre para Rebeca, perguntando pelos pais. Melanie olha para a enfurecida Rebeca com cara de “Como é que é?” e ela explica, dizendo que a pequena já foi declarada abandonada...

- Vem cá... Qual o seu nome?

- Melanie.

- É MINHA!

Melanie se abraça à menina (...) Jeffrey olha para a esposa se afastando com a menina nos braços, olha para os amigos, como que perguntando o que deve fazer, então Patrícia os encaminha para a assistente social que confirma, estão plenamente aptos à adoção. Ela olha para o marido e dá o ultimato...

- Escuta aqui, eu sou a sua esposa, você nunca me decepcionou! Você já se meteu em muita encrenca comigo, nunca recuou nem quando tivemos que morar numa carcaça de VW Bus! Vai dar pra trás justo num momento tão lindo?

Ele olha para a menina de salopete xadrez, ela olha de volta com os olhos suplicantes (...) assina e entrega para ela assinar também (...) virtualmente já são pais. Ronald e Rebeca se aproximam, ele se pronuncia, porque ela está muito emocionada...

- Não precisa nos trazer nada, Jeff! O que vocês fizeram agora vale mais do que qualquer fortuna. Valeu, amigo!

Continuam com a visita, com ela dizendo a cada cinco minutos “mamãe vai cuidar de você”. Voltam no meio da tarde, com uma passageira no cinto de segurança do meio do banco traseiro (...) escolhem o quarto vizinho ao de casal para ela, para que possam ficar atentos a qualquer eventualidade, a assistente social lhes deu uma lista bem grande de recomendações sobre a menina, mas ela pode ficar com as dezenas de ursos de pelúcia que a mãe guarda. A pequena Melanie está acostumada a viver sem luxos (...) a instituição cuidou de acostumá-la muito bem, o problema é a seqüela que o trauma pelo abandono causou; não se atreveram a dizer-lhe que seus pais simplesmente decidiram se livrar de um peso morto e tentar a vida no México, nem os seis digerem essa sordidez, que dirá a criança!

Em uma semana ela consegue voltar à instituição, mas sempre voltando com os pais para casa, sem perdê-los de vista nem por um segundo (...) Deixaram de sair em algumas noites para dar atenção à pequena, mas não economizaram o que não gastaram na farra, tiveram que aplicar na boquinha que agora precisam sustentar.

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Robert e Norma são levados para um passeio. Assim que somem de vista, Rebeca pega seus pertences e põe em uma van que alugou. Ela ainda olha com muita ternura para aquela casa (...) para ela, é a própria síntese da felicidade. Suspira, deixa correr uma lágrima e volta a carregar seus pertences. Não é muita coisa, mas não dá para carregar na Harley, que nem pode usar até o fim da cerimônia (...) Passará hoje e amanhã na casa de Patrícia, é melhor não ter contacto com familiares neste momento. Sente-se perdida, pois pelo menos por hoje ela é uma sem-teto vivendo de favor na casa de uma amiga. Ela e Ronald, ele está na casa de Enzo, também taciturno e meditativo. Sabe que a noiva se preocupa com os pais, especialmente com o pai, que já não é jovem e teve uma vida muito abrasiva.

A data foi escolhida para voltarem da lua de mel no início do festival da saudade. Renata repassa o que precisa fazer (...) Há um photógrapho do Sunshadow News acompanhando cada um, porque Matthew é muito íntimo e pode ser comparado a um serviçal, no âmbito profissional dos dois, iria contra a tradição que decidiram seguir.

Por hoje os dois dormirão em sofás nas salas, por falta de um quarto ruim (...) Os pais da moça chegam em casa, vêem o filho e a nora, vão ao quarto da filha e vêem o que temiam, a cama arrumada, mas tudo mais vazio e escancarado. É essa a função de Robert naquele momento, ele acolhe os pais que choram copiosamente. Eles choram até esvaírem tudo, enquanto o casal vê à sua frente todos os elementos da vida nova (...) Por hoje só ingerirão líquidos e pastosos; serve sopa, mingau, papinha, suco, iogurte, chocolate quente, desde que não precisem mastigar para ingerir. É aconselhável que sejam alimentos leves.

Josephine chega. Ela e ninguém mais, pode ter contacto com os três neste dia (...) é a primeira vez em mais de três séculos que a família tem todos os elementos da tradição para o casamento. Primeiro Rebeca e depois Ronald, coloca ambos para dormirem bem cedo (...) Agora vai falar com Renata, ela não precisa ter hora certa para ir dormir. Enquanto acaricia a cabeça de Pequi, a diva conversa com a sacerdotisa que a moça sem querer acabou se tornando...

- É uma série de regras com um monte de detalhes que eu terei que respeitar. Por exemplo, o Ron vai ficar sozinho no altar até a Mascote chegar, eu e os padrinhos, incluindo você, só poderemos nos levantar quando ela puser os pés no tapete vermelho. É algo como “só peça ajuda quando estiver pronto para recebê-la” e “não desperdice o tempo dos outros”, uma mensagem subliminar de convivência social.

- E essa riqueza cultural toda ficou restrita por quase mil anos! Estou ansiosa para ver o resultado desse registro. Arthur vai levar Rebeca ao altar?

- É a lei. Ela tem que contar com o que conseguiu, não com o que recebeu da família. O Greg vai levá-la ao altar e só então os pais dela poderão se aproximar, mas sem interferir até a conclusão da cerimônia. Por isso o Bobby vai estar com eles, para evitar que estraguem a cerimônia.

Conversam enquanto a cidade fica repleta de fãs, artistas, autoridades, jornalistas e paparazzi. O trem morto tem uma longa fila de turistas querendo uma photographia no lugar onde a banda foi gestada, alguns diplomatas conversam na chocolateria sobre a retomada de uma tradição tão antiga, em uma época em que a falta de compromisso se tornou sinônimo de liberdade. Tobby e Julia registram a movimentação na cidade e planejam a cobertura, para exibição no Boa Noite Mundo (...) Foi o que o casal conseguiu por conta própria e é do que pode dispor, nada do que puder ser herdado ou tiver sido dado de presente antes de marcarem o casamento, pode ser utilizado em seu auxílio.

Lucille e Robert acordam bem cedo (...) vão acordar seus irmãos. Desta vez é permitido o abraço, e Rebeca quase estrangula o irmão. A baixinha é forte! Os photógraphos, ainda com caras amassadas, começam a registrar o dia. Eles vão se preparar e seus irmãos vão embora (...) É hora de os anfitriões auxiliarem seus hóspedes, que por eles poderiam morar lá ad aeternum. Silvia serve mingau de amido de milho e mel, Patrícia dá um creme de chocolate e baunilha. Para ambos há alimentos à vontade até a hora de irem para a cerimônia. Rebeca se apronta primeiro e Arthur liga para Enzo, para que segure Ronald por algum tempo. Ela vai levar seus presentes para a residência de casada, só quando retorna é que ele é liberado para fazer o mesmo. A segunda vez deu um estranhamento menor do que a de ontem, o cheiro da casa já é familiar e ambos sabem onde fica cada cômodo.

Rebeca não é nobre (...) não tem comendas nobiliárquicas, então porá no vestido de noiva o que conseguiu sozinha; um broche com o símbolo da justiça, outro com o escudo da banda e mais um com uma rosa branca, porque é filantropa. O fraque de Ronald fica pesado com tantos títulos pendurados (...) Como se conheceram no âmbito escolar, cada um levará uma pena na mão dominante. Rebeca é ambidestra, então tanto faz, decidirá na hora. O buquê não é estético, será montado na hora e terá elementos bastante significativos: ao menos um ramo de cereal, ao menos um erva medicinal, uma só erva daninha, ao menos uma erva de chá e as tradicionais flores que deverão indicar quem ela é, de onde vem, como conheceu o noivo e suas intenções para com o matrimônio. Ela escolhe margaridas para lhe representarem, flores campestres para sua origem, um girassol para dizer como o conheceu e flores de maracujá para indicar suas intenções matrimoniais; Ela é uma mulher simples, veio de uma família sem tradição ou renome, conheceu o amado no exercício de suas obrigações e quer as bênçãos de Nosso Senhor Jesus Cristo para seu matrimônio. A arranjadora, vinda da França, conhece bem a história da casa do pato preto, ficou espantada com o domínio que a noiva demonstra das tradições de família. Mais ainda e quase enfartou com a presença da compatriota, a muito custo se segurou para não cair chorando aos pés de Josephine. É seu ídolo absoluto.

Ronald tem bastante facilidade com os protocolos, cresceu em contacto com eles. Beberica o alimento oferecido enquanto arruma sua indumentária, confere sua documentação, o passaporte, photos do local secreto da lua de mel, enfim, faz com muita calma tudo o que tem a fazer até o meio da tarde, quase em silêncio absoluto, com um sorriso indisfarçável. Só o quebra para tirar dúvidas de Silvia e Enzo sobre o que está fazendo e com o que está mexendo.

Pela cidade os fãs e convidados começam a dar passadas pelo centro de convenções, para verem onde vão ficar ou se sentar (...) Auxiliados por filho e nora, Robert e Norma começam a se aprontar, sempre repetindo que a filha lhes prometeu “três chocolatinhos para poderem babar em cima”. Diana e David estão mais tranqüilos, ele até ri da própria estupidez, quando foi rude com o filho pela precipitação que os dois tiveram. Repete “Cara, eu fui um grande idiota” como quem conta uma piada.

Hora de Patrícia fazer seu trabalho. Busca seu Cadillac e vai levar Ronald ao centro de convenções, que já está lotado. Lá ele vai para um camarim, onde fará exercícios de respiração para se acalmar. As fãs gritaram histéricas ao verem o nobre (...) mas desta vez só pôde acenar e entrar em seu breve retiro.

Uma hora depois é a vez de Richard, ele leva Rebeca e Arthur, mais o photógrapho. Ronald é avisado de que estão a caminho e vai para o altar (...) Quando o Cadillac chega, Renata e os padrinhos se levantam e Bart começa a reger a orquestra, sempre com a participação dos músicos de apoio, tocando uma versão de Ave Maria de Schubert para três vozes. Então Rebeca entra com Arthur, ela com a pena na mão esquerda, em seu vestido azul pálido minimalista, mas a longa saia teve que ser rodada. A pequena encrenqueira, linda como ninguém de fora tem coragem de dizer por medo de um murro, vai com os olhos castanhos brilhando até o altar, onde Arthur a entrega para Ronald e vai para junto de Patrícia (...) Renata fala em latim com os dois, avisando dos perigos que rondarão o casal (como se não soubessem!) a cada dia, das tentações que envenenarão seus julgamentos para separá-los, das pedras que lhes atirarão pelo simples facto de serem felizes. De uma vasilha de cristal decorado, com salmoura perfumada, ela tira as alianças, as consagra e entrega aos noivos. De agora em diante não é muito diferente dos casamentos comuns, salvo alguns elementos, como trocar “até que a morte nos separe” por “até que nossas almas se separem”, o “na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza” por “sua aflição será minha aflição, seu regozijo será meu regozijo”. Eles terminam de trocar alianças, assinam os papéis e Renata encerra gritando “Celebrai!” então o acesso aos conjugues está liberado (...) por falar em tradição, o casal se une aos outros dezesseis para animar a própria festa, claro, com música. Rebeca extravasa a felicidade na bateria.

Tudo registrado, inclusive a presença de chefes de Estado, que já se torna mais comum em Sunshadow do que em Washington (...) Os racistas que queriam estragar a cerimônia, sob risco de esquartejamento, estão conversando com uma juíza negra e judia.

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