quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Dead Train in the rain XCVII

    O fim de uma inocência. A estação 97 mostra os riscos que rondam uma criança exposta a tensões severas e constantes. Protejam seus rebentos e embarquem, o trem vai partir.


Ciente dos riscos e das limitações inerentes, Patrícia toca a vida (...) Como os concidadãos, ela e os amigos contam aos rebentos como era a vida na época em que ninguém queria ir para Sunshadow, exceto uma família de brasileiros loucos. Aliás, Marcia pergunta à mãe se o Ambassador dos avós é um exercício de humildade...

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra... Eu acho que é! Sei lá... A gente comprou aquele Nash assim que desceu em Detroit, no caminho pro hotel. Minha mãe viu, achou lindo, o preço era irrisório e eles compraram. No Brasil da época ele seria considerado um carro actual, mas já era antigo.

- Como eu com meu Corvair, mas no meu caso é por desaforo mesmo. Como a GM pôde perder para um advogadozinho picareta que nem sabia direito do que estava falando?! Nem carteira ele tinha!!!

- É a regra básica da advocacia moderna, irmã. As duas partes eram grandes mentirosas, venceu quem mentiu melhor... Irônico eles ficarem apertados justo quando falavam a verdade! O prejuízo foi assim tão grande?

- Se considerar que um motor é uma peça extremamente rígida e a dianteira deve ser uma área bastante deformável, para absorver o impacto de uma colisão... Sim, ele prejudicou muito a indústria automobilística como um todo... Sim, todos os carros deveriam ter motor traseiro, por questão de segurança.

Conversam quase como nos tempos juvenis (...) quase se esquecendo do perigo que ronda dois deles. Silvia pergunta pelo Cadillac e as piadas começam com “Perdeu metade do peso sem a ferrugem”. A tarde consegue atenuar a frustração dos dois, mas um vídeo exibido logo mais, por uma emissora de um estúdio concorrente, mostra indícios claros de que Patrícia seria uma agente secreta altamente treinada pela CIA, que usaria as turnês para executar missões (...) Agrava a notícia acabar entregando, involuntariamente, identidades de vários agentes secretos do governo que estão em missão no exterior. A organização age rápido para recolher e trazer todos de volta, com sucesso, mas os estragos estão feitos.

Desta vez o efeito na popularidade da banda é positivo, embora não refresque para o lado de Princess. Lá vão Matthew e Melinda novamente, mas agora três dias de pendenga bastam. Não para reverter, não dá mais, mas evitam que maiores estragos aconteçam. Ela volta com Josephine e Nelson, conforme a diva prometera (...) é uma visita muito festejada. Sunshadow tem um dia alegre, para variar. Até porque, benza a Deus! Aquela mulher passou dos cinqüenta e continua absolutamente maravilhosa! Apta a um desfile na praia! O maridão também acha...

- Tem coisas que serão fáceis de desmentir, chèrie, mas você está marcada pelo resto da vida.

- Eu não queria que meu bebê nascesse no meio dessa turbulência! Chega meu menino que já recebeu até ameaças de morte!

- I’m fine, mom. O que me irrita é essa restrição de liberdade!

- Há mais coisas do que isso em risco, mas a maioria pode esperar. Como está Mamãe Broto?

- I’m fine, Jose. Olá, todo mundo... Oh... Meu meninão... Já está quase do meu tamanho! Isso não vai durar pra sempre, Rick. Pegamos um maníaco e pegaremos esse também. Vocês têm novidades?

- Jeremy está com Ritchie e Arthur, estudando o modo mais discreto de dar fim à situação.

- Algo do que aquele imbecil disse é verdade?

- Non. Patrícia não tem uma gota de sangue no currículo. Se tivesse, teria sido o último recurso, matar para não morrer.

- Eu tenho certeza, Jose, isso não me preocupa. Me preocupa esse moleque mimado poder aparecer de qualquer moita. A CIA não deveria ter critérios para recrutar gente??

- E tem, mommy. Desta vez não foi culpa dela, o cara parecia ser um maluco absolutamente normal, até umas agentes louras começarem a se dar melhor do que ele e... Deu nisso.

- Oh, claro, eles leram a cartilha do primeiro ao último parágrafo! Bom dia, Nancy. Você pode ficar tranqüila com relação a Patrícia e Richard, eles sairão ilesos disso. Temos uma boa notícia, o ex agente foi localizado no lado canadense. Isso nos impede de dar cabo sem autorização, mas permite que vocês circulem com mais liberdade, sempre acompanhados.

- Wo-hoooooo! Rick, que tal uma volta no Corvair?

Saem de capota baixa, com Nancy e Josephine de carona (...) só para sentirem o sabor da liberdade outra vez. Estão leves como quem encontra um sanitário decente após uma hora de aperto. E melhora mais quando Enzo aparece gritando “A Fender está salva” por ter sido vendida a quem entende do assunto, em vez de fechada. A coisa fica no ponto quando um agente carteiro entrega um envelope espesso, com endereço de Dallas e “We will never forget what you did for Melinda”. Nada se resolveu, mas o prisma mudou bastante. Os meses passam e o palpite se confirma, nasce Elizabeth, Richard volta para casa com ela nos braços, enquanto o pai cuida de paparicar a mãe. Também nasce Evelyn e (...) todos ficam espantados quando Rebeca e Ronald aparecem com uma menina branca. Os jornais não perdoam, mas também não abusam, os ghost drivers já têm uma lista de marcas e mídias a boicotar pelos desaforos que já dirigiram aos seus ídolos. Coordenando todos eles está Julia, a agente Bird. Ela colocou Tobby contra a parede e disse “Não sei no que a Patty está metida, mas eu quero ir com ela nem que seja pro inferno!”. A devoção a tornou rapidamente um dos melhores membros da organização, e braço direito de Nancy na proteção às suas filhas.

Tomando precauções (...) o Dead Train volta a fazer shows pelo país. Enquanto isso, um alto membro do moribundo regime soviético ouve “Resignation” de um disco confiscado pela censura, junto com um almanaque e uma revista com uma extensa matéria sobre a banda, quase dançando em seu luxuoso escritório. Assim que o show em Springfield termina, Patrícia agradece ao público e tem uma última palavrinha...

- Pessoal, eu quero agradecer de coração pelo apoio que vocês têm nos dado, tem sido de fundamental importância para principalmente eu conseguir levar a vida. As coisas ainda não se resolveram, já tem gente pedindo que eu antecipe a volta de Jesus... Não riam, é sério! Recebi pedidos desse naipe, estão superestimando a minha influência. O facto é que as coisas não se resolveram, mas nós não podemos esperar que cada problema se resolva para começar a viver, eles brotam o tempo inteiro, é da natureza deles. Só peço sua compreensão, porque até tudo se resolver, teremos um aparato de segurança que não vai impedir, mas vai dificultar um pouco o acesso de vocês a nós. Não vai durar pra sempre como o assédio daquele maníaco não durou, mas até lá eu peço sua colaboração, até porque a segurança também é formada por ghost drivers e eles entendem o lado de vocês. Na medida do possível, a distribuição de abraços continua vigorando. Valeu! Até a próxima.

A manifestação do público é festiva e muito romântica (...) muitos deles freqüentam as convenções anuais, alguns deles estiveram presentes no casamento de sua musa. Sentem-se íntimos dos seis.

&

Ver Richard trocando as fraldas da irmã é uma cena enternecedora (...) O garoto mostra que aprendeu direitinho com os erros fedorentos. Marie e Jean Pierre também aprendem com os pais a trocar as da irmã caçula (...) há colunistas dizendo que ela perdeu o bebê e adoptou um da fundação, os que dizem que ela traiu Ronald o fazem às escondidas, para não perderem os dentes. Rebeca termina e desfaz o pacote...

- Jeep, tenha a primazia.

Lá vai o garoto, ainda desajeitado, fazer bagunça até acertar. Marie não se sai muito melhor, mas aprende. A preocupação (...) é com o risco de tratamento diferenciado que Evelyn pode vir a receber, para melhor ou pior, não importa, eles querem evitar. Mas também há o risco de uma educação mais severa, para evitar que ela se ache diferente, acabe fazendo a menina se sentir menos amada. Há séculos o condado não enfrentava um dilema assim.

Perto dali, Mikomi conclui que Sakura já domina bem o suficiente o japonês, poderia se virar sozinha no Japão. A menina guarda seu material de estudos e vai espairecer no trem morto, esperando que não haja filas de turistas (...) há, e grandes. Dá meia-volta e entra na chocolateria, antes que a reconheçam. Ajeita a minissaia verde, a camiseta preta com estampa de quadrinhos dos Archies, prende o chanel e pede um cappuccino. Apesar dos genes dominantes da mãe, herdou o olhar profundo e sereno do pai. Karen teve a mesma idéia, a mesma decepção e o mesmo plano B...

- Sá, eu estava pensando... Já pensou em cantar?

- Muitas vezes. Mas cada vez que ouço nossos pais cantarem, me sinto tão pequena!

- Eles cresceram ouvindo Frank Sinatra, Tonny Bennet, Les Paul and Mary, Elvis Presley, Chuck Berry, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald... Acha que eles não se sentiam pequenos, perto deles?

- É diferente. Eles não eram filhos de seus ídolos, nós somos. Todas as manhãs um ídolo do pop rock mundial canta em minha casa e me leva para a escola!

Um garçom liga para Audrey, avisando da conversa das duas. Audrey liga para Melinda, que passa para Patrícia, que sai do conforto do sofá da mamãe para ir ver de perto a situação, com Elizabeth no colo. Ela chega a tempo de pegar a conversa no auge...

- Você sabe como a imprensa é perversa, sempre vai nos comparar com nossos pais, invariavelmente para baixo. Vontade não é tudo, eu tenho vontade de morar no fundo do mar, mas sei que não dá.

- O horizonte não existe, é só uma referência de até onde podemos enxergar, mas não é o limite de aonde podemos chegar. Desculpe interromper a conversa de vocês, Sakura, seu pai sabe que você quer cantar? Vamos falar com ele?

Desta vez a imprensa as encontra. Tira da bolsa o celular que precisou comprar por conta da emergência que vive, chamando ainda mais atenção (...) O casal confessa que a filha nunca tocou no assunto em casa, ele fica surpreso de ser um ídolo para a menina, sempre tentou ser um simples e humilde pai de família...

- Cai na real, Bobby! Você é um ídolo inclusive pra mim! Nossa filha só errou em acreditar que não pode chegar lá. Karen, Enzo e Silvia já sabem?

Ficam surpresos ao saberem (...) Chamam todos para uma reunião no quartel general da banda, Renata se põe ao piano e as duas para cantar. Algumas correções são feitas, sugestões acatadas e Nancy chamada. De hoje em diante as duas vão carregar pedra morro acima, como os pais fizeram, passarão mais tempo na fundação, estudando e treinando. Olham para os outros garotos, nenhum se manifesta (...) mas eles entram na dança de Nancy assim mesmo (...) Laura lhe conta que Greta e Myrtle querem tentar a carreira como cantoras...

- Karen e Sakura, abram um espaço e sincronizem com elas.

A severidade de sempre, a competência de sempre e a paciência de sempre. Nancy equaliza um a um, para depois equalizar a turma toda e então começar a ensaiar (...) Patrícia confia que é das mãos da mãe que sairão os seus sucessores, mas agora tem coisas mais graves para lidar, as investigações sobre o ex colega e hoje ex agente encontraram ligações dele com praticamente todos os inimigos da banda, desde o começo. Isso explicaria eles terem tantas informações a seu respeito desde o início da carreira. Se lembra do colega, ele não era de falar muito consigo (...) mas se lembra de ter negado seu pedido de namoro. Mas ainda eram crianças, ele não deveria ter levado uma decepção infantil à vida adulta, não de modo tão... Tão infantil! Com marido e filho a ladeando, olha para Zigfrida...

- Quer dizer que ele foi responsável ou corresponsável pela maioria dos dissabores da banda?

- Incrível, né? Mas foi. E se esmerou para entrar para a CIA só para receber o treinamento. Ele nunca faltou a um sequer, até ficava horas a mais do que a maioria, para se aperfeiçoar!

- Onde ele está, hoje?

- Em algum lugar do oriente médio... Sim, podem se chocar, porque ele tem um treinamento valioso para usar como moeda de troca. E ainda vai usar os riscos de uma guerra nuclear para ganhar tempo e aliados, mas pelo que aprendi sobre ele, é improvável que te ataque directamente. Não por algum tempo. Vocês podem planejar as comemorações do jubileu de prata da banda sem medo, qualquer alteração de comportamento, temos quem nos alerte. Até lá, carpe diem! Vamos viver um dia de cada vez, para não enlouquecermos, ok? Ricky?

- Ainda não acredito que tem um cara querendo matar a minha mãe... De novo! Raiva...

- Eu já passei por isso, filho, já fui até alvo – diz Arthur. Vai terminar tudo bem...

- Mas ele pode treinar mais gente pra fazer isso... EU VOU MATAR ELE ANTES Q...

É calado por um tapa. Patrícia agiu quase instintivamente (...) aquela fúria no olhar era seu pai esculpido em carrara. Ela o encara até o desarmar então amolece, triste pelo que fez. Não está arrependida, só triste...

- Vem pra mamãe.

Ele vai. Ainda cabe naquele abraço, ainda pode escorar sua cabeça juvenil naqueles ombros, ainda havia tempo de impedir que o lado negro controlasse sua personalidade e ela o fez. Mas ele emergiu (...) e a cara de mártir se forma. Alguns minutos e volta a encará-lo, mas agora sem rugas...

- Isso vai passar, meu filho. Não houve atribulações que eu não transpusesse e não será desta vez que ficarei pelo caminho, não agora que sei quem é o causador de tudo. Só o que eu não vou suportar é passar pelo mesmo luto do Bobby. Mostre suas mãos e me prometa que não fará nada sem me consultar.

- Eu prometo.

Volta a abraçá-lo e desta vez o deixa no abraço até amolecer de todo. Richard toma conhecimento de tudo por Ana Clara (...) agradecerá à filha por ter cortado o mal pela raiz. Vai com Nancy ter com eles assim que a tarde cai. O cenho ainda um pouco rígido do garoto faz o avô se reconhecer nele (...) o põe no colo e o abraça...

- Vamos proteger sua mãe, mas será do jeito certo, como estamos fazendo com o seu carro. Tenha paciência, que o alvo não fica para lado nenhum, ele fica no centro, precisa de tempo e perícia para acertar.

Já que o garoto está conseguindo, com muita ajuda, claro, digerir toda a tensão que cerca a casa e deduzir sozinho muitas coisas do que eles fazem, vai treiná-lo melhor (...) porque sabe que sozinho ele pode acabar fazendo uma besteira incorrigível. Avisa Josephine, com a máxima riqueza de detalhes, e ela concorda...

- Ele já sabe tanto assim... Não queria envolver, queria que ele tivesse uma vida normal, mas parece que a vida tem planos diferentes dos nossos. Como ele está agora?

- Mais calmo. Mas se ele for tão parecido comigo quanto demonstra, a raiva ainda durará alguns dias, mas ele vai dissipar no trabalho comigo. Teremos um novo Cérebro conosco.

Marcia, enquanto isso, cuida de se abraçar firmemente ao namorado, para ter certeza de que ele não vai fazer besteiras.

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