Eles nunca mais serão os mesmos. A estação 58 finaliza a primeira fase da trama, preparando os apuros da próxima. Embarquem e relaxem, o trem da vida nunca para.
Vão para Nagoya. Uma reconciliação simbólica
entre América e Japão se dá com intimidade, dentro do ônibus (...) ela divide as atenções entre a narração pelo
caminho e o garoto americano. Ficarão em outro hotel, pois a arena (...) remontada em Nagoya. A recepção é mais festiva,
influenciada pelas notícias do show anterior. Os opositores dos jogos, fartos
da mesmice nas mídias, vêem no Dead Train a alternativa de entretenimento.
Ainda mais quando sabem que há dois caratecas no meio. Os mais instruídos ligam
rapidamente o nome da banda à lenda do trem fúnebre de George Washington,
acrescentando uma aura de cultura e tradição à banda, em oposição ao apelo cada
vez mais mercadológico dos jogos.
Conversam amenidades até a anfitriã terminar
a conversa com a gerência, se alojam e vão conhecer o Castelo de Nagoya (...) réplica muito precisa do original, destruído pelos
bombardeios. A construção é típica, com telhado curvo de quatro águas, mas
revestido de outro 18K, mais águas furtadas a partir do segundo pavimento (...) enriquece mais o
trabalho dos repórteres americanos. Poderão sugerir uma pauta extra com as
photographias que já têm do Japão.
Até a noite do show, eles conseguem fazer seu
papel informal de diplomatas, deixando nos japoneses a impressão de que existe
vida inteligente fora do Japão; não muito diferente da mentalidade do americano
médio. Outros artistas americanos acabam sendo beneficiados pela boa impressão
que deixam. Voltam ao hotel em Tóquio para descansar e se prepararem para a
viagem de volta. Mikomi vai sair do Japão pela primeira vez (...) Ela confere a documentação, pega alguns
exemplares de vários números da revista, material sobre o Japão, sua pequena
bagagem e vai para o hotel, já a esperam para irem ao aeroporto. Pagou o último
aluguel e pediu ao senhorio que deixasse a mobília para um jovem em início de
vida, para que não enfrente todas as mesmas dificuldades que sofreu em Tóquio. O
sorriso da moça é escancarado, ela não consegue disfarçar nem forçando.
As longas horas de vôo não chegam a ser
cansativas (...) Menos ainda para a passageira extra, que não está nem aí para a janelinha, com
a cabeça no ombro de Bobby, sem conseguir parar de sorrir mesmo adormecendo. É
um dos momentos em que (...) qualquer palavra desnecessária
quebraria o encanto da ocasião. Ela suspira várias vezes, até a hiperventilação
dopar o cérebro e adormecer de vez. Na fileira ao lado, Rebeca e Ronald torcem
para que essa moça um pouco mais velha consiga sarar o coração do rapaz.
A aeromoça avisa e todos acordam, estão
chegando a Los Angeles. Mikomi vê pela primeira vez uma cidade americana ao
vivo. Fica encantada com as ruas largas e longas, e assustada com o tamanho dos
carros (...) Tudo lhe parece ser
gigantesco. O avião pousa e ela vê uma multidão, que há horas espera pela volta
da banda. É hora de a dupla da revista iniciar a última fase de seu trabalho,
desce logo atrás de Matthew (...) Richard sai olhando para todos os lados, se tranqüilizando quando vê Josephine
e Grant à sua espera. Atrás dele vêm Patrícia, Enzo, Renata, Rebeca, Ronald e
Robert de mãos dadas com a assustada Mikomi. A imprensa fica eufórica ao ver a
cena, teleobjetivas fazem valer seu preço. Patrícia corre para o abraço de que
a diva já sentia muita falta. Ela é simpática com Mikomi, que fica trêmula,
mais do que quando ficou a poucos metros do imperador (...) Zigfrida
faz sinal de positivo e vão para o ônibus. A japonesa fica ainda mais encantada
com a paisagem, além de com o assédio de fãs e paparazzi, que a photographam
insistentemente. Ao contrário dos outros, que estão animados com a volta para
casa e a perspectiva de muitos dias de folga com dinheiro no bolso, ela está assustada.
Se assusta ainda mais vendo um verdadeiro palácio imperial se avolumando, e o
ônibus não se desviando dele. É tudo muito diferente da rotina prosaica e
previsível que tinha em Tóquio. Patrícia corre para frente quando os portões se
abrem e vê com nitidez quem a espera...
- Mommy? MOMMY!
Mal espera a porta se abrir e corre em seu
terninho azul, serelepe para a mãe, que não pôde ir ao aeroporto por causa das
gêmeas...
-
Mommy... Mommy... My mommy...
-
My baby...
Até soa estranho os termos saírem das
estaturas inversas, mas a cena comove Mikomi. As duas se grudam, como que
tentando se unificar para nunca mais se separarem. Elas choram de alegria,
Nancy sente o coração leve como nunca sentiu em sua vida. Assim que se dão por
satisfeitas Richard tem vez, ele beija e carrega a esposa nos braços para
dentro do palacete, onde uma refeição farta vai quebrar a dieta rígida do front
de batalha, enquanto Patrícia se dedica ao seu romeu, ele resistiu bravamente
às tentativas de sabotagem à sua autoestima. A novata será observada durante a
refeição, para isso alguns pratos japoneses e alguns hashis foram
providenciados (...) os regressos se atiram à
gula, agora podem comer à vontade até passarem mal. Não chegam a passar mal, os
estômagos encolheram um pouco com os rigores alimentares, enchem rapidamente...
- Olha! Eu comi, e você não pôde me impedir!
- Bife grelhado, eu te amo!
- Minhas batatinhas queridas! Quanta falta
senti de vocês!
Patrícia ri dos novatos. Ela (...) reconhece que às vezes pecou
pelo excesso de zelo. Por agora, porém, está muito entretida com a mãe e as
irmãs para pensar em outra cousa que não seja sua família. As pequenas estão
grandes, fortes e travessas! Vão aproveitar um pouco de privacidade (...) para voltar a experimentar a
sensação de serem indivíduos, em vez de membros de uma banda; depois vão
conversar com sua tutora sobre os resultados acima do esperado, Josephine tem
uma surpresa agradável para eles.
Antes, porém, quer falar reservadamente com Robert
e Mikomi. Sem cerimônias leva-os abraçada a eles ao seu escritório, ficando
entre os dois no sofá que dá para a janela do jardim. Ela fala com carinho (...) Dá suas tradicionais e cordiais alfinetadas,
como “Antes de tudo, você é uma fã, estou certa de que esse relacionamento não vai
causar problemas para a carreira do Bobby”, como uma advertência sutil para
ambos “Fora de Sunshadow, eu sou a mãe deles” também entra na conversa...
- Diga, Mikomi, pretende vir morar nos
Estados Unidos, se for o caso?
- Eu já abri mão de muitas coisas na vida,
senhora De Lane, uma mudança de país não está fora de questão.
- Muito bom saber. Bobby, eu vou contar a ela
sobre seu caso, então segure sua mão. Bem antes de formarem a banda, ele teve
uma namoradinha com aproximadamente a mesma idade, no colégio onde ainda hoje
estuda.
- Oito meses mais velha, Jose.
- Você tem mesmo queda por mulheres maduras!
Mas maturidade não parece ser uma virtude daquela garota tola...
Ela conta resumidamente o que aconteceu e
Mikomi aperta a mão do rapaz, com Josephine no meio, estudando os dois (...) Saem em meia hora com certos pontos claros, Josephine
vai a Rebeca e diz que fez sua parte, mas parece que está tudo bem. A garota
pula em seu pescoço e abraça forte...
- I love you, Jose. Tank you.
-
Je t’aime, ma petit fleur.
Exprime em gratidão e sigilo o imenso amor
que tem pelo irmão (...) Lá fora, Grant também espera pela oportunidade de falar com o casalzinho, mas
deixará para depois de Josephine revelar a surpresa. Para tanto são todos
levados a Hollywood, com a japonesa cada vez mais encantada, anotando tudo
mentalmente. Descem diante de um prédio discreto de tijolos aparentes e três
pavimentos muito envidraçados, que iria ser demolido, com uma pequena multidão
em frente, mas que serve perfeitamente aos propósitos da francesa. Na fachada
há o emblema da banda com “Central Office” na parte de baixo. As pessoas que
esperam do lado de fora são os funcionários que os estúdios selecionaram...
- Mes amis, meus parabéns, agora vocês têm
seu próprio escritório...
Ela entrega a chave a Patrícia, agora
encarregada de inaugurar a sede dos negócios da banda. A rentabilidade e o
volume de negócios justificaram a abertura do escritório. A moçoila sobe
serelepe os três degraus, põe a chave e abre as portas. Os funcionários já
sabem onde trabalham e o que fazem, foram bem treinados durante a turnê. A sala
de espera é quase uma reprodução da sala de estar de Patrícia (...) Nas paredes, pôsteres
individuais e em conjunto dos garotos, as luminárias imitam os velhos e ainda
funcionais postes de Sunshadow, a recepção é inspirada em uma estação
ferroviária do século XIX; é esta a ala de livre acesso. Atravessando a porta
de vidro entra-se em uma sala ampla, com sofás, mais pôsteres, grandes janelas
laterais, cafeteiras, chás, sucos, alguns biscoitos e bombons no aparador, revistas
e almanaques da banda, uma secretária executiva e dois acessos a sanitários
amplos. Uma porta leva à copa (...) A escada ao
lado da secretária leva aos ambientes de trabalho (...) Uma sala de reuniões, uma de lazer com os discos de ouro na parede e
uma biblioteca, no terceiro pavimento há suítes e uma sala de música. Um
elevador foi adaptado, para o caso de alguém não poder subir os degraus (...) Nada de muito grande
nem luxuoso, mas como eles ficam felizes com a surpresa! De todas as salas se vê
um quintal onde a praça do trem morto foi reproduzida em escala, eles tratam de
descer (...) Pulam juntos, felizes naquela
pracinha ajardinada, com uma piscina bem ao lado do muro do estacionamento (...) Os rapazes da revista têm mais
material do que imaginavam, Matthew não consegue apenas photographias
excelentes e em primeira mão, vê a carinha de felicidade da namorada irradiando
alegria. Eles trabalharam muito! Sofreram muito! Não houve um só momento em que
pensassem em desistir, principalmente com sua líder empurrando todo mundo, mas
às vezes o aclive parecia íngreme demais para seis adolescentes. Josephine sabe
disso, por isso faz questão de dizer que aquele belo escritório é fruto do seu
trabalho, e que seu pessoal já está trabalhando com contactos e contractos da
banda...
- Nada disso é presente, meus queridos,
embora vocês mereçam. Tudo isso é fruto do trabalho de vocês, essas vinte
pessoas só estão aqui porque vocês precisam delas. E afinal, o que são bons
empresários sem uma boa secretária?
É abraçada e beijada como gostaria de ser
pelo filho que perdeu. É uma maternidade virtual e meio torta, mas é uma
maternidade. Agora eles fazem questão de conhecer seus empregados, querem
intimidade, olhar nos olhos e poder ligar para a copeira a qualquer momento. Os
novatos também ficam encantados, pasmos com o escritório, especialmente após
Grant dizer que eles também fazem parte da equipe, e que por isso também podem
e devem usufruir da estrutura. Só depois da euforia é que descobrem que Nancy
está por trás de tudo, foi em uma das conversas com Josephine que elas
concluíram que os negócios dos garotos estavam maiores do que a sala de casa (...).
Matthew aproveita a estrutura e faz lá mesmo
a reportagem sobre a sede, um garoto da equipe vai rapidamente levar o filme
para revelação, no mesmo dia ele manda por encomenda urgente o material para o
Coast to Coast News, que tem um acordo formal com o Sunshadow’s News, já
alertando o editor por telephone; tudo isso sem precisar pedir algo emprestado,
agora está usando a estrutura da banda da qual, aliás, é o “funcionário” mais
antigo. Vai feliz da vida, todo pimpão, contar aos outros. Fãs, imprensa ordinária
e populares não tardam a saber e coalhar a frente do sóbrio escritório. São
todos convidados a conhecer o primeiro pavimento, aos poucos, pois não cabe
todo mundo lá. As perguntas sobre a turnê estão liberadas, desde que sejam
simples, porque estão todos exaustos.
Enquanto a muvuca se formava, Grant
conversava com Mikomi e Robert (...) Sugeriu que ela se hospede na casa de Patrícia, que tinha
pensado na mesma coisa. Voltam para Sunshadow de manhã bem cedo, os novatos
seguirão em outro vôo, para Detroit (...) Patrícia repassa o que tem a fazer em Sunshadow, inclusive arranjar
acomodações para quarenta e poucos agentes já não secretos, mais suas famílias.
&
Ah, o cheirinho do lar, a relva úmida do
jardim, as folhas farfalhando e a tranqüilidade da rotina próxima do normal.
Ah, a assustadora cena de quase mil e quinhentas libras de chocolate empilhado
na sala...
-
Oh, God... I forgot this...
- Aqueles chocolates todos que eles ganharam
na Europa, Mikomi, mandaram tudo para cá.
- Passo a vida inteira comendo e não acabo
com tudo. O que farão?
- I don’t know! Oh, yes, I know! Vou dar
quase tudo para Mr. Brook! Escolham os seus.
- E aqueles carrinhos de crianças, que você
mandou para cá?
- Os Peel P50! Quase me esqueci! Não são de
criança, mãe, são carros de verdade.
- Você está brincando?
Não, ela vai ao quintal, escolhe um azul
claro, entra com dificuldades e demonstra. O carrinho do tamanho de uma mochila
profissional faz misérias na rua estreita (...) Nancy e Mikomi escolhem os seus e também brincam, só Richard fica
olhando, porque simplesmente não cabe de jeito nenhum.
À tarde os outros aparecem, compartilham da
idéia de doar os chocolates e escolhem os seus P50, com seu parco motorzinho de
três polegadas cúbicas. Enzo escolhe um rosa intenso para Silvia, que ainda não
viu desde que chegou...
- Enzo!
Ah, lá está ela (...) Já estava emagrecendo desde a decepção com a mãe, a ausência do amado lhe
tolheu de vez o apetite. Ganha dez libras do melhor chocolate, para ajudar a se
recuperar. Por hoje é a rotina que já lhes parece leve, mas amanhã começam a
trabalhar duro de novo, embora nem de longe se compare à loucura das turnês.
Patrícia e Richard vão conversar com Daniel,
falam de gente do governo que conseguiu inimigos demais, por se jogarem de
peito aberto nos interesses do país. Ele sabe que a banda conseguiu relações
próximas com gente poderosa, fica entusiasmado com as perspectivas e
esperançoso de que Sunshadow retome seus dias de ouro...
- Então vou fazer uma ligação e darei o sinal
verde, enquanto isso vocês vejam as casas disponíveis... Bom dia, mariposa, não
é cedo para polinizar?
Daniel conhece o amigo desde criança,
acredita que está novamente sendo gentil com uma dama, mas só passou uma
mensagem cifrada para um rapaz que o transfere para o Capitão Krumb. O oficial
fica feliz por terem conseguido arranjar tudo tão rápido, mandará imediatamente
uma mensagem para a CIA e o Pentágono, avisando que os agentes já podem se
mudar para seu novo lar...
- Muito obrigado, Brain!
- Cuidarei de sua irmã como se fosse minha
irmã, Fly.
Após anos de aflição, finalmente Krumb poderá
visitar a irmã quando quiser, sem o risco de ter uma péssima notícia do alto
comando. Não deixarão de ser agentes do governo, mas (...) proverão a demanda reprimida de serviços públicos da
cidade. Uma boa verba é imediatamente liberada para construir escolas, um novo
hospital, biblioteca, mais praças, uma inédita estação de ônibus e instalações
secretas compactas, que ficarão alguns metros abaixo dos alicerces.
Eles chegam com suas famílias aos poucos (...) quase duzentos habitantes a mais, todos com
funções já definidas, todos recomendados pela cidadã mais bem quista. Os
novatos se entrosam rápido. Dois carteiros são especialmente festejados, porque
o actual não se aposentou por falta de quem assumisse as funções. Com os novos
degredados, como dizem os sunshadowers, vem também uma maciça renovação
urbanística (...) e as crianças da cidade não precisam mais ir a Summerfields para
estudar. Com esses prédios novos, a iniciativa privada investe e mais prédios
novos abrigam novos negócios, com arquitetura bem contemporânea. Em dois anos a
Sunshadow original é cercada por uma nova, com várias e enormes praças
arborizadas separando-as em um anel viário. Agora a população passa de
cinqüenta mil habitantes, todos devidamente integrados à philosophia que
permitiu a sobrevivência da cidade. Todo cidadão que se preze tem em casa um espesso
exemplar da Life que cobriu a turnê do Dead Train.
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