sábado, 13 de outubro de 2018

Dead Train in the rain LVIII

    Eles nunca mais serão os mesmos. A estação 58 finaliza a primeira fase da trama, preparando os apuros da próxima. Embarquem e relaxem, o trem da vida nunca para.


Vão para Nagoya. Uma reconciliação simbólica entre América e Japão se dá com intimidade, dentro do ônibus (...) ela divide as atenções entre a narração pelo caminho e o garoto americano. Ficarão em outro hotel, pois a arena (...) remontada em Nagoya. A recepção é mais festiva, influenciada pelas notícias do show anterior. Os opositores dos jogos, fartos da mesmice nas mídias, vêem no Dead Train a alternativa de entretenimento. Ainda mais quando sabem que há dois caratecas no meio. Os mais instruídos ligam rapidamente o nome da banda à lenda do trem fúnebre de George Washington, acrescentando uma aura de cultura e tradição à banda, em oposição ao apelo cada vez mais mercadológico dos jogos.

Conversam amenidades até a anfitriã terminar a conversa com a gerência, se alojam e vão conhecer o Castelo de Nagoya (...) réplica muito precisa do original, destruído pelos bombardeios. A construção é típica, com telhado curvo de quatro águas, mas revestido de outro 18K, mais águas furtadas a partir do segundo pavimento (...) enriquece mais o trabalho dos repórteres americanos. Poderão sugerir uma pauta extra com as photographias que já têm do Japão.

Até a noite do show, eles conseguem fazer seu papel informal de diplomatas, deixando nos japoneses a impressão de que existe vida inteligente fora do Japão; não muito diferente da mentalidade do americano médio. Outros artistas americanos acabam sendo beneficiados pela boa impressão que deixam. Voltam ao hotel em Tóquio para descansar e se prepararem para a viagem de volta. Mikomi vai sair do Japão pela primeira vez (...) Ela confere a documentação, pega alguns exemplares de vários números da revista, material sobre o Japão, sua pequena bagagem e vai para o hotel, já a esperam para irem ao aeroporto. Pagou o último aluguel e pediu ao senhorio que deixasse a mobília para um jovem em início de vida, para que não enfrente todas as mesmas dificuldades que sofreu em Tóquio. O sorriso da moça é escancarado, ela não consegue disfarçar nem forçando.

As longas horas de vôo não chegam a ser cansativas (...) Menos ainda para a passageira extra, que não está nem aí para a janelinha, com a cabeça no ombro de Bobby, sem conseguir parar de sorrir mesmo adormecendo. É um dos momentos em que (...) qualquer palavra desnecessária quebraria o encanto da ocasião. Ela suspira várias vezes, até a hiperventilação dopar o cérebro e adormecer de vez. Na fileira ao lado, Rebeca e Ronald torcem para que essa moça um pouco mais velha consiga sarar o coração do rapaz.

A aeromoça avisa e todos acordam, estão chegando a Los Angeles. Mikomi vê pela primeira vez uma cidade americana ao vivo. Fica encantada com as ruas largas e longas, e assustada com o tamanho dos carros (...) Tudo lhe parece ser gigantesco. O avião pousa e ela vê uma multidão, que há horas espera pela volta da banda. É hora de a dupla da revista iniciar a última fase de seu trabalho, desce logo atrás de Matthew (...) Richard sai olhando para todos os lados, se tranqüilizando quando vê Josephine e Grant à sua espera. Atrás dele vêm Patrícia, Enzo, Renata, Rebeca, Ronald e Robert de mãos dadas com a assustada Mikomi. A imprensa fica eufórica ao ver a cena, teleobjetivas fazem valer seu preço. Patrícia corre para o abraço de que a diva já sentia muita falta. Ela é simpática com Mikomi, que fica trêmula, mais do que quando ficou a poucos metros do imperador (...) Zigfrida faz sinal de positivo e vão para o ônibus. A japonesa fica ainda mais encantada com a paisagem, além de com o assédio de fãs e paparazzi, que a photographam insistentemente. Ao contrário dos outros, que estão animados com a volta para casa e a perspectiva de muitos dias de folga com dinheiro no bolso, ela está assustada. Se assusta ainda mais vendo um verdadeiro palácio imperial se avolumando, e o ônibus não se desviando dele. É tudo muito diferente da rotina prosaica e previsível que tinha em Tóquio. Patrícia corre para frente quando os portões se abrem e vê com nitidez quem a espera...

- Mommy? MOMMY!

Mal espera a porta se abrir e corre em seu terninho azul, serelepe para a mãe, que não pôde ir ao aeroporto por causa das gêmeas...

- Mommy... Mommy... My mommy...

- My baby...

Até soa estranho os termos saírem das estaturas inversas, mas a cena comove Mikomi. As duas se grudam, como que tentando se unificar para nunca mais se separarem. Elas choram de alegria, Nancy sente o coração leve como nunca sentiu em sua vida. Assim que se dão por satisfeitas Richard tem vez, ele beija e carrega a esposa nos braços para dentro do palacete, onde uma refeição farta vai quebrar a dieta rígida do front de batalha, enquanto Patrícia se dedica ao seu romeu, ele resistiu bravamente às tentativas de sabotagem à sua autoestima. A novata será observada durante a refeição, para isso alguns pratos japoneses e alguns hashis foram providenciados (...) os regressos se atiram à gula, agora podem comer à vontade até passarem mal. Não chegam a passar mal, os estômagos encolheram um pouco com os rigores alimentares, enchem rapidamente...

- Olha! Eu comi, e você não pôde me impedir!

- Bife grelhado, eu te amo!

- Minhas batatinhas queridas! Quanta falta senti de vocês!

Patrícia ri dos novatos. Ela (...) reconhece que às vezes pecou pelo excesso de zelo. Por agora, porém, está muito entretida com a mãe e as irmãs para pensar em outra cousa que não seja sua família. As pequenas estão grandes, fortes e travessas! Vão aproveitar um pouco de privacidade (...) para voltar a experimentar a sensação de serem indivíduos, em vez de membros de uma banda; depois vão conversar com sua tutora sobre os resultados acima do esperado, Josephine tem uma surpresa agradável para eles.

Antes, porém, quer falar reservadamente com Robert e Mikomi. Sem cerimônias leva-os abraçada a eles ao seu escritório, ficando entre os dois no sofá que dá para a janela do jardim. Ela fala com carinho (...) Dá suas tradicionais e cordiais alfinetadas, como “Antes de tudo, você é uma fã, estou certa de que esse relacionamento não vai causar problemas para a carreira do Bobby”, como uma advertência sutil para ambos “Fora de Sunshadow, eu sou a mãe deles” também entra na conversa...

- Diga, Mikomi, pretende vir morar nos Estados Unidos, se for o caso?

- Eu já abri mão de muitas coisas na vida, senhora De Lane, uma mudança de país não está fora de questão.

- Muito bom saber. Bobby, eu vou contar a ela sobre seu caso, então segure sua mão. Bem antes de formarem a banda, ele teve uma namoradinha com aproximadamente a mesma idade, no colégio onde ainda hoje estuda.

- Oito meses mais velha, Jose.

- Você tem mesmo queda por mulheres maduras! Mas maturidade não parece ser uma virtude daquela garota tola...

Ela conta resumidamente o que aconteceu e Mikomi aperta a mão do rapaz, com Josephine no meio, estudando os dois (...) Saem em meia hora com certos pontos claros, Josephine vai a Rebeca e diz que fez sua parte, mas parece que está tudo bem. A garota pula em seu pescoço e abraça forte...

- I love you, Jose. Tank you.

- Je t’aime, ma petit fleur.

Exprime em gratidão e sigilo o imenso amor que tem pelo irmão (...) Lá fora, Grant também espera pela oportunidade de falar com o casalzinho, mas deixará para depois de Josephine revelar a surpresa. Para tanto são todos levados a Hollywood, com a japonesa cada vez mais encantada, anotando tudo mentalmente. Descem diante de um prédio discreto de tijolos aparentes e três pavimentos muito envidraçados, que iria ser demolido, com uma pequena multidão em frente, mas que serve perfeitamente aos propósitos da francesa. Na fachada há o emblema da banda com “Central Office” na parte de baixo. As pessoas que esperam do lado de fora são os funcionários que os estúdios selecionaram...

- Mes amis, meus parabéns, agora vocês têm seu próprio escritório...

Ela entrega a chave a Patrícia, agora encarregada de inaugurar a sede dos negócios da banda. A rentabilidade e o volume de negócios justificaram a abertura do escritório. A moçoila sobe serelepe os três degraus, põe a chave e abre as portas. Os funcionários já sabem onde trabalham e o que fazem, foram bem treinados durante a turnê. A sala de espera é quase uma reprodução da sala de estar de Patrícia (...) Nas paredes, pôsteres individuais e em conjunto dos garotos, as luminárias imitam os velhos e ainda funcionais postes de Sunshadow, a recepção é inspirada em uma estação ferroviária do século XIX; é esta a ala de livre acesso. Atravessando a porta de vidro entra-se em uma sala ampla, com sofás, mais pôsteres, grandes janelas laterais, cafeteiras, chás, sucos, alguns biscoitos e bombons no aparador, revistas e almanaques da banda, uma secretária executiva e dois acessos a sanitários amplos. Uma porta leva à copa (...) A escada ao lado da secretária leva aos ambientes de trabalho (...) Uma sala de reuniões, uma de lazer com os discos de ouro na parede e uma biblioteca, no terceiro pavimento há suítes e uma sala de música. Um elevador foi adaptado, para o caso de alguém não poder subir os degraus (...) Nada de muito grande nem luxuoso, mas como eles ficam felizes com a surpresa! De todas as salas se vê um quintal onde a praça do trem morto foi reproduzida em escala, eles tratam de descer (...) Pulam juntos, felizes naquela pracinha ajardinada, com uma piscina bem ao lado do muro do estacionamento (...) Os rapazes da revista têm mais material do que imaginavam, Matthew não consegue apenas photographias excelentes e em primeira mão, vê a carinha de felicidade da namorada irradiando alegria. Eles trabalharam muito! Sofreram muito! Não houve um só momento em que pensassem em desistir, principalmente com sua líder empurrando todo mundo, mas às vezes o aclive parecia íngreme demais para seis adolescentes. Josephine sabe disso, por isso faz questão de dizer que aquele belo escritório é fruto do seu trabalho, e que seu pessoal já está trabalhando com contactos e contractos da banda...

- Nada disso é presente, meus queridos, embora vocês mereçam. Tudo isso é fruto do trabalho de vocês, essas vinte pessoas só estão aqui porque vocês precisam delas. E afinal, o que são bons empresários sem uma boa secretária?

É abraçada e beijada como gostaria de ser pelo filho que perdeu. É uma maternidade virtual e meio torta, mas é uma maternidade. Agora eles fazem questão de conhecer seus empregados, querem intimidade, olhar nos olhos e poder ligar para a copeira a qualquer momento. Os novatos também ficam encantados, pasmos com o escritório, especialmente após Grant dizer que eles também fazem parte da equipe, e que por isso também podem e devem usufruir da estrutura. Só depois da euforia é que descobrem que Nancy está por trás de tudo, foi em uma das conversas com Josephine que elas concluíram que os negócios dos garotos estavam maiores do que a sala de casa (...).

Matthew aproveita a estrutura e faz lá mesmo a reportagem sobre a sede, um garoto da equipe vai rapidamente levar o filme para revelação, no mesmo dia ele manda por encomenda urgente o material para o Coast to Coast News, que tem um acordo formal com o Sunshadow’s News, já alertando o editor por telephone; tudo isso sem precisar pedir algo emprestado, agora está usando a estrutura da banda da qual, aliás, é o “funcionário” mais antigo. Vai feliz da vida, todo pimpão, contar aos outros. Fãs, imprensa ordinária e populares não tardam a saber e coalhar a frente do sóbrio escritório. São todos convidados a conhecer o primeiro pavimento, aos poucos, pois não cabe todo mundo lá. As perguntas sobre a turnê estão liberadas, desde que sejam simples, porque estão todos exaustos.

Enquanto a muvuca se formava, Grant conversava com Mikomi e Robert (...) Sugeriu que ela se hospede na casa de Patrícia, que tinha pensado na mesma coisa. Voltam para Sunshadow de manhã bem cedo, os novatos seguirão em outro vôo, para Detroit (...) Patrícia repassa o que tem a fazer em Sunshadow, inclusive arranjar acomodações para quarenta e poucos agentes já não secretos, mais suas famílias.

&

Ah, o cheirinho do lar, a relva úmida do jardim, as folhas farfalhando e a tranqüilidade da rotina próxima do normal. Ah, a assustadora cena de quase mil e quinhentas libras de chocolate empilhado na sala...

- Oh, God... I forgot this...

- Aqueles chocolates todos que eles ganharam na Europa, Mikomi, mandaram tudo para cá.

- Passo a vida inteira comendo e não acabo com tudo. O que farão?

- I don’t know! Oh, yes, I know! Vou dar quase tudo para Mr. Brook! Escolham os seus.

- E aqueles carrinhos de crianças, que você mandou para cá?

- Os Peel P50! Quase me esqueci! Não são de criança, mãe, são carros de verdade.

- Você está brincando?

Não, ela vai ao quintal, escolhe um azul claro, entra com dificuldades e demonstra. O carrinho do tamanho de uma mochila profissional faz misérias na rua estreita (...) Nancy e Mikomi escolhem os seus e também brincam, só Richard fica olhando, porque simplesmente não cabe de jeito nenhum.

À tarde os outros aparecem, compartilham da idéia de doar os chocolates e escolhem os seus P50, com seu parco motorzinho de três polegadas cúbicas. Enzo escolhe um rosa intenso para Silvia, que ainda não viu desde que chegou...

- Enzo!

Ah, lá está ela (...) Já estava emagrecendo desde a decepção com a mãe, a ausência do amado lhe tolheu de vez o apetite. Ganha dez libras do melhor chocolate, para ajudar a se recuperar. Por hoje é a rotina que já lhes parece leve, mas amanhã começam a trabalhar duro de novo, embora nem de longe se compare à loucura das turnês.

Patrícia e Richard vão conversar com Daniel, falam de gente do governo que conseguiu inimigos demais, por se jogarem de peito aberto nos interesses do país. Ele sabe que a banda conseguiu relações próximas com gente poderosa, fica entusiasmado com as perspectivas e esperançoso de que Sunshadow retome seus dias de ouro...

- Então vou fazer uma ligação e darei o sinal verde, enquanto isso vocês vejam as casas disponíveis... Bom dia, mariposa, não é cedo para polinizar?

Daniel conhece o amigo desde criança, acredita que está novamente sendo gentil com uma dama, mas só passou uma mensagem cifrada para um rapaz que o transfere para o Capitão Krumb. O oficial fica feliz por terem conseguido arranjar tudo tão rápido, mandará imediatamente uma mensagem para a CIA e o Pentágono, avisando que os agentes já podem se mudar para seu novo lar...

- Muito obrigado, Brain!

- Cuidarei de sua irmã como se fosse minha irmã, Fly.

Após anos de aflição, finalmente Krumb poderá visitar a irmã quando quiser, sem o risco de ter uma péssima notícia do alto comando. Não deixarão de ser agentes do governo, mas (...) proverão a demanda reprimida de serviços públicos da cidade. Uma boa verba é imediatamente liberada para construir escolas, um novo hospital, biblioteca, mais praças, uma inédita estação de ônibus e instalações secretas compactas, que ficarão alguns metros abaixo dos alicerces.

Eles chegam com suas famílias aos poucos (...) quase duzentos habitantes a mais, todos com funções já definidas, todos recomendados pela cidadã mais bem quista. Os novatos se entrosam rápido. Dois carteiros são especialmente festejados, porque o actual não se aposentou por falta de quem assumisse as funções. Com os novos degredados, como dizem os sunshadowers, vem também uma maciça renovação urbanística (...) e as crianças da cidade não precisam mais ir a Summerfields para estudar. Com esses prédios novos, a iniciativa privada investe e mais prédios novos abrigam novos negócios, com arquitetura bem contemporânea. Em dois anos a Sunshadow original é cercada por uma nova, com várias e enormes praças arborizadas separando-as em um anel viário. Agora a população passa de cinqüenta mil habitantes, todos devidamente integrados à philosophia que permitiu a sobrevivência da cidade. Todo cidadão que se preze tem em casa um espesso exemplar da Life que cobriu a turnê do Dead Train.

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