quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Dead Train in the rain LXXV

    De periferia a metrópole. A estação 75 mostra a outra face da virada de mesa, para o indivíduo e para o grupo. Sejam previdentes e embarquem, o trem vai partir.


Rebeca conclui seu teste (...) ela está apta a se tornar condessa. Já podem planejar o casório. Sai da residência do conde com seu amado, com um sorriso de triunfo bem esticado. Vai o casal à casa de Patrícia, tratar de negócios. Já têm pronto o esboço de uma marca de alimentos para o custeio das obras assistenciais da banda. A baixinha chega com as mãos na cintura, desfilando de nariz empinado (...) Ronald dá a boa notícia e a festa começa, ela é carregada pela sala por meia hora e jogada na piscina, onde todos pulam em seguida.

A agenda é extensa, com pausas para amamentação. Victória digita ao computador as decisões conclusivas da reunião, para serem imediatamente arquivadas e impressas, para posterior envio ao arquivo do escritório central. Lucille e Marina cuidam de organizar e arquivar o material já utilizado (...) A primeira pausa é marcada por ataques de fofura, especialmente de Renata, que sonha diuturnamente em amamentar também. Robert tem planos com Mikomi para que o primeiro filho nasça quando Rebeca estiver para se casar ou já em lua de mel, no máximo (...) Tratarão do concurso para os fãs brasileiros.

O trabalho dura o dia inteiro, quase invadindo a noite, mas conseguem coisas importantes. Pela primeira vez poderão fazer um show sem patrocínio externo, embora seja apenas um teste (...) Avisam às três garotas que elas irão junto, assim que Renata trouxer seu filho ao mundo. Matthew precisa de ajuda na organização e arquivo de seu trabalho, elas serão bastante úteis. Enzo e Ronald ficam felizes com a evolução das irmãs (...) estão prontas para agir directamente no trabalho midiático da banda. Para elas é óptimo, até agora só conheciam a parte chata do trabalho, e é muito trabalho muito chato! Mas as três já têm suas poupanças e arcam sozinhas com suas despesas particulares, o que suas amigas nem sonham ainda. As três são vistas, em suas horas de folga, passeando em coloridas Vespas (...) Rosa para Marina, Amarela para Victoria e Verde para Lucille.

Entretanto (...) A inveja e o despeito as segregam aos limites de Sunshadow, tanto por parte de riquinhas mimadas (...) quanto por parte das que não movem um dedo, mas gostariam de ser independentes como elas. Ambas precisam de terceiros para terem o que desejam, as três amigas simplesmente contam com seus proventos (...) Os irmãos as amparam, transferem sua experiência, mas para garotas desabrochando a rejeição é sempre importante, isso pesou na decisão de incorporá-las às turnês (...) Conhecerão gente nova, de bocas menos abertas do que suas mentes e dedos menos rígidos do que suas condutas, serão aceitas por gente que não seria aceita se não fosse famosa.

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Norma e Robert batem à porta da casa de ampla varanda (...) parece que o filho gasta uma fortuna com jardineiros, mas é tudo obra e manutenção da nora, que atende de pronto...

- Senhor e Senhora Spring, que honra! Desculpem, mas Bobby está em reunião, na casa de Patty.

- A gente sabe – responde Robert.

- Viemos visitar você.

- A mim? Oh... Entrem!

A japonesa sorridente ainda mantém os cabelos curtinhos, mas já têm mais volume e brilho (...) O interior da ampla casa é uma união feliz de dois mundos, Bobby fez questão de que ela mantivesse sua personalidade e suas tradições mais caras, de onde nasceu o jardim da frente, com um extenso lago de carpas. A felicidade que o filho estampa no rosto (...) os levou a decidir ver como andam os bastidores dessa felicidade toda. A casa está um brinco, limpíssima, organizadíssima, decorada com miniaturas das culturas americana e japonesa, alguns bonsais, um bibelô em forma de cachoeira jorrando bastante água, baguás e todas as janelas e portas abertas (...) o tamanho compacto os faz parecerem poucos, espalhados pela casa. Em um aparador estão photographias, inclusive com os sogros. Norma não poupa elogios...

- Meus Deus, esta casa está um brinco! Dá até receio de pisar neste chão tão limpo!

- Obrigada, mãe-na-lei! Mas o mérito não é só meu, eu pago uma moça para vir três vezes por semana e me ajudar na limpeza pesada.

- Mesmo assim! Manter a casa limpa assim é uma arte!

- Venham, tenho bolinhos de arroz! Sirvam-se.

O caminhoneiro por hobby ainda tenta entender aquela decoração, baseada no feng-shui. Acha bonita, mas cresceu acostumados aos exageros americanos e achá-los normais. Mas os bolinhos de arroz da nora já são lendários. Mikomi nunca escondeu que o amor por Bobby vai além do casamento e da relação marital, ele é seu ídolo, agradece todos os dias pela interferência de Rebeca (...) Se servem, conversam enquanto comem, percebendo que a devoção de fã da esposa é um dos ingredientes da felicidade de seu rebento. Robert sempre lhe disse que queria que fosse ela mesma o tempo todo (...) ela se sentiu muito à vontade para ser esposa e fã ao mesmo tempo, tietando o marido sem medo de outra fã entrar na casa e interromper o namoro.

Robert chega e tem uma surpresa muito feliz, corre para fora e chama a irmã, que encontraria a casa vazia...

- Oi, Miko! Tem bolinho de arroz sobrando aí?

- Oi, Rebby! Tem mais. Se não der eu frito outros.

Expulsa de sua família natal, ela se sente bem acolhida na do marido. O trabalho de hoje foi muito produtivo, tiveram bons progressos e abocanharam (...) antigos patrocinadores. Apesar do conforto em que vivem, os seis estão longe de aparentar o que realmente podem ter. Na garagem, ao lado do poderoso Superbird, uma Toyota Corolla Deluxe Wagon modelo 1971, vermelha reluzente, repousa com poucas milhas rodadas (...) Ela mostra aos sogros aquele carrinho estranho, com jeito europeu e cara americana. Os leva para um passeio, e eles estranham aquela alavanca no assoalho, mais ainda o modo de trocar as marchas. Os irmãos ficam a sós na casa...

- Como eu gosto da Miko! Cara, ela é tão gente fina que dá raiva!

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra... Eu te amo, Mascote. Devo esse casamento de sonhos a você.

- Não tem nada que eu não faça por você, Bobby. Nada mesmo.

Ele a chama para o sofá e começa a mimá-la (...) Conversam em tom baixo, para poderem ouvir a queda d’água artificial do aparador. Ele diz que já estão planejando um sobrinho para ela poder brincar, levar de moto às escondidas, puxar as orelhas quando achar necessário...

- Jura? Cara, eu vou mandar fazer uma micro Harley de pedal e rodinhas pra ele! Sobrinho meu não vai andar de velocípede!

- Só se for igual à sua.

- Vai ser! Vou até mandar colocar um motorzinho eléctrico, quando ele tiver idade.

A Corolla chega do breve passeio, com Norma ao volante. Foi mais fácil do que imaginava, gostou dela, mas sentiu falta do torque e da capacidade de carga das wagons americanas.

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Daniel pede desculpas, mas precisa de aconselhamento. Patrícia, com Richard nos braços, e Arthur o recebem (...) O bom controle demográfico, a injeção de recursos e a coesão de seus habitantes, transformaram Sunshadow em uma das melhores cidades do mundo para se viver. Mesmo com a cidade nova, o município não inchou, não há áreas pobres e os cidadãos mais humildes têm um bom padrão de vida e de consumo, mas (...) as cidades vizinhas pararam de crescer para todos os lados, estão começando a crescer para cima de Sunshadow (...) Se antes o sunshadower precisava sair para ter boas opções de trabalho, hoje são os vizinhos próximos que buscam na cidade uma chance de ascensão. Em Summerfields, por exemplo, restaurantes já fecharam, porque seus clientes habituais arranjaram empregos melhores em Sunshadow...

- Juro que por essa eu não esperava, Daniel! Há o risco de bairros clandestinos começarem a aparecer nos limites da cidade, com isso a criminalidade crônica chegaria aqui.

- E os picaretas dos meus colegas estão mandando infraestrutura para essas periferias, para mandar o problema pra gente, entendeu minha preocupação?

- “Forgotten” in live, dear! Agora todo mundo quer vir para cá e os sacanas se aproveitam disso.

- Sim, nem vergonha na cara eles têm, nem para disfarçar! Eu sei o que vamos fazer, mas isso vai nos custar caro, não tanto em dinheiro, mas vai. Daniel, isso vai nos dar a fama diametralmente oposta à antiga, mas vai resolver o problema. Vamos investir nessas cidades...

Convoca uma reunião com os empreendedores de Sunshadow (...) Terão que investir nas cidades vizinhas para que os desvairos de seus prefeitos não os atinjam (...) Weasley Brook é o primeiro a se oferecer, há muito tempo quer transformar seu negócio em uma franquia e vê no problema uma oportunidade (...) quer tomar o país inteiro. A iniciativa encoraja os demais, Patrícia e Richard cuidam de organizar a empreitada. Sugerem que incluam Detroit, que está começando a mancar e precisará de toda ajuda que puderem oferecer.

Richard planeja construir sua fábrica em uma das cidades vizinhas (...) paralelamente estender a rede de espionagem e assegurar mais solidez nas operações da organização. Agora Daniel tem um motivo para construir um metrô, ainda que signifique dar infraestrutura de graça às cidades vizinhas, mas é um investimento na tranqüilidade de sua própria cidade.

Contractam pesquisadores locais para a sondagem de mercado em cada cidade. O efeito Dead Train causou um choque (...) ainda mais depois que a cidade se tornou ponto de encontro de artistas de primeira grandeza e gente poderosa, que às vezes são as mesmas pessoas. Quando os investimentos começaram, e a mão de obra local se tornou insuficiente, os forasteiros viram uma oportunidade (...) mas às custas do desinteresse por suas próprias cidades, que começaram a decair. A idéia é evitar problemas em Sunshadow, preservando suas vizinhas. Em dois meses os primeiros empreendimentos são abertos e as pessoas passam a tomar seu desjejum na Brook’s Hot Chocolate (...) especialmente no inverno. A periferia, agora, são as outras cidades. Vingança? Imagina! Mas um chocolate quente é tão doce!

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Sunshadow pára em frente à casa de Mikomi e Robert, os passantes ficam extasiados com a cena das cerejeiras em flor. As mudas (...) deram sua primeira florada séria, o terreno da casa fica totalmente cor de rosa. Todo mundo quer aparecer em uma photographia em frente à casa, até o casal os convidar a tirarem lá dentro...

- Sério? A gente pode mesmo?

- Claro! Só tomem cuidado, porque o jardim da Mikomi é bastante delicado.

O Mikomi’s Garden ganha fama rapidamente (...) A serenidade passou a ser parte do comportamento de Bobby, desde que se casou ele se deixou plácida e deliberadamente influenciar pela esposa. Rebeca sabe disso, sabe e agradece. O irmão era um moleque comum (...) estava desperdiçando o cavalheiro que tinha dentro de si nas ruas de Summerfields, após as aulas. Já viu muito cara legal afundar por causa de sirigaitas, mas também viu muitos saírem da lama por causa de uma boa esposa; seu irmão era um cara legal que se casou com uma mulher incrível (...) Hoje ele é um dos diplomatas mais centrados do mundo.

É em meio a toda essa paz e quietude, que lembra a colônia espiritual construída recentemente sobre Sunshadow, que Renata chama Matthew...

- Matt! Vai nascer!

A integrante mais discreta da banda sempre foi a que teve a vida mais escancarada, involuntariamente (...) Josephine chega quando Marcia começa a dar seus primeiros berros no mundo. Fica a cargo de Arthur registrar a família, sob orientação de Matthew...

- Vê se não faz sombra. Legal? Então pode clicar, Greg.

Ele clica, assim que a mamãe consegue parar de rir (...) O apelido ainda é o que Arthur mais ouve, quando alguém o chama. Mas a photographia sai e os fãs conhecem a herdeira da brasileira, aguardando ansiosos pelos que faltam. Podem voltar para casa no mesmo dia, com Eduarda se responsabilizando pela assistência à filha, levando Eddie junto, para (...) ganhar um pouco de responsabilidade. A primeira noite da pequena, fora do útero, é de uma paz fora do comum, para o alívio dos pais e do labrador.

Na manhã seguinte tem visitas, Patrícia leva Richard, Audrey e Melinda. As meninas já sabem trocar fraldas (...) As duas assombram, trocam e limpam Marcia em um minuto. Renata as olha, abre um sorriso e já sabe aos cuidados de quem deixará a filha, quando estiver fora. A bronca que as três receberam deu belos resultados. Eduarda e Renato chegam logo em seguida com Eddie, aos poucos Pequi começa a fazer a farra, correndo entre os visitantes.

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