As revoluções cotidianas. A estação 71 desenha as aventuras do dia a dia e sinaliza sua importância para o desenrolar de tramas maiores. Embarquem, o trem vai partir.
Renata é novamente o foco. Patrícia chamou os
outros cinco e Matthew para uma reunião de emergência, os “The Special Boys” se
separaram, por questões de egos maiores do que o sucesso de sua fase de franca
decadência (...) deixam os outros caírem na risada,
porque isso já era previsto (...) Ela lê a notícia, já que ele está
bufando de raiva e não conseguiria falar sem fazer ameaças de morte a cada
parágrafo. Ela pede que a amiga se sente no colo do marido, para ele não pular
de ódio novamente, então começa a ler...
- Aquela ameba de baixo Q.I que rolou no chão
com o Jeffrey, por causa da Melanie, lembram-se? Ele declarou “Aproveitando que
vocês estão aqui (Jura? Quer dizer que não são hologramas?) quero dizer que os
boatos (que nunca existiram) sobre eu e a Renata Ribeiro, são falsos. Nós somos
apenas bons amigos (Nem nos sonhos mais alucinados) e o que aconteceu entre a
gente, no passado (No futuro ainda não aconteceu nada) ficou por lá. Parem de
tentar usar a nossa amizade (??!!) pra prejudicar o casamento dela, o que
aconteceu foi antes de ela e o Matt se conhecerem”.
- A única coisa que aconteceu entre aquele
asno e mim, foi entre minha mão e a cara dele, por atrevimento!
- Ele jogou verde para colher maduro, Rê.
Infelizmente a tática deu certo, já foi convidado por seis programas de
auditório para falar mais a respeito do romance que só existe na cabeça de
baixo dele. Para nossa tristeza, ele vai conseguir emplacar pelo menos um álbum
nas paradas, por causa da polêmica, graças a Deus os outros dois parecem ter
caído no ostracismo... E que nunca mais saiam de lá.
- Quer que eu vá conversar com ele, Rê?
- Não, Mascote, ele não entenderia nada, você
não sabe relinchar. Matt, meu amor, meu amado e único homem da minha vida, eu
quero que você ponha minha resposta no jornal.
- Publico uma página inteira!
- Não, só uma frase: Eu não pratico zoofilia.
Quem sabe o que a palavra significa, cairá de
tanto rir (...) Rebeca levanta
a mão, pergunta que fim levou a magricela da Melanie. Bem, responde Patrícia,
está mais cheinha e noiva do Jeffrey...
- Jura? O Jeff vai casar?
- De rocha! Lembra aquela queima de sutiãs?
Ela participou, levou sutiãs baratos para serem queimados e ganhou uma nota
preta, hoje é consultora de lingerie.
Ganha mais do que o noivo, que é professor de
música. Foi graças à combinação de seus vencimentos que puderam financiar uma
casinha e marcar a data do casório.
Matthew liga para o Coast to Coast e dá as
instruções (...) quer que a resposta
da esposa seja colocada como chamada de matéria. Manda escolherem a
photographia com mais jeito de superstar que tiverem no arquivo, para dar o
recado a quem não entender o que estiver escrito, porque muita gente ainda se
encanta com a carinha de anjo e o corpo diabólico que a miscigenação deu à
brasileira.
Os dois voltam para casa de mãos dadas.
Começarão a tratar da procriação (...) em breve
poderão pensar em dar netos a seus pais. Caminham tranqüilos (...) com planos para o futuro próximo. Matthew ainda acha meio
ridículas as calças que estão na moda, prefere continuar com as de alfaiate,
embora muitos amigos artistas as adorem. Renata não (...) é uma moça anacrônica, só não abusa do estilo de sua camisa preta com
mangas longas de listras brancas e vermelhas, sobre as calças de bocas um pouco
largas, só um pouco.
Atravessam a praça e chegam ao seu lar, no
limite da cidade velha, quase de frente para a casa futurista de Patrícia e
Arthur. Ele abre o portão, o alegre labrador Pequi faz a festa para receber
seus donos (...) Olham a caixa de
correios, está repleta de cartas de várias partes do mundo, mas já é tarde,
deixam para respondê-las amanhã, o dia foi de trabalho duro, ainda teve a
polêmica que precisaram arrefecer, enfim... Na sexta-feira é aniversário de
casamento dos pais, Renata quer pensar em um presente à altura.
&
Alguns funcionários privilegiados estão
presentes (...) decidiram pedir
um dos auditórios, convidaram os músicos de apoio e lá estão os dezoito. O Dead
Train ensaia no centro de convenções, onde não incomodará a vizinhança e não
terá distrações para atrapalhar seu trabalho. Quando terminam, os funcionários
do centro de convenções aplaudem, mas são interrompidos por um aplauso mais
ritmado e vindo de trás, é Josephine. Achou muito conveniente estarem os
dezoito juntos (...) desce a escada em direção ao palco, entre as poltronas, e é
como se fosse Moisés no Mar Vermelho, o pequeno público abre passagem à medida
de seu avanço. Um de seus últimos filmes teve uma cena assim, nos minutos
finais, mas ela fazia uma mafiosa e morreu no final, aqui a situação é outra...
- Merci, mes amis. Se não se importarem em deixar
este auditório por último, eu gostaria de ter uma conversa reservada com nossos
astros.
Eles atendem (...) os seis
fazem a festa, comentando sobre o efeito que ela teve sobre o pessoal da
limpeza. Ela sorri, sobe ao palco em seu vestido médio, púrpura, de alças
largas e gola em gota. A falta de cor demostra o quão pouco tem saído à rua (...) Patrícia tem a primazia no
abraço...
- Em primeiro lugar, os scripts para o show
dos Muppets já estão sendo escritos, com bastante margem para improvisação. Em
segundo, o concurso para o Brasil já está saindo dos rascunhos, logo poderemos
planejar tudo com a devida calma. Em terceiro e mais importante lugar, Patrícia
voltou a fazer aquela cara e eu precisarei da ajuda de todos vocês para
desfranzir o cenho dela. As preocupações recentes explicam bastante, ela tem
mais responsabilidades do que vocês podem imaginar, mas não devem ser pretexto
para privar o mundo deste sorriso tão lindo.
- Não precisa se preocupar, minhas crises já
são bem curtas.
- “Curtas” para os seus padrões, chérie.
Algumas vezes elas duram o dia inteiro. Oh, vocês devem estar pensando “Quando
foi isso?” e eu respondo: Quando ela estava só. É preciso muito tato para
conseguir arrancar a verdade dela, mas eu consigo. A solidão te faz mal, petite
fleur.
- Sou adulta, Jose, todos nós somos. Não
posso ocupar o tempo dos outros só por causa de...
- Ah-ah-ah! Pode sim – protesta Rebeca. Agora
tô sacando o lance dessa balada que a gente ensaiou; “You cannot take other
people’s time just to dry your tears! Dry your own tears...”. Patty! Patty! Irmã, a sua dor é a nossa dor!
Você é o amalgama da nossa banda, o farol de nossas canções, et cetera, et
cetera, et cetera! Vou falar com o Greg, tu tá precisando arranjar um filho.
- A gente já tá treinando. Se eu ficar
grávida hoje, a criança vai nascer quando nossa agenda estiver toda cumprida,
senhorita deboche.
- Bom saber, princesa Patrícia, mas ela tem
razão. Você poderia passar mais tempo com suas irmãs, soube que passa até uma
semana sem vê-las, mesmo quando está em Sunshadow. Aliás, já que estamos aqui,
posso nos convidar para um lanche na casa de seus pais?
- Ok, já ensaiamos o bastante. Vou ligar pra
Mamãe Broto e vamos pra lá.
- “Mamãe Broto”?
Explicam o episódio de há poucos dias,
atiçando a curiosidade da diva (...) Os paparazzi que estão na cidade têm um orgasmo, Jose
De Lane liderando a Dead Train completa até a casa de solteira de Patrícia
Petty. Ver a banda completa, fora dos palcos, já é bem raro, ver a diva reclusa
passeando com ela é manchete de capa. Pois ela consegue (...) que Nancy exiba seus 5’5” em outra combinação das que
Patrícia só usa em casa. É uma mulher de estatura média para alta, nos padrões
americanos, mas na família é a nanica. Josephine não se furta o dever de contar-lhe
sobre o que soube da filha...
- Ora, ora, ora! Audrey! Melinda! Venham
aqui... Pulem na sua irmã.
- Como?? Cadê a escada?
- Onde fica o elevador? Não tem elevador –
exclama Melinda!
Chorando de rir, ela se ajoelha e as meninas
pulam nos seus braços (...) a moça se levanta
sacudindo as irmãs. As pequenas se acostumaram desde cedo a conviver com
estrelas de primeira grandeza (...) autoridades
públicas, estrangeiros e gente de sangue azul; fora Ronald, é claro. As meninas
vêem todos eles como gente (...) se a pessoa for
legal com elas então a conversa pode começar. Infelizmente as queixas de Nancy
procedem, elas convivem pouco com a irmã...
- Estou negligenciando vocês, pequerruchas!
Logo eu, que amamentei e troquei suas fraldas! Mãe, eu quero levar elas para um
dos shows!
- A gente mamou em você?
- Mommy! Estou chocada – Melinda novamente!
- Ela me poupou muitas boas horas de sono,
quando vocês abriam o berreiro no meio da madrugada. Não pensem que fui
relapsa, vocês mamaram em nós duas. Esta carinha lisa e estes olhinhos com
poucas marcas, eu devo à irmã de vocês.
As
gêmeas arrancam risos a cada cinco minutos. Rebeca e Ronald vão à cozinha, ver
o que podem preparar para toda aquela gente forrar seus estômagos (...) gritam por Richard e avisam que o macarrão com legumes e carne
desfiada não demora a ser servido. O mecânico pede uma porção dupla, já se
lavando para ir comer. Patrícia aproveita para ver como andam as irmãs na
escolinha (...) depois vai ver o
que ela andam lendo. Encontra um almanaque da banda ainda com metade das
actividades por preencher, revistas de humor são a maioria. Os brinquedos preferidos
delas são de montar, alguns bonecos desmontáveis, tijolinhos de madeira,
lego...
- Legal... Mas que gororoba é essa?
- Personalidades – diz Audrey.
- Esta é a nossa.
A estrutura de lego se parece com uma caverna
desmoronada, cheia de colunas e pontes, com duas bonecas de papel feitas a mão
bem no meio de tudo. Elas parecem ter um gosto arrebatado pelo surrealismo (...) Ela liga para Zigfrida, quer ela e Renata
estudando as duas maluquinhas que a mãe tem em casa.
&
Chegam aos estúdios dos bonecos (...) pegam os manipuladores brincando e improvisando,
enquanto ensaiam, vendo os bastidores de um dos programas que embalaram suas
infâncias. Todo o glamour de sua meninice está lá (...) falando bobagens enquanto não chega a hora de o Dead Train chegar
para o ensaio...
- Kermit! Eles não estarão atrasados?
- Deixe eu ver! Não, ainda faltam dez
minutos.
- É que a gente gosta de chegar uns minutos
antes – diz Patrícia.
- Viu, Piggy, eles gostam de...
Por hábito, os manipuladores se viram e aos
bonecos para trás. Patrícia, Enzo, Robert, Renata, Rebeca e Ronald; o Dead
Train está lá. As reações espalhafatosas, que custariam férias em camisas de
força ao elenco humano, são transmitidas pelos bonecos. O director decide que
esta cena acidental vai para o episódio.
Estudam rapidamente mais um vez o roteiro,
que tem algumas passagens onde só se lê “Se vira” (...) bonecos
passam o tempo todo por eles, fazendo caretas e dando chiliques. De vez em
quando as moças dão um afago em alguns e as reações exageradas voltam a
acontecer. Quando estão prontos é que a muvuca começa (...) e as gravações sérias realmente acontecem... “Sérias”? Eu
disse “sérias”?
A capacidade de improvisação da banda ajuda
muito (...) Os
intervalos são marcados pelo prazer dos manipuladores de trabalhar com estrelas
sem estrelismos, a descontração toma conta dos bastidores. O cinismo típico de
Sunshadow engrena perfeitamente com a tradição daqueles bonecos.
Para não quebrar a tradição, em um cenário
que imita a praça do trem morto, “Back to Sunshadow” encerra a participação dos
seis.
O programa vai ao ar na semana seguinte, com
as edições e as tomadas primorosas que dão o tom do The Muppets Show (...) As
crianças vibram, vendo suas irmãs aprontando na televisão o que elas aprontam
na vida real. Robert e Norma lamentam não poderem dar mais um ou dois
pequerruchos aos filhos, se casaram bem maduros e a gestação de Rebeca já
representou algum risco à mãe.
&
Nancy olha aquilo (...) que parece ser uma máquina de escrever com um televisor acoplado, só
que não vê o rolo para colocar o papel...
- Ritchie, o que é isso?
- Bem-vinda ao novo mundo, meu amor. Isto é
um computador pessoal.
- Hein? Essa tralha toda é um computador?
- A Patty também está instalando o dela, na
biblioteca.
- Desculpe a ignorância, mas... Pra que
serve, aqui em casa?
- Controle do orçamento é só uma das
utilidades. De agora em diante, poderemos ter uma estatística confiável e
actualizada periodicamente de nossas despesas, dos progressos das meninas, do
histórico médico, do escolar, enfim, de praticamente tudo. Depois, será só
imprimir.
- Deve ter custado uma nota! Como se mexe
nisto?
Enquanto a máquina é configurada, ele ensina
à esposa (...) Patrícia, cercada pelos parceiros, seus
pares e pelo marido, explica a utilidade daquilo para a banda, e que outro está
sendo instalado no escritório central (...) Foi apenas uma
recomendação, mas todos compraram os seus e Richard os ensinou a usar. Apesar
de compactos, cabem com folga em uma VW bus, são muito mais poderosos do que os
gigantes (...) cuja compra só se
justificava para Estados e grandes corporações. Patrícia termina...
- Pronto! Agora é alimentar.
- Isto come?
- Não, Silvia. É alimentar com dados, com
informações. Ele precisa saber o que vai processar. À medida que eu digito
essas informações, ele já pode trabalhar com elas. Vamos começar pelas nossas
letras.
Estas ela sabe de cor, digita e salva todas
com rapidez (...) consegue
que ele toque a melodia de cada uma, com um som bastante metálico, como os dos
órgãos de brinquedo, mas é uma simulação eficiente e ajudará na hora de compor
as músicas. Todos têm, nos dias que se seguem, aulas de informática.
Prefeitura e chefatura de polícia também
recebem os seus, o que provoca filas de populares querendo ver os computadores
de Sunshadow, sentem-se prestes a serem vizinhos dos Jetsons. As instalações
secretas na cidade nova também ganham, mas destes a população não pode nem
tomar conhecimento (...) Daniel Stewart passa a brincar
com o computador o dia inteiro, vendo, revendo, analisando e estudando as
estatísticas, causando ciúmes nos prefeitos das cidades vizinhas. Mais ciúmes
ainda são por certa cidadã ir todos os dias levar-lhe o almoço...
- Mas como você gostou desse aparelho!
- É muito útil, mais do que eu podia supor.
Consigo fazer várias simulações de orçamentos em um dia, o que normalmente
levaria o semestre inteiro.
- O seu almoço, Dan.
- Eh... Laura... Você tem me ajudado muito!
Estou até emagrecendo, por comer direito!
Os dois ficam calados por alguns segundos,
enquanto ele abre as marmitas. Faz meses que almoçam juntos na prefeitura. Ele
espera o almoço terminar, depois uma pausa e...
-
O que é isto?
-
Laura, you wanna be my first lady?
As alianças esperaram um bocado até ele tomar
coragem (...) mas
ela sempre demonstrou afeição por si, desde que se prontificou a auxiliá-la,
quando se mudou com Silvia para Sunshadow. O sorriso e o entusiasmo são quase
uma resposta positiva, que vem em seguida. Meia hora depois, lá está Silvia,
para ver quais são as intenções do prefeito (...) casam-se e as duas se mudam para a casa dele no mesmo dia.
Ela não economiza detalhes, conversando com
Enzo, da euforia que a mãe sente (...) Não foi o que
sonhou quando adolescente, mas está casada. Laura é texana, guarda muito do
romantismo matrimonial que seus conterrâneos ainda cultivam, apesar das
amarguras que sofreu para criar a filha com alguma dignidade...
- E casou antes da gente!
- Antes da gente! Acho que ainda vai demorar
pra ela sair do torpor, está dançando pela casa como se fosse um comercial de
margarina dos anos cinqüenta.
- Deixa! Você tinha dito que ela tinha
perdido as esperanças de casar, de repente o Daniel coloca as alianças na mesa
de refeições e faz a proposta!
Conversam enquanto passeiam no De Soto S11C
Custon, com a capota baixa, a velocidade idem (...) Não dão conversa ao modismo de que o casamento é uma instituição
falida, sabem muito bem em que péssimos exemplos essas pessoas se apoiam,
desdenhando os casos bem sucedidos. A solteirice dos dois está dando suas
últimas voltas. Robert e Mikomi já escolheram a casa na cidade nova, faltam
Rebeca e Ronald poderem marcar o seu, mas isso já demora mais.
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