sábado, 27 de outubro de 2018

Dead Train in the rain LXXI

    As revoluções cotidianas. A estação 71 desenha as aventuras do dia a dia e sinaliza sua importância para o desenrolar de tramas maiores. Embarquem, o trem vai partir.


Renata é novamente o foco. Patrícia chamou os outros cinco e Matthew para uma reunião de emergência, os “The Special Boys” se separaram, por questões de egos maiores do que o sucesso de sua fase de franca decadência (...) deixam os outros caírem na risada, porque isso já era previsto (...) Ela lê a notícia, já que ele está bufando de raiva e não conseguiria falar sem fazer ameaças de morte a cada parágrafo. Ela pede que a amiga se sente no colo do marido, para ele não pular de ódio novamente, então começa a ler...

- Aquela ameba de baixo Q.I que rolou no chão com o Jeffrey, por causa da Melanie, lembram-se? Ele declarou “Aproveitando que vocês estão aqui (Jura? Quer dizer que não são hologramas?) quero dizer que os boatos (que nunca existiram) sobre eu e a Renata Ribeiro, são falsos. Nós somos apenas bons amigos (Nem nos sonhos mais alucinados) e o que aconteceu entre a gente, no passado (No futuro ainda não aconteceu nada) ficou por lá. Parem de tentar usar a nossa amizade (??!!) pra prejudicar o casamento dela, o que aconteceu foi antes de ela e o Matt se conhecerem”.

- A única coisa que aconteceu entre aquele asno e mim, foi entre minha mão e a cara dele, por atrevimento!

- Ele jogou verde para colher maduro, Rê. Infelizmente a tática deu certo, já foi convidado por seis programas de auditório para falar mais a respeito do romance que só existe na cabeça de baixo dele. Para nossa tristeza, ele vai conseguir emplacar pelo menos um álbum nas paradas, por causa da polêmica, graças a Deus os outros dois parecem ter caído no ostracismo... E que nunca mais saiam de lá.

- Quer que eu vá conversar com ele, Rê?

- Não, Mascote, ele não entenderia nada, você não sabe relinchar. Matt, meu amor, meu amado e único homem da minha vida, eu quero que você ponha minha resposta no jornal.

- Publico uma página inteira!

- Não, só uma frase: Eu não pratico zoofilia.

Quem sabe o que a palavra significa, cairá de tanto rir (...) Rebeca levanta a mão, pergunta que fim levou a magricela da Melanie. Bem, responde Patrícia, está mais cheinha e noiva do Jeffrey...

- Jura? O Jeff vai casar?

- De rocha! Lembra aquela queima de sutiãs? Ela participou, levou sutiãs baratos para serem queimados e ganhou uma nota preta, hoje é consultora de lingerie.

Ganha mais do que o noivo, que é professor de música. Foi graças à combinação de seus vencimentos que puderam financiar uma casinha e marcar a data do casório.

Matthew liga para o Coast to Coast e dá as instruções (...) quer que a resposta da esposa seja colocada como chamada de matéria. Manda escolherem a photographia com mais jeito de superstar que tiverem no arquivo, para dar o recado a quem não entender o que estiver escrito, porque muita gente ainda se encanta com a carinha de anjo e o corpo diabólico que a miscigenação deu à brasileira.

Os dois voltam para casa de mãos dadas. Começarão a tratar da procriação (...) em breve poderão pensar em dar netos a seus pais. Caminham tranqüilos (...) com planos para o futuro próximo. Matthew ainda acha meio ridículas as calças que estão na moda, prefere continuar com as de alfaiate, embora muitos amigos artistas as adorem. Renata não (...) é uma moça anacrônica, só não abusa do estilo de sua camisa preta com mangas longas de listras brancas e vermelhas, sobre as calças de bocas um pouco largas, só um pouco.

Atravessam a praça e chegam ao seu lar, no limite da cidade velha, quase de frente para a casa futurista de Patrícia e Arthur. Ele abre o portão, o alegre labrador Pequi faz a festa para receber seus donos (...) Olham a caixa de correios, está repleta de cartas de várias partes do mundo, mas já é tarde, deixam para respondê-las amanhã, o dia foi de trabalho duro, ainda teve a polêmica que precisaram arrefecer, enfim... Na sexta-feira é aniversário de casamento dos pais, Renata quer pensar em um presente à altura.

&

Alguns funcionários privilegiados estão presentes (...) decidiram pedir um dos auditórios, convidaram os músicos de apoio e lá estão os dezoito. O Dead Train ensaia no centro de convenções, onde não incomodará a vizinhança e não terá distrações para atrapalhar seu trabalho. Quando terminam, os funcionários do centro de convenções aplaudem, mas são interrompidos por um aplauso mais ritmado e vindo de trás, é Josephine. Achou muito conveniente estarem os dezoito juntos (...) desce a escada em direção ao palco, entre as poltronas, e é como se fosse Moisés no Mar Vermelho, o pequeno público abre passagem à medida de seu avanço. Um de seus últimos filmes teve uma cena assim, nos minutos finais, mas ela fazia uma mafiosa e morreu no final, aqui a situação é outra...

- Merci, mes amis. Se não se importarem em deixar este auditório por último, eu gostaria de ter uma conversa reservada com nossos astros.

Eles atendem (...) os seis fazem a festa, comentando sobre o efeito que ela teve sobre o pessoal da limpeza. Ela sorri, sobe ao palco em seu vestido médio, púrpura, de alças largas e gola em gota. A falta de cor demostra o quão pouco tem saído à rua (...) Patrícia tem a primazia no abraço...

- Em primeiro lugar, os scripts para o show dos Muppets já estão sendo escritos, com bastante margem para improvisação. Em segundo, o concurso para o Brasil já está saindo dos rascunhos, logo poderemos planejar tudo com a devida calma. Em terceiro e mais importante lugar, Patrícia voltou a fazer aquela cara e eu precisarei da ajuda de todos vocês para desfranzir o cenho dela. As preocupações recentes explicam bastante, ela tem mais responsabilidades do que vocês podem imaginar, mas não devem ser pretexto para privar o mundo deste sorriso tão lindo.

- Não precisa se preocupar, minhas crises já são bem curtas.

- “Curtas” para os seus padrões, chérie. Algumas vezes elas duram o dia inteiro. Oh, vocês devem estar pensando “Quando foi isso?” e eu respondo: Quando ela estava só. É preciso muito tato para conseguir arrancar a verdade dela, mas eu consigo. A solidão te faz mal, petite fleur.

- Sou adulta, Jose, todos nós somos. Não posso ocupar o tempo dos outros só por causa de...

- Ah-ah-ah! Pode sim – protesta Rebeca. Agora tô sacando o lance dessa balada que a gente ensaiou; “You cannot take other people’s time just to dry your tears! Dry your own tears...”. Patty! Patty! Irmã, a sua dor é a nossa dor! Você é o amalgama da nossa banda, o farol de nossas canções, et cetera, et cetera, et cetera! Vou falar com o Greg, tu tá precisando arranjar um filho.

- A gente já tá treinando. Se eu ficar grávida hoje, a criança vai nascer quando nossa agenda estiver toda cumprida, senhorita deboche.

- Bom saber, princesa Patrícia, mas ela tem razão. Você poderia passar mais tempo com suas irmãs, soube que passa até uma semana sem vê-las, mesmo quando está em Sunshadow. Aliás, já que estamos aqui, posso nos convidar para um lanche na casa de seus pais?

- Ok, já ensaiamos o bastante. Vou ligar pra Mamãe Broto e vamos pra lá.

- “Mamãe Broto”?

Explicam o episódio de há poucos dias, atiçando a curiosidade da diva (...) Os paparazzi que estão na cidade têm um orgasmo, Jose De Lane liderando a Dead Train completa até a casa de solteira de Patrícia Petty. Ver a banda completa, fora dos palcos, já é bem raro, ver a diva reclusa passeando com ela é manchete de capa. Pois ela consegue (...) que Nancy exiba seus 5’5” em outra combinação das que Patrícia só usa em casa. É uma mulher de estatura média para alta, nos padrões americanos, mas na família é a nanica. Josephine não se furta o dever de contar-lhe sobre o que soube da filha...

- Ora, ora, ora! Audrey! Melinda! Venham aqui... Pulem na sua irmã.

- Como?? Cadê a escada?

- Onde fica o elevador? Não tem elevador – exclama Melinda!

Chorando de rir, ela se ajoelha e as meninas pulam nos seus braços (...) a moça se levanta sacudindo as irmãs. As pequenas se acostumaram desde cedo a conviver com estrelas de primeira grandeza (...) autoridades públicas, estrangeiros e gente de sangue azul; fora Ronald, é claro. As meninas vêem todos eles como gente (...) se a pessoa for legal com elas então a conversa pode começar. Infelizmente as queixas de Nancy procedem, elas convivem pouco com a irmã...

- Estou negligenciando vocês, pequerruchas! Logo eu, que amamentei e troquei suas fraldas! Mãe, eu quero levar elas para um dos shows!

- A gente mamou em você?

- Mommy! Estou chocada – Melinda novamente!

- Ela me poupou muitas boas horas de sono, quando vocês abriam o berreiro no meio da madrugada. Não pensem que fui relapsa, vocês mamaram em nós duas. Esta carinha lisa e estes olhinhos com poucas marcas, eu devo à irmã de vocês.

                As gêmeas arrancam risos a cada cinco minutos. Rebeca e Ronald vão à cozinha, ver o que podem preparar para toda aquela gente forrar seus estômagos (...) gritam por Richard e avisam que o macarrão com legumes e carne desfiada não demora a ser servido. O mecânico pede uma porção dupla, já se lavando para ir comer. Patrícia aproveita para ver como andam as irmãs na escolinha (...) depois vai ver o que ela andam lendo. Encontra um almanaque da banda ainda com metade das actividades por preencher, revistas de humor são a maioria. Os brinquedos preferidos delas são de montar, alguns bonecos desmontáveis, tijolinhos de madeira, lego...

- Legal... Mas que gororoba é essa?

- Personalidades – diz Audrey.

- Esta é a nossa.

A estrutura de lego se parece com uma caverna desmoronada, cheia de colunas e pontes, com duas bonecas de papel feitas a mão bem no meio de tudo. Elas parecem ter um gosto arrebatado pelo surrealismo (...) Ela liga para Zigfrida, quer ela e Renata estudando as duas maluquinhas que a mãe tem em casa.

&

Chegam aos estúdios dos bonecos (...) pegam os manipuladores brincando e improvisando, enquanto ensaiam, vendo os bastidores de um dos programas que embalaram suas infâncias. Todo o glamour de sua meninice está lá (...) falando bobagens enquanto não chega a hora de o Dead Train chegar para o ensaio...

- Kermit! Eles não estarão atrasados?

- Deixe eu ver! Não, ainda faltam dez minutos.

- É que a gente gosta de chegar uns minutos antes – diz Patrícia.

- Viu, Piggy, eles gostam de...

Por hábito, os manipuladores se viram e aos bonecos para trás. Patrícia, Enzo, Robert, Renata, Rebeca e Ronald; o Dead Train está lá. As reações espalhafatosas, que custariam férias em camisas de força ao elenco humano, são transmitidas pelos bonecos. O director decide que esta cena acidental vai para o episódio.

Estudam rapidamente mais um vez o roteiro, que tem algumas passagens onde só se lê “Se vira” (...) bonecos passam o tempo todo por eles, fazendo caretas e dando chiliques. De vez em quando as moças dão um afago em alguns e as reações exageradas voltam a acontecer. Quando estão prontos é que a muvuca começa (...) e as gravações sérias realmente acontecem... “Sérias”? Eu disse “sérias”?

A capacidade de improvisação da banda ajuda muito (...) Os intervalos são marcados pelo prazer dos manipuladores de trabalhar com estrelas sem estrelismos, a descontração toma conta dos bastidores. O cinismo típico de Sunshadow engrena perfeitamente com a tradição daqueles bonecos.

Para não quebrar a tradição, em um cenário que imita a praça do trem morto, “Back to Sunshadow” encerra a participação dos seis.

O programa vai ao ar na semana seguinte, com as edições e as tomadas primorosas que dão o tom do The Muppets Show (...) As crianças vibram, vendo suas irmãs aprontando na televisão o que elas aprontam na vida real. Robert e Norma lamentam não poderem dar mais um ou dois pequerruchos aos filhos, se casaram bem maduros e a gestação de Rebeca já representou algum risco à mãe.

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Nancy olha aquilo (...) que parece ser uma máquina de escrever com um televisor acoplado, só que não vê o rolo para colocar o papel...

- Ritchie, o que é isso?

- Bem-vinda ao novo mundo, meu amor. Isto é um computador pessoal.

- Hein? Essa tralha toda é um computador?

- A Patty também está instalando o dela, na biblioteca.

- Desculpe a ignorância, mas... Pra que serve, aqui em casa?

- Controle do orçamento é só uma das utilidades. De agora em diante, poderemos ter uma estatística confiável e actualizada periodicamente de nossas despesas, dos progressos das meninas, do histórico médico, do escolar, enfim, de praticamente tudo. Depois, será só imprimir.

- Deve ter custado uma nota! Como se mexe nisto?

Enquanto a máquina é configurada, ele ensina à esposa (...) Patrícia, cercada pelos parceiros, seus pares e pelo marido, explica a utilidade daquilo para a banda, e que outro está sendo instalado no escritório central (...) Foi apenas uma recomendação, mas todos compraram os seus e Richard os ensinou a usar. Apesar de compactos, cabem com folga em uma VW bus, são muito mais poderosos do que os gigantes (...) cuja compra só se justificava para Estados e grandes corporações. Patrícia termina...

- Pronto! Agora é alimentar.

- Isto come?

- Não, Silvia. É alimentar com dados, com informações. Ele precisa saber o que vai processar. À medida que eu digito essas informações, ele já pode trabalhar com elas. Vamos começar pelas nossas letras.

Estas ela sabe de cor, digita e salva todas com rapidez (...) consegue que ele toque a melodia de cada uma, com um som bastante metálico, como os dos órgãos de brinquedo, mas é uma simulação eficiente e ajudará na hora de compor as músicas. Todos têm, nos dias que se seguem, aulas de informática.

Prefeitura e chefatura de polícia também recebem os seus, o que provoca filas de populares querendo ver os computadores de Sunshadow, sentem-se prestes a serem vizinhos dos Jetsons. As instalações secretas na cidade nova também ganham, mas destes a população não pode nem tomar conhecimento (...) Daniel Stewart passa a brincar com o computador o dia inteiro, vendo, revendo, analisando e estudando as estatísticas, causando ciúmes nos prefeitos das cidades vizinhas. Mais ciúmes ainda são por certa cidadã ir todos os dias levar-lhe o almoço...

- Mas como você gostou desse aparelho!

- É muito útil, mais do que eu podia supor. Consigo fazer várias simulações de orçamentos em um dia, o que normalmente levaria o semestre inteiro.

- O seu almoço, Dan.

- Eh... Laura... Você tem me ajudado muito! Estou até emagrecendo, por comer direito!

Os dois ficam calados por alguns segundos, enquanto ele abre as marmitas. Faz meses que almoçam juntos na prefeitura. Ele espera o almoço terminar, depois uma pausa e...

- O que é isto?

- Laura, you wanna be my first lady?

As alianças esperaram um bocado até ele tomar coragem (...) mas ela sempre demonstrou afeição por si, desde que se prontificou a auxiliá-la, quando se mudou com Silvia para Sunshadow. O sorriso e o entusiasmo são quase uma resposta positiva, que vem em seguida. Meia hora depois, lá está Silvia, para ver quais são as intenções do prefeito (...) casam-se e as duas se mudam para a casa dele no mesmo dia.

Ela não economiza detalhes, conversando com Enzo, da euforia que a mãe sente (...) Não foi o que sonhou quando adolescente, mas está casada. Laura é texana, guarda muito do romantismo matrimonial que seus conterrâneos ainda cultivam, apesar das amarguras que sofreu para criar a filha com alguma dignidade...

- E casou antes da gente!

- Antes da gente! Acho que ainda vai demorar pra ela sair do torpor, está dançando pela casa como se fosse um comercial de margarina dos anos cinqüenta.

- Deixa! Você tinha dito que ela tinha perdido as esperanças de casar, de repente o Daniel coloca as alianças na mesa de refeições e faz a proposta!

Conversam enquanto passeiam no De Soto S11C Custon, com a capota baixa, a velocidade idem (...) Não dão conversa ao modismo de que o casamento é uma instituição falida, sabem muito bem em que péssimos exemplos essas pessoas se apoiam, desdenhando os casos bem sucedidos. A solteirice dos dois está dando suas últimas voltas. Robert e Mikomi já escolheram a casa na cidade nova, faltam Rebeca e Ronald poderem marcar o seu, mas isso já demora mais.

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